A Câmara de Lisboa e a EMEL


A EMEL escolheu fazer agora a sua revolução silenciosa antissocial. Claro que não foi inteligente e até parece um tiro propositado no pé de Fernando Medina…


O poder local é talvez, de todos, aquele que exige maiores qualidades morais, de formação, de educação e informação académica, em áreas ligadas às questões sociais e políticas, além de uma enorme integridade de caráter, como dizia Fidelino de Figueiredo.

Até 2020 tivemos em Fernando Medina, uma pessoa preocupada com os munícipes, por problemas humanos, preocupado com os moradores da cidade de Lisboa, com os grandes problemas de trânsito e parqueamento, que tentou melhorar para benefício daqueles.

Há 40 anos fomos confrontados com um convite, por parte de um político português, que era o ministro-sombra da Educação de um partido político, engenheiro de profissão, para uma Secretaria de Estado do M., e que estava em campanha para a Câmara de Lisboa, que veio a ganhar.

Não conseguimos compreender a recusa de um político a um cargo nacional, que podia ter influenciado, e beneficiado, milhões de portugueses, como ministro da Educação tendo preferido uma dimensão local (Lisboa), como presidente da Câmara de Lisboa, talvez por ser engenheiro.

Não fazemos juízos de valor, mas desistimos da hipótese de colaboração já que o senhor que se seguiu era no estilo de um Hermano Saraiva e por isso não valia a pena.

Com formação académica no campo de questões sociais e políticas, e não só, não entendemos como é possível, em vésperas de eleições autárquicas, Fernando Medina, ter dado um desastrado sinal político e social, contrário a tudo o que, até aqui, tinha apregoado privilegiando e elegendo, como seu programa de política de estacionamento em Lisboa, através da EMEL, muito menos regalias para moradores e assustadores aumentos dos preços do estacionamento com redução impressionante de zonas, que foram divididas por quatro zonas, ou mais, ínfimas, levando ao ponto dos moradores de uma avenida com o nome do único Papa português só poderem estacionar em metade da sua rua.

Além disso transformou zonas até aqui amarelas, em zonas vermelhas, subindo o preço por hora até 3.60 euros, isto em plena pandemia é com certeza um ato voluntário que revela uma grande falta de solidariedade social.

Quer dizer, antes da pandemia, havia solidariedade, agora com dificuldades enormes, na economia dos cidadãos, alguns sem emprego, outros com covid-19, outros com problemas familiares, fruto do teletrabalho, com filhos e netos em casa, por vezes sem espaço físico, agora é que foi a altura ideal que a EMEL escolheu para a sua revolução silenciosa antissocial. Claro que não foi inteligente e até parece um tiro propositado no pé de Medina, que assim afugenta os seus antigos admiradores, como nós, que, com certeza, irão optar por quem prometa inverter esta desgraçada política de estacionamento, para moradores e não só.

Portugal é hoje, o país mais pobre da Europa, mas tem a gasolina mais cara da Europa (imposto sobre combustíveis),e então acaba-se com qualquer “onda verde” de semáforos, colocando-os todos desfasados uns dos outros, para garantir o maior consumo de combustível e, logicamente, mais receita em impostos.

Agora, em plena pandemia.

Será que haverá autarcas a pensar em ajudar as plataformas modernas de táxis, que vão acabar com o estacionamento de carros em Lisboa, por ficar a menos de metade e do preço do dito estacionamento, por hora!? É que governar. É prever e preparar o futuro, é resolver os problemas e aspirações dos cidadãos, sobre tudo, numa altura de crise.

Tudo isto é tão absurdo e estúpido que parece um suicídio político.

É que, desta forma, aos adversários de Medina, basta fazer, e propor o contrário do que ele está a fazer em Lisboa com a EMEL, castigando e desprezando os munícipes de Lisboa.

Esperamos que a resposta seja dada, já que estamos, dizem, em democracia.

NOTA – Não é por acaso que a maior corrupção está no Poder Local, (CM de 17/03/21), sendo Portugal um dos países mais corruptos da Europa Ocidental e da UE (Associação Transparência e Integridade).

Sociólogo

Escreve quinzenalmente