Vacinação em Carnaxide. Entre a espera e a esperança, há mais idosos vacinados

Vacinação em Carnaxide. Entre a espera e a esperança, há mais idosos vacinados


Um erro informático levou à concentração de 400 pessoas, no Pavilhão Carlos Queiroz. Apesar da situação provocada por um erro técnico, a confiança na ciência não se perdeu.


À entrada do Pavilhão Carlos Queiroz, em Carnaxide, encostado a um corrimão, José Manuel observava o congestionamento nas filas para a vacinação contra a covid-19. “Sou reformado, passo por aqui todos os dias e fiquei admirado por ver tanta gente”, diz, aos 71 anos, não estando incluído na primeira fase da vacinação.

“Aquilo que se passou aqui é que quem convocou as pessoas, fê-lo duas vezes. Por isso é que isto aconteceu, porque, habitualmente, a fila não aumenta para lá da rampa”, explica, apontando para o local em que os utentes se alinham para ter acesso ao centro de vacinação do município de Oeiras.

O idoso refere-se ao facto de, nesta quarta-feira, o sistema informático que faz o agendamento das marcações em Carnaxide ter convocado 400 pessoas para receberem a vacina à mesma hora, situação que conduziu à formação de uma fila de grandes dimensões e que foi cuidadosamente escrutinada pela PSP e pela Proteção Civil.

“Fizeram porcaria, mas não tenho medo de que isto aconteça quando chegar a minha vez”, remata José Manuel, entre risos, voltando-se para Leonida, cuja mãe de 90 anos, que padece de Alzheimer, havia sido vacinada no dia anterior. “Correu tudo bem com ela. Só teve dores no braço que passaram com Ben-u-ron e fiz-lhe massagens. Mas quis vir aqui ver aquilo que se passava”, explica a cuidadora informal.

A alguns metros, sentado num banco e com um pequeno papel branco – com a hora 13h29 inscrita – preso ao peito, encontrava-se António Santos, de 85 anos. À espera que a mulher, de 84, que fora vacinada ao mesmo tempo, regressasse com a neta para o virem buscar, afirma que “devia ter sido vacinado às 12h”, tendo esperado uma hora e meia devido ao erro técnico.

“Acho que houve uma boa organização, o problema foi o ajuntamento de pessoas”, constata, enquanto espreita o conteúdo do saco de papel pardo oferecido pela Câmara aos utentes. “Um queque e um sumo, não está nada mal”, diz com boa disposição.

De facto, em comunicado enviado às redações, o município de Oeiras clarificou que “assim que alertado para a ocorrência, providenciou de imediato todo o apoio logístico necessário para minimizar o impacto para os utentes”, adicionando que ”em poucos minutos chegaram ao local mais elementos da Proteção Civil de Oeiras e outros voluntários para dar assistência aos idosos, abriu-se um novo espaço de espera com mais 200 cadeiras, toldos para os proteger do sol e foram distribuídos lanches”.

No mesmo documento, é igualmente possível ler que “o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, deslocou-se de imediato ao local para se inteirar da real situação e confirmar que tudo estava a ser assegurado para o bem-estar dos utentes”, sendo que “o município de Oeiras continua disponível para todo e qualquer apoio logístico ao Serviço Nacional de Saúde”.

“Isto é quase um encontro” A acompanhar a evolução da vacinação estava Fernando Tomás, de 51 anos, preocupado com o tempo que os pais, de 83 e 86 anos, demoravam a voltar até si e dada a falta de distanciamento social. “Isto é quase um encontro. A distância de segurança não é de meio metro como aquela que se verifica aqui. Bastava colocar filas de trânsito para separar as pessoas”, sugere, adicionando que “assim, o risco de contágio seria muito menor”, na medida em que “a maioria das pessoas vem acompanhada de filhos, netos, cuidadores e o número de infetados pode aumentar”.

