O que se sabe sobre os World Travel Awards?

O que se sabe sobre os World Travel Awards?


São conhecidas esta terça-feira as nomeações para mais uma edição europeia dos World Travel Awards, a que seguem os prémios mundiais. Vencedores e vice-campeões do ano passado estão automaticamente nomeados, os restantes pagam 583 euros para entrar na corrida aos ‘Óscares do Turismo’. No final, quem ganha tem de pagar se quiser receber diploma e…


Portugal tem somado galardões ano após ano e esta terça-feira são conhecidas as nomeações para a edição europeia dos World Travel Awards (WTA) de 2021. O que se sabe sobre os chamados Óscares do Turismo? Depois das declarações de Elidérico Viegas, fundador e até ontem presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, empresários do setor, que pediram o anonimato, indicaram ao i que estes prémios em particular são negociados ao longo de todo o processo de apuramento. Viegas, que mantém as afirmações e fala de ausência de solidariedade por parte da associação na hora da saída da AHETA, não se referia a prémios em concreto, mas resumiu o sistema numa entrevista ao i: “São eleições feitas por entidades privadas que se regem por princípios económicos, de rentabilidade económica e, como tal, pagamos e ficamos no lugar que queremos.” Questionado ontem pelo i, o Turismo de Portugal indicou que não faz comentários. sobre os prémios.

O site dos World Travel Awards, marca de uma empresa sediada em Londres e que não tem relatórios de atividades públicos, nada refere sobre compra de lugares – que já tinha motivado dúvidas no passado. Apresenta no entanto as ‘fees’ (taxas) a pagar para se ser nomeado, o custo dos troféus e preços especiais para os vencedores publicarem artigos num site de notícias do meio. 

Como se é nomeado Nas edições regionais, como é o caso da europeia, os participantes pagam para se inscrever como nomeados, podendo ser aceites ou vetados. Depois, são eleitos por votação, em que qualquer pessoa pode participar, basta registar-se no site dos prémios. Votos de profissionais do ramo valem por dois.

São os vencedores das competições europeias que passam para os galardões a nível mundial, que Portugal também tem vindo a arrecadar. Aqui, o voto é mais uma vez aberto ao público e promovido pelos nomeados, mas não é divulgada uma contabilidade dos votos rececionados em cada edição nem existe uma supervisão pública do processo. Os WTA, lê-se no site, reservam-se ao direito de aceitar os votos e a empresa garante que são “internamente auditados para assegurar a validade de cada voto individual”.

Quando se diz então que Portugal conquistou x nomeações, uma parte terá sido custeada pelas entidades em causa. No site dos World Travel Awards pode ler-se que os vencedores do ano anterior em cada categoria e dois vice-campeões ficam automaticamente nomeados, mas os restantes têm de pagar a inscrição.

Portugal, que tem somado vitórias, vai somando assim ano após ano mais nomeações automáticas. Na edição de 2021, de que deverão ser conhecidas esta terça-feira as short-list de nomeados, já há assim uma centena de nomeações à partida, entre as entidades, empresas e autarquias que no ano passado arrecadaram os Óscares europeus do turismo ou ficaram no pódio.

São 101 nomeações à partida nas diferentes categorias da competição europeia dos World Travel Awards, que não param também de aumentar. A TAP, por exemplo, está automaticamente nomeada em seis categorias, incluindo melhor linha aérea da Europa (título que no ano passado foi ganho pela Lufthansa), melhor classe executiva e melhor classe económica (não está nomeada automaticamente na categoria de primeira classe). É ainda nomeada na categoria de melhor companhia europeia com voos para a África e América do Sul, os títulos que arrecadou no ano passado e a UP, que também venceu no ano passado, volta a estar nomeada para melhor revista de bordo.

Portugal volta a estar nomeado como melhor destino europeu, prémio que arrecada há quatro anos consecutivos. E o mesmo acontece com outras entradas. Por exemplo, no ano passado os Passadiços do Paiva foram a melhor atração turística de aventura e voltam a estar automaticamente nomeados nesta categoria. Entre os vice-campeões nesta categoria aparecem ainda as portuguesas Fragas de São Simão, no concelho de Figueiró dos Vinhos, que este ano também não tiveram de pagar para se inscrever.

Os Açores, que no ano passado foram o melhor destino de aventura da Europa, voltam a estar nomeados. 
Itália e Portugal como um todo também estão automaticamente nomeados nesta categoria. O Algarve volta a estar nomeado como melhor destino balnear, Lisboa como melhor destino urbano (e Lisboa e Porto na categoria de city-break) e o Turismo de Lisboa como melhor agência. Às nomeações mais institucionais juntam-se as de hotéis e aqui Portugal também tem vários automaticamente na corrida, repescados dos vencedores do ano passado. 

Em 2005, o primeiro ano em que estão disponíveis os arquivos dos World Travel Awards, criados em 1993, Portugal contava apenas com duas nomeações na lista e precisamente de unidades hoteleiras: Hotel Palácio Estorial e o Pine Cliffs Resort, no Algarve. Em 2007 a TAP entrou pela primeira vez na corrida, ano em que se inscreveram mais hotéis e até um parque aquático. Nesse ano, o Hotel Quinta da Bela Vista, na Madeira, ganhou pela primeira vez um Óscar do Turismo dos WTA europeus. Em 2008, foi a vez do Turismo de Portugal conquistar pela primeira vez o título de Melhor Organismo Oficial de Turismo da Europa, ‘óscar’ que voltaria a ganhar em 2014, 2015, 2016, 2018, 2019. 

Quem não ganha ou fica perto disso na edição do ano anterior paga 399 libras no caso dos prémios nacionais, “selos de qualidade” que também são atribuídos pelos WTA e 499 libras (583 euros) no caso desta competição europeia. Esta inscrição dá direito a banners para os sites e botões para promover e facilitar a votação, um “Digital Nominee Pack” que a empresa refere no seu website ter um valor de 299 libras. 

Dezenas de milhares de euros de investimento No ano passado Portugal somou cerca de 140 nomeações, o que se 70 tiverem sido automáticas – essa análise não é possível retrospetivamente – significa um investimento de 40 mil euros por parte das empresas para entrar na corrida aos Óscares europeus, começando então a granjear os votos. Na edição de 2020, segundo os WTA, os prémios resultaram de cerca de 2 milhões de votos individuais. Portugal conseguiu 26 ‘óscares’ nas diferentes categorias. 

O i procurou perceber junto da World Media And Events Limited, a empresa que promove os WTA, qual o investimento de entidades portuguesas nos prémios ao longo dos últimos anos mas não foi possível ter resposta. Quanto ao processo de votação, que empresários dizem ser negociado, não existe uma análise dos votos auferidos por cada participante. O site dos WTA mostra no entanto que para receber os respetivos troféus e diplomas, para expor nas paredes ou nos halls dos hotéis premiados, há custos adicionais e oferecem também a possibilidade de comprar um artigo numa revista do meio ou um vídeo profissional de promoção que tire proveito do prémio.

Por 400 libras (467 euros) os vencedores podem adquirir o “Digital Winner Pack”, que inclui o certificado de vitória que pode ser “impresso, emoldurado e exposto” e por 650 libras (760 euros) o troféu de 2,4 quilos com um globo, a imagem marca dos prémios, para exibir em “recepções de hotéis, escritórios e expositores de troféus”, sugere-se. Aos vencedores são oferecidos preços especiais na compra de anúncios na revista Best in Travel e até artigos para “celebrar a conquista com figuras centrais da indústria e influencers de todo o globo”. Mil libras custa um artigo especial no site breakingtravelnews.com.