Até sempre, Vila


Vila era um conversador nato e adorava as qualidades de Portugal – convidou-me várias vezes para participar em almoços com cantares alentejanos mas nunca fui.


A primeira vez que fui ao Vila Lisa já lá vão mais de 30 anos, ainda era um miúdo reguila. Fui com o José António Lima e com o Joaquim Vieira e achei um pouco estranho que não se pudesse escolher o que se queria comer. Mas recordo-me que gostei muito e ainda me lembro que um dos pratos era coelho – que estava genial.

Muitos anos depois, e através do meu amigo Gigi, conheci o Vila, uma figura sui generis, que adorava conversar depois dos outros clientes saírem. Na sua adega, e do Lisa, sentia-se o verdadeiro sabor da gastronomia portuguesa. Sopa de conquilhas, grão de bico com rabo de boi e, para mim, o melhor pernil que comi.

Vila era um conversador nato e adorava as qualidades de Portugal – convidou-me várias vezes para participar em almoços com cantares alentejanos mas nunca fui. Verdadeiro estudioso da gastronomia portuguesa, Vila recebeu os maiores elogios dos melhores críticos gastronómicos: José Quitério e David Lopes Ramos. Com a sua morte, morre um pouco de uma certa forma de viver. Um dos seus amores era a pintura que embelezava a adega. 

Depois de ter ficado sem uma perna, Vila não desistia de tentar levar a mesma vida. Nunca prescindia do seu gin tónico e, mesmo em cadeira de rodas, insistia em combinar um jantar no Snob, em Lisboa, que ele tanto adorava. Também nunca chegámos a fazer esse jantar de despedida do senhor Albino.

Sendo um cozinheiro fantástico, Vila comia muito pouco, pelo menos na fase final da vida. Mas o seu charuto era uma imagem de marca de um homem que ficará na história da gastronomia portuguesa.

Nunca quis ser tratado como chef, sem e, nem tão pouco com e. Era cozinheiro de verdade e os sabores algarvios e do Alentejo sempre estiveram presentes na sua cozinha. Na última entrevista que lhe fiz, com a Mariana Madrinha, Vila já tinha perdido a perna, mas não a boa disposição. Ficámos no restaurante até às duas da manhã e eu tive vontade de me deitar na mesa onde o eterno Tony Soprano se deitou. Mas não cheguei a tanto. Até sempre, Vila. 

 

Até sempre, Vila


Vila era um conversador nato e adorava as qualidades de Portugal – convidou-me várias vezes para participar em almoços com cantares alentejanos mas nunca fui.


A primeira vez que fui ao Vila Lisa já lá vão mais de 30 anos, ainda era um miúdo reguila. Fui com o José António Lima e com o Joaquim Vieira e achei um pouco estranho que não se pudesse escolher o que se queria comer. Mas recordo-me que gostei muito e ainda me lembro que um dos pratos era coelho – que estava genial.

Muitos anos depois, e através do meu amigo Gigi, conheci o Vila, uma figura sui generis, que adorava conversar depois dos outros clientes saírem. Na sua adega, e do Lisa, sentia-se o verdadeiro sabor da gastronomia portuguesa. Sopa de conquilhas, grão de bico com rabo de boi e, para mim, o melhor pernil que comi.

Vila era um conversador nato e adorava as qualidades de Portugal – convidou-me várias vezes para participar em almoços com cantares alentejanos mas nunca fui. Verdadeiro estudioso da gastronomia portuguesa, Vila recebeu os maiores elogios dos melhores críticos gastronómicos: José Quitério e David Lopes Ramos. Com a sua morte, morre um pouco de uma certa forma de viver. Um dos seus amores era a pintura que embelezava a adega. 

Depois de ter ficado sem uma perna, Vila não desistia de tentar levar a mesma vida. Nunca prescindia do seu gin tónico e, mesmo em cadeira de rodas, insistia em combinar um jantar no Snob, em Lisboa, que ele tanto adorava. Também nunca chegámos a fazer esse jantar de despedida do senhor Albino.

Sendo um cozinheiro fantástico, Vila comia muito pouco, pelo menos na fase final da vida. Mas o seu charuto era uma imagem de marca de um homem que ficará na história da gastronomia portuguesa.

Nunca quis ser tratado como chef, sem e, nem tão pouco com e. Era cozinheiro de verdade e os sabores algarvios e do Alentejo sempre estiveram presentes na sua cozinha. Na última entrevista que lhe fiz, com a Mariana Madrinha, Vila já tinha perdido a perna, mas não a boa disposição. Ficámos no restaurante até às duas da manhã e eu tive vontade de me deitar na mesa onde o eterno Tony Soprano se deitou. Mas não cheguei a tanto. Até sempre, Vila.