“Isto está informatizado e já podiam ter tudo bem organizado. Nem que ocorresse, por exemplo, uma convocatória por ordem alfabética ou por ano de nascimento em editais das juntas de freguesia”, adianta, garantindo, porém, que acredita no poder da ciência e anseia pela sua inoculação.

“Só penso que falar em percentagens de eficácia das vacinas para um público envelhecido que, muitas das vezes, percebe pouco ou quase nada de números e de medicina, não é propriamente a forma de comunicação mais eficaz”, diz com assertividade, não deixando de prever, no entanto, que “é esta a forma de fazer as coisas atualmente e até serve de treino, porque teremos mais pandemias”, declara, temendo o surgimento de mais estirpes do novo coronavírus.

“Por exemplo, tivemos a gripe espanhola em 1918, mas quem é que se lembra disso?”, questiona. “Vamos sobrevivendo, as gerações renovam-se, os anos passam e esquecemo-nos daquilo que fica para trás”, frisa.

Enquanto o homem esperava, a subir a rampa, à saída do centro, de braço dado com o neto Fernando, vinha Margarida, de 84 anos. “Correu tudo bem, graças a Deus”, afiança, lembrando que foi convocada ontem para a vacinação. “Faço 85 anos em julho, por isso, quero tudo aquilo que seja bom para mim”, explicita, tendo acabado de se juntar ao quase meio milhão de portugueses que já receberam a primeira dose da vacina e, mais especificamente, aos 61% – 415.341 – idosos com mais de 80 anos que já o fizeram também, de acordo com o relatório de vacinação contra a covid-19 da Direção-Geral da Saúde (DGS), que data de terça-feira.

Segundo este mesmo documento, o número de cidadãos inoculados com a primeira administração era de 942.825 até 21 de março, cerca de 9% da população.

Depois da faixa etária com idades superiores a 80 anos, está o grupo etário dos 50 aos 64 anos com 10% – manteve a mesma percentagem do último relatório –, as duas faixas etárias dos 65 aos 79 e dos 25 aos 49 que estão com a mesma percentagem – 6% – e a dos 18 aos 24 com 2%. Por fim, está a faixa etária dos 0 aos 17 anos com 243 pessoas vacinadas – mais 20 pessoas –, continuando a corresponder a menos de 1% do total de vacinados com a primeira inoculação.

Por outro lado, na última semana, mais 107.681 pessoas concluíram a vacinação, elevando o total para 471.204, cerca de 5% da população em Portugal.

Em relação aos portugueses com a vacinação completa, 30% (205.399) das pessoas com mais de 80 anos já está vacinado contra o novo coronavírus. Após uma semana, as faixas etárias dos 50 aos 64 e dos 25 aos 49 anos continuam com a mesma percentagem – 4%. Segue-se o grupo etário dos 65 aos 79 anos com 3%, dos 18 aos 24 anos com 1% e dos 0 aos 17 anos com menos de 1%.

O relatório também mostra que, até domingo, o Norte era a região do país com o maior número de pessoas vacinadas: 449.858 desde 27 de dezembro, 68.257 dos quais na última semana. Segue-se Lisboa e Vale do Tejo com 440.279 (+53.221 na última semana), o Centro com 310.964 (+39.894), o Alentejo com 97.249 (+11.297) e o Algarve com 51.051 (+5.621).

No entanto, em termos percentuais, o Alentejo continua a liderar e é a região com a maior percentagem de pessoas vacinadas, seja com a primeira dose seja com duas – 14% e 7%, respetivamente. De seguida, está o Centro com 13% (primeira dose) e 7% (vacinação completa), Lisboa e Vale do Tejo e Norte têm as percentagens iguais – 8% e 4% –, e o Algarve, que conseguiu chegar ao mesmo patamar de Lisboa e Vale do Tejo e Norte em relação à percentagem de pessoas com a primeira dose (8%), já com a vacinação completa tem 3%.

No total, Portugal recebeu 1.713.540 vacinas, tendo sido distribuídas pelos postos de vacinação do país 1.462.079 doses.