Moçambique: o terrorismo e a soberania nacional


As imagens que circulam na internet, impossíveis de serem emitidas por estações de televisão, revelam atos de uma barbaridade inaudita.


“A população de Cabo Delgado tem uma grande percentagem de muçulmanos, pacíficos e que aderem à ordem constitucional, mas há pessoas que estão descontentes com a sua situação há bastante tempo. Pegando nesse descontentamento, o Daesh trouxe essa ideia que já era do al-Shabab ‘temos de ocupar este território para a lei islâmica e temos de ganhar alguma coisa com os recursos naturais’”.

Nuno Rogeiro, maio 2020

O norte de Moçambique, concretamente a sua província de Cabo Delgado, onde vivem cerca de dois milhões de pessoas, é alvo, desde outubro de 2017, de ataques sistemáticos, com ocupação de território, por parte de um autodenominado Estado Islâmico da Província da África Central – EI-PAC, caracterizados por atos de puro terrorismo de violência extrema, indiscriminadamente contra a população indefesa.

As imagens que circulam na internet, impossíveis de serem emitidas por estações de televisão, revelam atos de uma barbaridade inaudita, só possível de serem executados por seres humanos sem qualquer vestígio de humanidade.

O último ataque à vila de Palma, que terá permanecido nas mãos dos terroristas durante dez dias foi mais um episódio terrível deste verdadeiro martírio que vive o povo moçambicano desta província.

O Governo moçambicano, usando do direito que lhe assiste de invocar a sua soberania para recusar ajuda externa de forças militares estrangeiras, aceitando, no entanto, apoio logístico, não tem sido capaz de resolver o problema.

Aliás, só há pouco tempo é que Maputo reconheceu que se tratava de uma ameaça terrorista.

Por outro lado, tem recorrido a forças mercenárias sul-africanas e russas para combater os terroristas, o que tem sido criticado pelo principal partido da oposição, a RENAMO, que defende a ajuda internacional.

Portugal vai enviar 60 formadores militares para apoiar o exército moçambicano na luta contra o terrorismo.

O ataque dos terroristas a Palma, para além da crise humanitária que provocou, arrastou uma mais do que previsível crise económica, com o abandono – provisório, para já – por parte da empresa francesa TOTAL do maior investimento estrangeiro em África, a exploração de gás natural, no valor 16 mil milhões de dólares.

Desde 2017, calcula-se que já morreram mais de 2500 pessoas, com mais de meio milhão de desalojados.

Face a este dilema, aguarda-se com alguma expectativa a decisão do Governo moçambicano. Será importante saber a soberania nacional e a recusa de internacionalizar o conflito se vão sobrepor à defesa das populações e ao garante das suas vidas.

 

Jornalista


Moçambique: o terrorismo e a soberania nacional


As imagens que circulam na internet, impossíveis de serem emitidas por estações de televisão, revelam atos de uma barbaridade inaudita.


“A população de Cabo Delgado tem uma grande percentagem de muçulmanos, pacíficos e que aderem à ordem constitucional, mas há pessoas que estão descontentes com a sua situação há bastante tempo. Pegando nesse descontentamento, o Daesh trouxe essa ideia que já era do al-Shabab ‘temos de ocupar este território para a lei islâmica e temos de ganhar alguma coisa com os recursos naturais’”.

Nuno Rogeiro, maio 2020

O norte de Moçambique, concretamente a sua província de Cabo Delgado, onde vivem cerca de dois milhões de pessoas, é alvo, desde outubro de 2017, de ataques sistemáticos, com ocupação de território, por parte de um autodenominado Estado Islâmico da Província da África Central – EI-PAC, caracterizados por atos de puro terrorismo de violência extrema, indiscriminadamente contra a população indefesa.

As imagens que circulam na internet, impossíveis de serem emitidas por estações de televisão, revelam atos de uma barbaridade inaudita, só possível de serem executados por seres humanos sem qualquer vestígio de humanidade.

O último ataque à vila de Palma, que terá permanecido nas mãos dos terroristas durante dez dias foi mais um episódio terrível deste verdadeiro martírio que vive o povo moçambicano desta província.

O Governo moçambicano, usando do direito que lhe assiste de invocar a sua soberania para recusar ajuda externa de forças militares estrangeiras, aceitando, no entanto, apoio logístico, não tem sido capaz de resolver o problema.

Aliás, só há pouco tempo é que Maputo reconheceu que se tratava de uma ameaça terrorista.

Por outro lado, tem recorrido a forças mercenárias sul-africanas e russas para combater os terroristas, o que tem sido criticado pelo principal partido da oposição, a RENAMO, que defende a ajuda internacional.

Portugal vai enviar 60 formadores militares para apoiar o exército moçambicano na luta contra o terrorismo.

O ataque dos terroristas a Palma, para além da crise humanitária que provocou, arrastou uma mais do que previsível crise económica, com o abandono – provisório, para já – por parte da empresa francesa TOTAL do maior investimento estrangeiro em África, a exploração de gás natural, no valor 16 mil milhões de dólares.

Desde 2017, calcula-se que já morreram mais de 2500 pessoas, com mais de meio milhão de desalojados.

Face a este dilema, aguarda-se com alguma expectativa a decisão do Governo moçambicano. Será importante saber a soberania nacional e a recusa de internacionalizar o conflito se vão sobrepor à defesa das populações e ao garante das suas vidas.

 

Jornalista