“Este dia pode ser o início de um período mais feliz”

“Este dia pode ser o início de um período mais feliz”


Laura é estudante de Farmácia e aproveitou para se sentar num banco de jardim a ler. Francisco pôde voltar a tomar café no sítio do costume. Antónia é cabeleireira e já tem a agenda preenchida até abril. Vera teve “um sentimento agridoce” com o regresso à escola do filho de seis anos. Quatro testemunhos do…


Depois de dois meses em confinamento geral (teve início a 15 de janeiro), o país voltou a abrir. Os portugueses já podem voltar a beber um café na rua, ir ao cabeleireiro ou à esteticista, estudar numa biblioteca ou aproveitar o final de tarde num jardim.

O levantamento das restrições proporcionou uma lufada de ar fresco para muitos que aguardavam ansiosamente por voltar à rotina. É o caso de Francisco Amaral, residente em Torres Vedras, que depois de tanto tempo em casa aproveitou o primeiro dia de desconfinamento para voltar a beber o seu café no local habitual, a pastelaria Bombom. “Senti outra vez alguma liberdade para simplesmente sair de casa, andar uns 100 metros e beber um ótimo café. É apenas um café, mas o facto de termos a possibilidade de o tomar fora de casa é um sentimento de liberdade”, resume. “Parece que estive fechado numa caverna e só agora consegui voltar ao ‘mundo real’”, declara com um sorriso.

Os cabeleireiros

Os cabeleireiros também abriram hoje portas mas muitos já não têm reservas para o resto do mês. “Mal saiu o plano de desconfinamento o meu telemóvel não parou”, afirma Antónia, cabeleireira de profissão há mais de 20 anos. “Neste momento já só tenho reservas para o início do mês de abril”. Este setor foi um dos que mais sofreram com as restrições do confinamento – mas agora que voltou a abrir parece estar a correr bem. A primeira cliente chegou por volta das 9h da manhã para pintar e cortar o cabelo. Agora é a vez de Nelma Ferreira, que se prepara para colocar novas extensões no cabelo. “Já não sei se aguentava mais um mês sem vir aqui. Para além de vir ao cabeleireiro para arranjar o cabelo, sinto que este é um momento de descontração e calma”, confidencia ao i.

Passeios no jardim

Laura Santos, estudante de Ciências Farmacêutica de 22 anos, aproveitou esta segunda-feira para fazer algo que queria há muito: sentar-se num banco de jardim a ler um livro. A estudante universitária garante que cumpre à risca as leis que são impostas e por isso só agora sente alguma liberdade e segurança para sair de casa. “O simples ato de me sentar num banco de jardim sem ter a pressão de fazer exercício (era a única coisa que era permitida num jardim), é agora para mim um momento prazeroso que desejo que dure o dia todo”.

A universitária lisboeta sabe que a pandemia ainda não terminou mas sente que “este dia pode ser o início de um período mais feliz. Estamos cada vez mais perto de ver as pessoas, de conviver com os nossos amigos sem pensar num horário de recolha, apanhar sol sem ser no conforto das nossas varandas e poder festejar aniversários sem restrições”. Para isso, lembra, é necessário que “cada um de nós cumpra as medidas de segurança para que o progresso que fizemos até aqui não retroceda”.

 

Regresso à escola

O momento mais aguardado para muitos pais era o regresso dos filhos à escola. A complexidade de trabalhar em casa e apoiar as crianças no ensino online foi uma tarefa dificílima, mas ao mesmo tempo enriquecedora. Vera Silva, trabalha a partir de casa e é mãe do Francisco, de 6 anos. Hoje foi dia de voltar à escola e a felicidade não podia ter sido maior. Voltar a ver os amigos e brincar com eles no recreio “foi muito fixe”, garante Francisco. Para Vera, o regresso à escola “é um sentimento agridoce. Por um lado, foi um trabalho muito desgastante ter o Francisco em casa em homeschooling; por outro foram dois meses em que pude aproveitar ao máximo o tempo com ele”. Tudo pesado, reconhece ainda assim: “É um alívio deixá-lo na escola pelo encargo de horas que me consumia enquanto mãe e educadora”.

A partir de dia 5 de abril, se tudo correr bem, prevê-se a abertura das escolas para alunos do 2º e 3º ciclo, assim como museus, monumentos e lojas de rua até 200 m2 com porta para a rua. Ainda que grande parte das restrições se mantenha, o dia de ontem fica marcado como aquele em que os portugueses puderam começar a recuperar o tempo perdido.

 

* Editado por José Cabrita Saraiva