Num Anglia à solta…


 Guiar um Anglia Fascinante por uma estrada com lombas, rodeada de pinheiros e de oliveiras, com vacas repousando nas bermas e uma cegonha pousada em cada poste de eletricidade, é uma metáfora. Metáfora de liberdade.


Eu diria que, de Alcácer À comporta a estrada é tenra. Quero dizer: tem muitas lombas. E o Mário Henrique Leiria já dizia, no seu tempo, que a lomba é a parte mais tenra da estrada. Guiar um Anglia Fascinante por uma estrada com lombas, rodeada de pinheiros e de oliveiras, com vacas repousando nas bermas e uma cegonha pousada em cada poste de eletricidade, é uma metáfora. Metáfora de liberdade. Nem sempre os Anglias, com o seu feitio inglês, obedecem à vontade do dono. Eu e o meu primo Pedro, lá por meados de 1980, tivemos um Anglia com tamanha personalidade que, de vez em quando, por mais força que fizéssemos para o contrariar nas voltas do volante, começava a derivar para a esquerda como se tivesse uma vela no tecto, aproveitando o vento. Cavalo à solta pelas margens das estradas por onde viajou durante a sua vida atribulada de mecânico em mecânico até à destruição final de que foi alvo por um bando de desrespeitosos energúmenos que o destruíram por completo em vez de o deixarem embrulhado à porta do Museu de Arte Antiga. A 60 quilómetros por hora passo o Nonte Novo, o Montevil e o Montalvo. O meu querido amigo Fernando Tordo cantaria, se viajasse sentado a meu lado, e aqui continuo à espera que ele arribe para poder aparecer por estas bandas do Sado: “Minha ousadia, meu galope, minha rédia/Meu potro doido, minha chama/Minha réstia de luz intensa, de voz aberta/Minha denúncia do que pensa/

Do que sente a gente certa…” Impacientes, os que conduzem atrás de mim aceleram mal veem o espaço aberto do lado esquerdo. Têm pressa para alguma coisa, mas não para viver, com certeza. Há no ar uma esperança que a Liberdade volte a florir em Abril e Portugal possa sair à rua com a coragem de correr contra a ternura. As palavras calam aquilo que as cicatrizes falam. Guio sozinho no meu silêncio ouvindo o ronronar do motor antigo. Afinal, o silêncio transformou-se no meu companheiro de todos os dias. E não há nenhum lugar onde eu possa ir mais longe do que o comprimento de um silêncio.


Num Anglia à solta…


 Guiar um Anglia Fascinante por uma estrada com lombas, rodeada de pinheiros e de oliveiras, com vacas repousando nas bermas e uma cegonha pousada em cada poste de eletricidade, é uma metáfora. Metáfora de liberdade.


Eu diria que, de Alcácer À comporta a estrada é tenra. Quero dizer: tem muitas lombas. E o Mário Henrique Leiria já dizia, no seu tempo, que a lomba é a parte mais tenra da estrada. Guiar um Anglia Fascinante por uma estrada com lombas, rodeada de pinheiros e de oliveiras, com vacas repousando nas bermas e uma cegonha pousada em cada poste de eletricidade, é uma metáfora. Metáfora de liberdade. Nem sempre os Anglias, com o seu feitio inglês, obedecem à vontade do dono. Eu e o meu primo Pedro, lá por meados de 1980, tivemos um Anglia com tamanha personalidade que, de vez em quando, por mais força que fizéssemos para o contrariar nas voltas do volante, começava a derivar para a esquerda como se tivesse uma vela no tecto, aproveitando o vento. Cavalo à solta pelas margens das estradas por onde viajou durante a sua vida atribulada de mecânico em mecânico até à destruição final de que foi alvo por um bando de desrespeitosos energúmenos que o destruíram por completo em vez de o deixarem embrulhado à porta do Museu de Arte Antiga. A 60 quilómetros por hora passo o Nonte Novo, o Montevil e o Montalvo. O meu querido amigo Fernando Tordo cantaria, se viajasse sentado a meu lado, e aqui continuo à espera que ele arribe para poder aparecer por estas bandas do Sado: “Minha ousadia, meu galope, minha rédia/Meu potro doido, minha chama/Minha réstia de luz intensa, de voz aberta/Minha denúncia do que pensa/

Do que sente a gente certa…” Impacientes, os que conduzem atrás de mim aceleram mal veem o espaço aberto do lado esquerdo. Têm pressa para alguma coisa, mas não para viver, com certeza. Há no ar uma esperança que a Liberdade volte a florir em Abril e Portugal possa sair à rua com a coragem de correr contra a ternura. As palavras calam aquilo que as cicatrizes falam. Guio sozinho no meu silêncio ouvindo o ronronar do motor antigo. Afinal, o silêncio transformou-se no meu companheiro de todos os dias. E não há nenhum lugar onde eu possa ir mais longe do que o comprimento de um silêncio.