Groundforce. Alfredo Casimiro convicto que Governo só quer “fragilizar” privado

Groundforce. Alfredo Casimiro convicto que Governo só quer “fragilizar” privado


O presidente da Groundforce aponta o dedo ao ministro Pedro Nuno Santos. “Um roubo”, reafirma. O empresário mantém silêncio sobre proposta da TAP para aumento de capital. E salários dos trabalhadores continuam por pagar.


Alfredo Casimiro está convencido que a intenção do Governo e, em particular, do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, foi, desde o início das negociações, ficar com a posição (de 50,1%) que o empresário detém na Groundforce, através da Pasogal SGPS, S.A. – o restante 49,9% do capital pertence ao Estado português.

Fonte próxima de Alfredo Casimiro disse ao i que o empresário considera mesmo que as propostas que TAP e Governo lhe fizeram chegar até ao momento, com vista a solucionar a crise que a empresa atravessa, “tiveram sempre como único objetivo fragilizar o acionista privado” da empresa de handling. Casimiro continua, aliás, a subscrever o comunicado de 4 de março em que acusou o ministro Pedro Nuno Santos de estar a colocá-lo “sob chantagem” e o Governo de estar “a aproveitar-se da pandemia para fazer um roubo”.

Antes do início das negociações, o braço-de-ferro nem era expectável. O nosso jornal sabe que, no verão do ano passado, face à crise que se instalou no setor da aviação, Pedro Nuno Santos e Alfredo Casimiro reuniram-se e, na altura, o ministro terá então elogiado o trabalho e os resultados alcançados pela Groundforce ao longo dos últimos anos, sob gestão privada. No encontro, Pedro Nuno Santo terá garantido a Alfredo Casimiro que “não deixaria de auxiliar a única empresa do Grupo TAP que dá lucro”.

Mas as coisas alteraram-se na reta final de 2020. A empresa ficou fora dos programas de auxílios públicos no âmbito da pandemia – embora fosse uma empresa com histórico positivo desde 2012. E, com a quebra de atividade, a situação financeira da empresa foi-se agravando (a atividade da empresa caiu 93% em janeiro, em comparação com o mesmo mês do ano passado).

Neste período, as esperanças da Groundforce residiram sempre num empréstimo proveniente do Banco de Fomento e das linhas de covid (através da Caixa Geral de Depósitos), no valor de 30 milhões de euros, ao qual o Governo tinha, porém, de dar o seu aval. O processo já decorre há sete meses mas, para já, o ministro das Finanças, João Leão, ainda não autorizou o financiamento

O i procurou uma reação junto do Ministério das Infraestruturas e da Habitação e da TAP às acusações feitas por Alfredo Casimiro e também tentar perceber se estas entidades contam com a Pasogal SGPS, S.A. para um solução de futuro na Groundforce, mas não obteve qualquer resposta até ao fecho desta edição.

TAP aguarda resposta. O presidente da empresa continua a adiar dar o “sim” à mais recente proposta feita pela TAP para ultrapassar a crise na empresa: um aumento de capital da Groundforce de 6,9 milhões de euros.

A solução chegou às mãos de Alfredo Casimiro, no último domingo, através de uma carta assinada pelo presidente do conselho de administração da TAP, Miguel Frasquilho, e pelo CEO da empresa, Ramiro Sequeira, e surge como alternativa à possibilidade de a companhia aérea fazer um adiantamento de serviços a prestar pela empresa de handling.

Ao mesmo tempo, a TAP exigiu a Alfredo Casimiro explicações sobre eventuais penhores sobre a empresa e sobre um empréstimo de 30 milhões de euros (situação que terá impossibilitado uma injeção de três milhões na Groundforce pela TAP). Estas são duas das condições que a TAP coloca para avançar com a operação.

O i apurou, junto de fonte próxima da empresa de gestão de bagagens, que, neste momento, Alfredo Casimiro tem vindo “a desdobrar-se em reuniões com a sua equipa para decidir como vai responder, em que modos vai responder e quando vai responder” à proposta. Recorde-se que atualmente a empresa de gestão de bagagens do Grupo TAP tem 500 mil euros de capital, que, a realizar-se este aumento, vai passar a ter aproximadamente 7,5 milhões.

O plano tem de ter a anuência de Alfredo Casimiro, mas no caso de a Pasogal SGPS, S.A. não conseguir acompanhar a operação perderá a sua posição na empresa e a TAP – da qual o Estado português é dono de 72,5% – ficará como acionista maioritária da Groundforce; o que, na prática, será umas nacionalização através da companhia.

Trabalhadores em luta. Entretanto, enquanto decorrem as reuniões nos gabinetes, continuam por pagar os salários de fevereiro dos cerca de 2400 trabalhadores da Groundforce.

Ontem, várias centenas de trabalhadores da empresa de handling voltaram a sair à rua para se manifestarem contra o incumprimento, desta vez frente ao Palácio de Belém, em Lisboa. “Queremos os nossos salários”, gritaram. Os trabalhadores presentes exigiram que a Pasogal SGPS, S.A. aceite a proposta da TAP de aumento de capital.

Os representantes dos manifestantes foram recebidos por uma equipa da Casa Civil da Presidência da República, que ouviu as suas reivindicações. Marcelo Rebelo de Sousa terá transmitido uma mensagem a estes elementos, garantido que “está a haver um forte empenho por parte do Governo na tentativa de serem encontradas soluções” para o caso.