1. O desnorte governativo é profundo e começa a ser perigoso, o que tende a provar que a pandemia causa sérios danos comportamentais. Vivemos no meio de lapsos, colapsos organizacionais e irresponsabilidades políticas e materiais que prejudicam os portugueses. Diariamente somos surpreendidos por coisas impensáveis. Pedro Nuno Santos é um perigo à solta e está a rebentar com a TAP, com a Groundforce, com a CP e com o PS. O ministro Cabrita quer eleições em dois fins de semana seguidos, o que possibilitaria que alguém chafurdasse nas urnas. Ainda lúcido, Costa desautorizou-o. Em contrapartida alinhou com os ministros do Ambiente e das Finanças por acharem normal que uma empresa chinesa fornecedora de eletricidade se furte ao pagamento de 100 milhões de impostos. É mais um dos milhares de casos que está na procuradoria a ser investigado, supostamente há meses. Mas investiga-se quem? A EDP? Os ministros? A Autoridade Tributária que está sob forte suspeita? Se é esta última, então é preciso suspender preventivamente quem deu cobertura à operação, sob pena da coisa se repetir noutros casos. Uma coisa é certa: já se sabe que a alteração à lei que permitiu a alegada marosca passou no Parlamento e no Governo, que até foi informado diligentemente pela EDP. Parece um fato à medida. A EDP poupou 100 milhões. Saiu-lhe o ‘’jackpot’’ do Euromilhões. Teve sorte na aposta.
2. Quinta-feira passada foi levantada a suspensão da vacinação com a AstraZeneca. O mesmo aconteceu em muitos outros países que retomaram logo o processo na sexta-feira. Outros ainda, mais sabiamente, nunca o interromperam. Pensaram por si. Cá, esperou-se, entretanto, por segunda-feira para retomar a indolente vacinação. Apetece estar mais uns dias em casa a jiboiar. Para nossa vergonha, soube-se que, em Inglaterra, se vacinaram mais de 823 mil pessoas no sábado! Nós, ainda não chegámos aos 350 mil! Alguém anda a gerir mal. Deve ser a mesma pessoa que decide quem é prioritário. Num país de corporações via-se logo que o processo ia dar raia. Os professores, que raramente passam dos sessenta anos, serão vacinados em massa como prioritários. Vai daí os docentes universitários reclamaram e também passaram a ser. Em Inglaterra os prioritários estavam definidos de forma simples: pessoal de saúde, de contacto com doentes e depois a idade. Cá até chamaram por engano os que padecem de apneia do sono. Falando em confusão, reapareceu a ministra Van Dunen. Veio justificar que vai ser difícil investigar o caso dos fura filas das vacinas, que está a ser tratado pela eficiente procuradoria. É mais um pontapé na suposta separação de poderes. Foi pena não ter comentado o método usado num tribunal de Beja em que se tirou à sorte quais os 3 prioritários (estavam inscritos 18) que foram vacinados. Lindo!
3. As eleições autárquicas agitam as águas políticas por todo o lado, com questões substanciais e sobretudo as habituais manobras de bastidores e vendetas político-pessoais. A questão das datas foi chão que deu uvas. Tudo indica que serão mesmo em setembro/outubro. Em Lisboa, decorrem negociações entre o CDS e o PSD para acertar as listas. Chicão pôs-se em bicos de pés e reclama a presidência em cinco freguesias, quando não tem rigorosamente nenhuma. Os centristas argumentam com o “resultadão” de Assunção Cristas e a derrota humilhante de Leal Coelho há quatro anos. Circulam informações de que Rio estará recetivo a ceder-lhes três freguesias, precisamente aquelas onde há mais passistas e outras figuras que deixaram de apoiar a atual liderança. Matava dois coelhos com uma cajadada. Carlos Moedas vai ter de gerir o assunto com pinças, para não correr o risco de lhe faltarem apoios no terreno como Teresa Leal Coelho. Ora, uma a estratégia de campanha com grande mobilização é essencial a Moedas, porque Medina controla tudo na câmara. Moedas tarda em ter um programa e não diverge em questões essenciais do atual presidente. É mais um adepto da cidade para ciclistas, ‘’trotinetistas’’, ‘’uberistas’’, taxistas, em detrimento dos simples pedestres e dos automobilistas que tudo pagam. Ontem ocorreu-lhe criar um organismo para lutar na cidade contra futuras eventuais pandemias. Faz imensa falta, porque se sabe que os vírus são muito rigorosos e não transitam de municípios.
4. No Porto, o candidato social-democrata é Vladimiro Feliz, pessoa de total confiança de Rui Rio de quem foi número dois na Câmara. É tido por competente. Tem um contra: ninguém o conhece! E assim Rui Moreira soma e segue e vai alargando o seu campo de recrutamento, com a adesão da Iniciativa Liberal. Em Gaia o candidato é António Oliveira. Foi um ícone do nosso futebol, onde se fez homem e desenvolveu negócios (Olivedesportos) que o tornaram rico. Depois disso virou-se para a construção civil e o investimento imobiliário. É comentador da RTP afeto ao FC Porto, do qual é grande acionista individual. Não é, todavia, um fanático de Pinto da Costa, do qual é apontado como potencial sucessor. Tem o mérito de ter obtido formação superior e de ter sido treinador de seleção nacional, com boas prestações. Rui Rio manteve longas horas de conversa com ele para o convencer. O líder social-democrata sempre se mostrou hostil em misturar política e futebol. Maquiavel dizia que os fins justificam os meios. É o caso. Quando se abdica de proclamações de princípio usadas durante anos, é porque se vende a alma ao diabo ou porque se acha que estávamos enganados. Uma das duas coisas tem de ser. O momento porque se espera, agora, é a forma como Rio explicará a cambalhota.
5. No futebol vivemos momentos raros e refrescantes. O Sporting vai de vento em popa, joga bem e já pensa encomendar as faixas de campeão. Usa jogadores novos, vindos da formação e tem um treinador de excelência e fluente a falar. No Benfica, Jorge Jesus está igual a si próprio. Explica-se mal e não ganha. Sérgio Conceição, esse, agrava o seu caso semanalmente. É mau perdedor, agressivo e ofensivo em todos os sentidos. E tem um recorde imbatível. Já foi expulso 18 vezes do banco! Como é possível? Havia de ser em Inglaterra, na Alemanha ou em provas da UEFA ou da FIFA.
Escreve à quarta-feira