Romano Benito Floriani Mussolini é nome forte para jogador de futebol. Sobretudo quando ele próprio escolheu ter nas costas da camisola apenas Mussolini. É bisneto do infame Benito Mussolini, Duce de Itália, o grande fomentador do fasciso na Europa e, pelos vistos, não tem vergonha do passado do ditador. Tem 18 anos – nasceu em Roma no dia 27 de janeiro dde 2003 –, atua como ponta direita e joga, inevitavelmente, diria eu, na Lazio. Já explixo, já explico. O jornal Il Messagero, que lhe dedicou um extenso artigo, foi claro quando escreveu: “Un cognome pesante e un accostamento pericoloso. Un luogo comune spesso rigettato dalla gran parte del popolo biancoceleste che nell’equazione ‘laziale e fascista’ non si ritrova”. Era aqui que queria chegar. Desde o tempo de Benito Mussolini que a Lazio ganhou a fama de clube do regime, embora Il Duce fossse adepto do Bolonha e só tivesse verdadeiro interesse no futebol como manifestação política de massas que, por via do fanatismo, estavam dispostas a apoiar o regime. Também é necessário reconhecer que, a despeito de manifestações pró-fascistas levadas a cabo pelas duas claques extremistas do clube, a Ultras Lazio e a Irriducibile, o fenómeno não é um facto socialmente comprovado que envolva toda a instituição.
Filho de Alessandra Mussolini, neta do ditador, atriz e modelo que entrou para a política pela porta do Forza Italia de Silvio Berlusconi e se tornou membro do Parlamento Europeu e, por sua vez, neto do pianista e compositor Romano Mussolini, quarto e mais novo filho de Benito, este jovem Benito Mussolini tem ainda muito a provar no mundo do futebol desde que entrou para as equipas de formação da Roma em 2016. E, diga-se de passagem, os pais tiveram de fazer um requerimento especial à data do seu baptismo já que juntar os nomes Benito e Mussolini na mesma pessoa foi durante muitos anos proibido por lei.
Apolítico. Apesar do tal nome pesado a que se refere o Il Messagero, o jovem Benito Mussolini já veio a público várias vezes declarar o seu total desinteresse pela política. A primeira vez que a Itália ouviu falar nele foi quando surgiu num programa televisivo de entretenimento, Ballando con leStelle, na companhia da mãe. Estudante do St. George’s British School de Roma, não durou muito tempo na Roma, tendo-se transferido para a Lazio que o emprestou ao Vigor Perconti, um clube amador, para ganhar corpo. No início deste ano assinou o seu primeiro contrato como profissional e já se treina com a equipa principal à espera do momento mágico em que o técnico Filippo Inzaghi o faça entrar em campo com a camisola exibindo o nome infame nas costas.
“O nome não é importante”, teimou recentemente, numa entrevista. “Como a política não me interessa, significa o que significa – é o nome da minha família. Depois cada um valoriza como quer”. Palavras serenas para um rapazinho da sua idade. Já a mãe, Alessandra, vai mais longe: “Perguntam-me frequentemente se o meu filho, usando o nome que usa, possa vir a ser um caso de instrumentalização política. Se querem a minha opinião, aqui a têm: não quero saber disso para nada. Quero que seja feliz no que faz. E não me intrometo de forma alguma na vida dele”.
Na equipa Primavera (sub-20) da Lazio, Mussolini tem sido ultimamente utilizado como médio centro mais recuado, contrariando a sua inicial tendência ofensiva. Ou seja, passou do seu posto na direita para uma atuação mais abrangente. Algo que, provavelmente, aborreceria o seu falecido bisavô que preferiria ver o descendente com o mesmo nome do que ele sempre o mais à direita possível. É disso que, para já, Romano não se livra. Das chalaças. É o peso do apelido..