Groundforce. Neto Leite negoceia com Governo nas costas de Casimiro

Groundforce. Neto Leite negoceia com Governo nas costas de Casimiro


O diretor executivo da Groundforce avança com disponibilidade para ficar com posição da Pasogal na empresa de handling. O divórcio com Casimiro deu-se com travão nos dividendos na Primavera de 2020.


Paulo Neto Leite, CEO da Groundforce, é um dos ‘privados’ que, nas últimas semanas “se manifestaram disponíveis para acompanhar a TAP na Groundforce” substituindo o atual acionista maioritário, Alfredo Casimiro (que detém 50,1% da empresa através da Pasogal SGPS, S.A, enquanto a TAP SGPS é dona de 49,9%). A TAP confirmou ao i na semana passada que as negociações estavam a envolver privados, sem contudo os identificar. Ao que o i apurou, o diretor executivo da Groundforce e um dos braços direitos de Alfredo Casimiro nos últimos anos é um dos nomes envolvidos.

Tal como o jornal Nascer do SOL divulgou esta semana, Governo e TAP não contam com o acionista privado Alfredo Casimiro para uma solução de médio-longo prazo na Groundforce. E nem o acordo de emergência, assinado na última sexta-feira entre Governo, TAP e Pasogal, que permite pagar os salários e impostos de fevereiro e março, veio alterar essa posição.

O i sabe que o gabinete do ministro Pedro Nuno Santos tem na sua posse uma lista com nomes de vários interessados e tem trabalhado com vista a selecionar um novo parceiro privado. Fonte próxima do processo confirmou que “negociações com um player para substituir a Pasogal já estão mesmo muito avançadas”. Resta agora confirmar se esse privado se trata de Paulo Neto Leite ou outra entidade.

Perante estes desenvolvimentos, o nosso jornal contactou Paulo Neto Leite que, no entanto, não quis prestar declarações “nesta altura”. Também Alfredo Casimiro não quis fazer quaisquer comentários face a este cenário, mas o i sabe que o líder da Pasogal e presidente da Groundforce está “muito surpreendido” com esta informação e “encara como uma traição” a posição do gestor contratado por si em 2017.

Leite Neto tenta MBO A estratégia de Paulo Neto Leite passa pela aquisição da participação de Alfredo Casimiro na empresa através de um management buyout (MBO) – uma operação de compra onde o quadro diretor adquire o capital da empresa e assume a sua gestão – que poderá até contar com a participação dos trabalhadores (que passariam a ter uma posição acionistas como, aliás, acontece na TAP).

O atual diretor executivo da Groundforce estará a “jogar” com tempo. O gestor conta que o Montepio penhore as ações da Pasogal que Alfredo Casimiro entregou como garantia (penhor) para obter um empréstimo de cerca de três milhões de euros que, em 2012, utilizou para adquirir os 50,1% que detém na Groundforce. E espera que o processo se possa concretizar nas próximas duas semanas.

Divórcio na primavera O divórcio entre Alfredo Casimiro e Paulo Neto Leite começou a desenhar-se há quase um ano, mais precisamente na primavera de 2020. Em causa esteve a decisão do presidente de Groundforce de travar o pagamento de dividendos referentes a 2019. Nesse ano, a empresa de gestão de bagagens teve lucros de 6,1 milhões. Fechadas das contas, os prémios deveriam ser distribuídos por acionistas, administração e trabalhadores. E Neto Leite teria direito a cerca de 300 mil euros.

Mas com a chegada da pandemia, veio a interrupção da atividade no setor da aviação. E Alfredo Casimiro decidiu travar o pagamento dos dividendos, uma vez que considerava que “não faria sentido pagar prémios, quando a empresa precisava de apoio do Estado português para superar as dificuldades”, explicou na altura. Neto Leite não aceitou a decisão e, a partir deste ponto, virou costas ao próprio patrão.

Reduzir custos O braço-de-ferro entre Governo, TAP e Pasogal surge na sequência do plano de reestruturação da TAP, que permitirá ao Estado português auxiliar a companhia aérea no âmbito da pandemia. O plano continua nas mãos da Direção-Geral da Concorrência (DG Comp) da Comissão Europeia, mas, para ser aprovado – o que até poderá acontecer durante o primeiro semestre –, o Grupo TAP tem de reduzir custos, incluindo com a Groundforce. “O nosso plano é muito duro, muito exigente. Todo o grupo TAP tem de ser mais eficiente e produtivo. O custo em todas as áreas tem de baixar, nos serviços em termos de handling, isso também está contemplado”, confirmou, na passada quinta-feira, na Assembleia da República, o presidente do Conselho de Administração da TAP Miguel Frasquilho.

Todavia, o contrato de prestação de serviços entre TAP e Groundforce só termina em julho de 2022 mas Governo e TAP não podem esperar. A mudança tem de ser feita agora.

Privado como solução O Estado está, porém, impedido de recorrer ao mesmo expediente utilizado no Grupo TAP (e na Efacec), pois, de acordo com as regras comunitárias, desde 1999, a principal companhia que opera num aeroporto não pode ser proprietária da empresa de handling que opera nesse mesmo aeroporto – precisamente a relação entre as partes.

A TAP até poderá ficar na posse da maioria de capital da Groundforce mas somente em regime de emergência e exceção, e por um período transitório. E é por isso que a solução, neste caso, passa sempre pela introdução de outro privado.

As manifestações das últimas semanas têm, aliás, revelado que sindicatos e trabalhadores estão alinhados com as intenções do Governo e da TAP. Ao i, Fernando Henriques, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava), é perentório: “Alfredo Casimiro não é uma solução de futuro e estará de saída [da Groundforce] de uma forma ou de outra. É esta, aliás, a perceção de todo o país. Há esta solução imediata para que sejam pagos os salários de fevereiro e março e os impostos de março, mas que não vem resolver a situação acionista. Sabemos que Governo e TAP estão a trabalhar numa solução de futuro e que passará sempre pela saída do atual acionista maioritário”.