Anne Lakaton e Jean-Philippe Lassal são os campeões da “reciclagem” de construções. Para este casal de arquitetos franceses, nada se perde, tudo se transforma. E foi seguindo esta regra de ouro que conquistaram o prémio máximo da disciplina, o Pritzker, entrando para um panteão onde figuram nomes como Philip Johnson, I. M. Pei, Oscar Niemeyer, Frank Gehry, Siza Vieira, Tadao Ando e Zaha Hadid.
“Através das suas ideias, abordagem à profissão, e dos edifícios daí resultantes, mostraram que o compromisso com uma arquitetura de restauro que é ao mesmo tempo tecnológica, inovadora e atenta à ecologia pode ser perseguido sem nostalgia”, disse o júri do prémio. “Não apenas definiram uma abordagem arquitetural que renova o legado do modernismo, como também propuseram uma definição ajustada do próprio exercício da profissão do arquiteto. As esperanças e sonhos modernistas de melhorar as vidas de muitos ganham um novo vigor através da sua obra, que responde às emergências climáticas e ecológicas do nosso tempo, bem como às urgências sociais, em particular no domínio da habitação urbana”, continua o comunicado. “E conseguem isto através dum poderoso sentido do espaço e dos materiais que cria uma arquitetura tão forte nas suas formas como nas suas convicções, tão transparente na sua estética como na sua ética”, remata.
Num dos seus projetos mais emblemáticos, Lakaton e Lassal mudaram por completo o rosto de três blocos de habitação social em Bordéus. A aparência maciça da arquitetura modernista de inícios da década de 1960 deu lugar a grandes superfícies envidraçadas de varandas e jardins de inverno que aligeiraram as fachadas, melhoraram a eficiência energética e permitiram melhorar a qualidade de vida dos residentes oferecendo-lhes mais luz e mais espaço. Para isso, os grandes blocos de betão não precisaram sequer de ser beliscados.
“A demolição é a solução mais fácil, mas também é um desperdício de energia, materiais e história e um ato de violência. A transformação é fazer mais e melhor com o que existe”, defende o casal. Princípios de economia e de boa gestão dos recursos que Anne Lakaton e Jean-Philippe Lassal assimilaram no Níger, onde trabalharam no início das suas carreiras, depois de se licenciarem em Bordéus. Os projetos que resultam dessa filosofia não são certamente tão espetaculares quanto os dos starchitects – tome-se como exemplo o Oculus, o grande terminal de transportes desenhado por Calatrava em Manhattan, que custou quatro mil milhões de dólares. Mas possuem outras virtudes. O chileno Alejandro Aravena, presidente do júri do Pritzker, chamou-lhes “radicais na sua delicadeza e ousados na sua subtileza”.