José Sócrates reagiu, à saída do Campus da Justiça, em Lisboa, à decisão instrutória da Operação Marquês, lida, esta sexta-feira, pelo juiz Ivo Rosa.
"Alguma coisa de singular hoje aconteceu aqui. Todas as grandes mentiras da acusação hoje caíram – a acusação da fortuna escondida é uma mentira -, a acusação da corrupção – é mentira -, a acusação de uma ligação com Ricardo Salgado – é completamente mentira", começou por dizer o antigo primeiro-ministro. “Tudo isso ruiu”, acrescentou.
Sobre os crimes pelos quais foi pronunciado, nomeadamente branqueamento de capitais, Sócrates garante que “não é verdade” e que se vai defender. “Não sei se em recurso se em tribunal, mas vou defender-me”, adiantou.
“O juiz Ivo Rosa levanta dúvidas sobre a questão dos empréstimos, chega à conclusão de que há indícios que podem contrariar o que eu digo, mas o que digo é verdade e vou defender-me”, sublinhou.
O ex-primeiro-ministro lançou ainda algumas farpas, referindo que a distribuição do processo “foi manipulada e viciada” para que este ficasse a cargo do juiz Carlos Alexandre.
“Tudo isto é uma gravíssima injustiça”, disse. “A acusação tem uma motivação política, sempre teve uma motivação política que está bem clara numa decisão do juiz: no momento em que o processo Marquês chegou ao Tribunal de Instrução Criminal, a sua distribuição foi manipulada e viciada para que o juiz Carlos Alexandre ficasse com o processo”, atirou.
Para Sócrates prenderam e difamaram “durante sete anos um inocente” e “todos os crimes [de que foi acusado] não existiram” e “eram falsidades”.
O antigo primeiro-ministro destacou ainda que não tem “receio de nada”, apenas das “manipulações”. “O que fizeram no dia 9 de setembro de 2014 foi uma manipulação no tribunal, foi escolhido o juiz que mais convinha ao MP e isso é um escândalo, não foi apenas um crime, foram dois — manipulação e encobrimento”, reiterou, falando numa “viciação do processo”.
“O Ministério Público cometeu um erro gravíssimo, mas não foi um erro, foi uma intenção, eles queriam-me insultar e foi a única motivação que fizeram”, reiterou.
“Todas as grandes mentiras contadas aos portugueses em sete anos, razão pela qual me prenderam, difamaram, são falsas e isso ficou hoje aqui provado”, assegurou.
Já sobre os crimes de falsificação de documento, pelos quais também foi pronunciado, Sócrates alega que não conhece os documentos em questão e que nunca os assinou.
“Não me conformo com isso, acho que não é correto e vou ver com detalhe”, disse.
“A justiça estava errada”, frisou, enaltecendo depois as palavras do juiz Ivo Rosa, inclusive as expressões “fantasiosas, especulações”. Sócrates considera que as acusações “não tinham o mínimo de substância”.
"Houve uma viciação do julgamento logo no início, o juiz nunca foi imparcial nem nunca esteve à altura do cargo do juiz; em segundo lugar, todas as grandes acusações que me fizeram, o juiz demonstrou, com muito detalhe, que eram falsas. O juiz, ao dizer que não há indícios para levar o caso a julgamento na questão da Lena, PT e Vale do Lobo está a dizer que estas acusações nunca deviam ter sido feitas. O Ministério Público queria insultar-me, magoar", acrescentou Sócrates.
Mas o ex-primeiro-ministro não ficou por aqui e deixou ainda críticas aos jornalistas.
“Não acham que deviam fazer uma autoavaliação? Nada disto teria chegado a este ponto se o jornalismo tivesse cumprido o seu dever. Era olhar para tudo o que escreveram e perguntarem-se como puderam dar publicidade a estas alegações sem factos, indícios e provas”, criticou.
Questionado sobre um possível regresso à política, José Sócrates respondeu que “não quer partilhar isso com ninguém”. “Farei esse debate comigo próprio, não é uma coisa que queira partilhar com ninguém”, afirmou.
De realçar que o juiz de instrução ilibou o antigo primeiro-ministro de ir a julgamento responder por crimes de corrupção na Operação Marquês. Ivo Rosa arrasou a acusação do MP durante a leitura da decisão instrutória e só pronunciou o antigo primeiro-ministro de seis crimes, três de branqueamento de capitais e outros três de falsificação de documento.
Dos 189 crimes que constavam na acusação da Operação Marquês, só 17 vão a julgamento, distribuídos por cinco dos 28 arguidos. O procurador do MP Rosário Teixeira anunciou que ia apresentar recurso da decisão para o tribunal da Relação de Lisboa.
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