Sociedade Histórica celebra protocolo de amizade com a Comunidade Judaica do Porto

Sociedade Histórica celebra protocolo de amizade com a Comunidade Judaica do Porto


Protocolo, assinado na passada terça-feira, 30 de março, um dia antes de se completarem os 200 anos da extinção da Inquisição em Portugal, é um sinal de reconciliação com a História de Portugal.


A Sociedade Histórica da Independência de Portugal e a Comunidade Judaica do Porto celebraram ontem um Protocolo de parceria, amizade e cooperação, com o objetivo de aprofundar o conhecimento da história de Portugal e de ambas as instituições. Passarão então a divulgar, junto dos respetivos membros, as atividades públicas uma da outra e colaborarão na sua difusão.

Enquanto a Sociedade Histórica prossegue fins de educação e cultura, cuidando da defesa da independência e da identidade de Portugal na sua universalidade, a Comunidade Judaica do Porto tem como fins, entre outros, a promoção da história e da cultura judaicas.

No protocolo, a Sociedade Histórica reconhece "a importância da participação das comunidades judaicas na formação e no desenvolvimento da Nação, desde os seus alvores no século XII" e evoca "o simbolismo da proximidade e amizade que se estabeleceu entre D. Afonso Henriques e D. Yahia Ben Yaish, figura de relevo dos primeiros anos de Portugal, que viria a ser o primeiro Rabi-Mor do país, exercendo altas funções de administração do Reino e participando em combates ao lado e ao serviço do seu Rei".

Isabel Lopes, vice-presidente da direção da Comunidade Judaica do Porto, que assinou o protocolo juntamente com o Chefe-Rabino da cidade, Daniel Litvak, diz que "quando o rabbi D. Yahia Ben Yaish combateu ao lado de D. Afonso Henriques, ao serviço do qual terá morrido, por todo o território já se estendiam, desde longa data, comunidades judaicas".

A historiadora e vice-presidente da direcção da Sociedade Histórica, Ana Leal de Faria, que assinou o protocolo juntamente com o presidente, o advogado e ex-político José Ribeiro e Castro, explica que "o primeiro encontro entre delegações está previsto realizar-se no Museu Judaico do Porto, no próximo mês de maio, num dia que pensamos ser de reencontro dos valores da portugalidade."

O protocolo estabelece que se realizará rotativamente um encontro anual, no Palácio da Independência em Lisboa e no Museu Judaico do Porto, que, além de examinar o estado da cooperação bilateral, poderá realizar uma sessão para abordagem de um tema de relevo público e interesse comum.

A comunidade judaica em Portugal

Antes do Édito de Expulsão de D. Manuel no ano de 1496, a comunidade judaica mostrava-se muito relevante no país ao ponto de terem vivido na cidade o Rabi Isaac Aboab, a maior autoridade do mundo judaico da época, e o famoso astrónomo e historiador Abraham Zacuto.

Após largos séculos de afastamento dos judeus, o Porto voltou a ter uma comunidade judaica no final do século XIX, depois de algumas dezenas de judeus alemãos, russos e polacos se instalarem na cidade invicta.

A sua forma legal, deu-se em 1923 por acção do único português da comunidade, o militar de infantaria, capitão Barros Basto, avô de Isabel Lopes, a qual, antes da assinatura do protocolo, ofereceu à Sociedade Histórica um livro escrito por ele, em 1944, intitulado 'Dom Yahia Ben-Yahia', 'O 1.º Rabi-Mor de Portugal', que enaltece a amizade e a cooperação entre aquele Rabi e Dom Afonso Henriques.

Hoje a comunidade judaica do Porto reúne cerca de 500 judeus de trinta origens diferentes e o seu departamento cultural tutela o Museu do Holocausto e o Museu Judaico da cidade.