Ao cair dos dias…


Na casa do meu velho amigo Francisco António Febrero (por extenso Xitó), no Montalvo, agora a passar de velho para cada vez mais novo desde que foi avô da Princesa Leia, o vento assobia ligeiramente por entre as árvores à medida que o sol vai baixando no horizonte. É bom sinal. Ou são dois bons…


Dois traços brancos de avião no céu dão-me a certeza de que alguém ainda vai para algum lado. Por mim vou ficando parado, fechado no país triste, procurando ver, ao longe, se ainda existe mundo e sentir se ele continua a rodar como sempre.

Na casa do meu velho amigo Francisco António Febrero (por extenso Xitó), no Montalvo, agora a passar de velho para cada vez mais novo desde que foi avô da Princesa Leia, o vento assobia ligeiramente por entre as árvores à medida que o sol vai baixando no horizonte. É bom sinal. Ou são dois bons sinais. O sol, descendo, garante-nos que a Terra ainda se move, como afirmou Copérnico.

A menina que sorri de colo em colo diz-nos que haverá um universo para lá do nosso, mesmo que, melancolicamente, às vezes, vamos percebendo que mais de metade da vida já se foi. Um pica-pau esvoaça, alaranjado, por entre os pinheiros. Não sei o que dizem, os pinheiros, não lhes compreendo a linguagem, mas sei que são íntimos do vento e têm com ele diálogos infinitos.

Um calor de Primavera que se aproxima, agora de repente veloz, deixando a chuva na gaveta das lembranças. Torgny Lindgren, um escritor sueco que, ao que parece, e infelizmente, só tem um livro traduzido para português – Caminho da Serpente – disse uma vez que tudo o que acontece está guardado e coleccionado no fundo de nós próprios, mas não são recordações.

O vento por entre as árvores explica porquê, mesmo que não lhe entenda o falar. Porque o seu som manso que abana as folhas só nos traz imagens do que continuamos a ser. “Eu gosto de crianças/Já fui criança também/Não me lembro de o ter sido/Mas ao ver reproduzido/O que fui/ Sabe-me bem”, sei de cor do poema do Torga. De cada vez que o sol tomba a pique lá no horizonte, fico mais distante da infância. Não, não são recordações. É como se algo se desprendesse e ficasse à espera de se libertar de mim. Um ramo, talvez, se fosse árvore. Ou dias caindo como folhas que não voltam a nascer.


Ao cair dos dias…


Na casa do meu velho amigo Francisco António Febrero (por extenso Xitó), no Montalvo, agora a passar de velho para cada vez mais novo desde que foi avô da Princesa Leia, o vento assobia ligeiramente por entre as árvores à medida que o sol vai baixando no horizonte. É bom sinal. Ou são dois bons…


Dois traços brancos de avião no céu dão-me a certeza de que alguém ainda vai para algum lado. Por mim vou ficando parado, fechado no país triste, procurando ver, ao longe, se ainda existe mundo e sentir se ele continua a rodar como sempre.

Na casa do meu velho amigo Francisco António Febrero (por extenso Xitó), no Montalvo, agora a passar de velho para cada vez mais novo desde que foi avô da Princesa Leia, o vento assobia ligeiramente por entre as árvores à medida que o sol vai baixando no horizonte. É bom sinal. Ou são dois bons sinais. O sol, descendo, garante-nos que a Terra ainda se move, como afirmou Copérnico.

A menina que sorri de colo em colo diz-nos que haverá um universo para lá do nosso, mesmo que, melancolicamente, às vezes, vamos percebendo que mais de metade da vida já se foi. Um pica-pau esvoaça, alaranjado, por entre os pinheiros. Não sei o que dizem, os pinheiros, não lhes compreendo a linguagem, mas sei que são íntimos do vento e têm com ele diálogos infinitos.

Um calor de Primavera que se aproxima, agora de repente veloz, deixando a chuva na gaveta das lembranças. Torgny Lindgren, um escritor sueco que, ao que parece, e infelizmente, só tem um livro traduzido para português – Caminho da Serpente – disse uma vez que tudo o que acontece está guardado e coleccionado no fundo de nós próprios, mas não são recordações.

O vento por entre as árvores explica porquê, mesmo que não lhe entenda o falar. Porque o seu som manso que abana as folhas só nos traz imagens do que continuamos a ser. “Eu gosto de crianças/Já fui criança também/Não me lembro de o ter sido/Mas ao ver reproduzido/O que fui/ Sabe-me bem”, sei de cor do poema do Torga. De cada vez que o sol tomba a pique lá no horizonte, fico mais distante da infância. Não, não são recordações. É como se algo se desprendesse e ficasse à espera de se libertar de mim. Um ramo, talvez, se fosse árvore. Ou dias caindo como folhas que não voltam a nascer.