Uma exposição onde são exploradas as várias possibilidades de habitação contemporânea, através de projetos de vários arquitetos que vão desde abrigos de escala reduzida até grandes habitações coletivas, é inaugurada no dia 7 de abril no espaço Garagem Sul, do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
"Em Casa – Projetos para Habitação Contemporânea" é o tema desta exposição, construída a partir da coleção do museu MAXXI, Museu Nacional das Artes do Século XXI, em Roma. Na exposição a proposta é que se viaje pelas diversas possibilidades de casa, que revelam experiências todas elas diferentes, que revelam novos modos de relação entre o indivíduo e a comunidade.
André Tavares, um dos curadores da exposição, em declarações à Lusa durante a visita guiada à imprensa, explicou que “a exposição é interminável, parte do conjunto de Roma, dos diálogos de projetos [de arquitetos italianos, do arquivo de arquitetura do MAXXI]. A uma seleção de exemplos juntaram outros do mundo fora, contemporâneos e históricos. A cada um deles, juntámos exemplos portugueses. É uma desmultiplicação que permite visitas cruzadas, como um puzzle”.
Em que casas habitamos? Como é que os arquitetos de hoje desenham as nossas moradas e como é que as noções de habitação se transformaram no tempo da última geração? Estas são as perguntas que se colocam a esta exposição e as respostas são dadas através de núcleos, compostos por projetos dialogantes de diferentes arquitetos, apresentados em fotografias, plantas, maquetes, desenhos e, em alguns casos, filmes.
Um dos primeiros exemplos da exposição traduz a ideia da casa como refúgio, a construção de abrigos que transformam ambientes inóspitos em lugares sublimes, e que, no caso português, deu origem a um espaço de refúgio coletivo à beira-mar.
“A ideia de refúgio e de casa não passa pelo quarto. A casa é um espaço de construção social em articulação com o coletivo”, explicou à Lusa.
Neste caso, a exposição conta com a colaboração de André Tavares com um trabalho apresentado em fotografias designado de “Steam House”. Uma casa sem quartos, com cozinha e biblioteca, da autoria de Exyzt, construída na Cova do Vapor em 2013, em contraponto com a ‘villa’ Malaparte, em Capri, de Alberto Libera, e com o abrigo Bivacco Fanton, nas Dolomitas, do estúdio de arquitetura Demogo.
A passagem da escala de refúgio para a habitação pública está patente no diálogo entre individual e coletivo, na luta pela habitação em Portugal no pós-25 de abril e nas obras do Serviço Ambulatório de Apoio Local (SAAL), em conjunto com a casa Moriyama, do japonês Ryue Nishizawa, que se transforma num mini-quarteirão de casas isoladas, e com o Bosque Vertical, do italiano Stefano Boeri, uma torre de habitação, que quer ser uma sobreposição de ‘ville’ (vivendas), cada uma com o seu próprio jardim, idealizando a relação entre edifício, casa, céu e vegetação.
Num outro conjunto é possível observar a ‘villa’ presidencial projetada pela dupla romana Monaco e Luccichenti, que consiste num quadrado sobrelevado e vazio no centro. As casas Guna e Solo, da dupla chilena Pezo Von Ellrichshausen que pretendem responder a novas solicitações de como estar no espaço e como habitar as casas, também fazem parte desse segundo conjunto. Contexto em que é apresentada a casa em Oeiras de Pedro Domingos, ocupada pelo vermelho forte que dialoga com a neutralidade branca do exterior e a vegetação que, progressivamente, interage com a construção. “São casas muito inventivas, com cores que normalmente não encontramos nas casas convencionais, são experiências arquitetónicas”, explicou o curador.
Num outro núcleo observa-se o rejuvenescimento da imagem da cidade nos anos de 1930 e 1940, composto pela ‘Palazzina’, de Luigi Moretti, em Roma, e o Bloco Álvares Cabral, de Cassiano Branco, em Lisboa. Projetos que revelam “como a promoção privada e a especulação imobiliária também são fatores de transformação” da cidade quando apoiadas na qualidade da arquitetura.
Ao passar para um outro conjunto arquitetónico, encontram-se exemplos da casa como espaço coletivo, “outras formas de casa que não a casa familiar”, como residências de estudantes, residências para sem-abrigo e residências sénior, onde está integrada a residência estudantil Ca Romanino, do arquiteto Giancarlo de Carlo, o complexo Sugar Hill, do arquiteto David Adjaye, construído no Harlem, em Nova Iorque (para pessoas muito pobres ou sem abrigo), e as Residências Sénior, em Alcácer do Sal, um projeto de Aires Mateus.
A criação deste espaço português partiu do conceito de que “a população é cada vez mais velha e a maneira como habitamos casas quando somos mais velhos é diferente de quando somos mais novos”, tal como destacou André Tavares, assinalando que para essas “residências assistidas”, o arquiteto português criou um grande pátio interior para a comunidade.
“O conjunto mais arquitetónico ou técnico é, talvez, o projeto Casa Baldi, em Roma, do arquiteto Paolo Portoghesi, e a Casa em Adropeixe, Terras de Bouro, de Carlos Castanheira”, contou. Aqui são colocadas “em diálogo a casa de Carlos Castanheira, em madeira, linear e contrastante com a casa de Paolo Portoghesi, que é em pedra e com paredes contínuas e curvas. A forma da casa é dada pela pedra ou pela madeira”, admitiu André Tavares.
A propósito destes dois exemplos, o curador destacou que “há soluções alternativas ao betão armado, que passam pela maneira de habitar e têm um impacto profundo sobre o planeta e o ecossistema”, acrescentando que "a forma de habitar é como a nossa casa nos obriga a habitar de uma maneira ou de outra, e como ao habitar, as nossas casas transformam a cidade e o planeta".
“Em casa. Projetos para habitação contemporânea”, traduz a forma como os arquitetos lidaram e continuam a lidar com os modos de vida em comunidade e tem também curadoria de Sérgio Catumba, Margherita Guccione e Pipo Ciorra. A exposição vai estar disponível até 5 de setembro no espaço Garagem Sul, do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.