TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo): Quando os Outros somos Nós


Sentia-se cansado, pensava, enquanto olhava para a torneira do gás e decidia se verificava se estava fechada, pela última vez. Só mais uma vez. Ainda bem que ninguém estava ali para ver, ou iam pensar que era doido. Caramba, ele próprio pensava às vezes, se não teria enlouquecido. TOC. Não, não estou a falar dum…


O Transtorno Obsessivo-Compulsivo ou POC (Perturbação Obsessivo-Compulsiva) é um distúrbio mental inserido na categoria das Perturbações de Ansiedade que afecta cerca de 4% da população portuguesa e de 2 a 3% no mundo inteiro. Claro está que estes números encontram fundamento em indivíduos diagnosticados, pelo que não representarão, certamente, uma percentagem real.

TOC, muitas vezes encontrado também enquanto OCD, sigla inglesa para Obsessive-Compulsive Disorder, é uma perturbação que leva as pessoas a terem pensamentos indesejáveis de forma recorrente, ideias ou sensações que as obrigam a fazer coisas de forma repetida (compulsões).

Aqui, cabem ações como lavar as mãos vezes sem conta, tomar banhos de horas, verificar ou limpar várias vezes a mesma coisa ou lugar.

São tudo gestos, que pelo cansaço gerado, podem e afectam significativamente o dia-a-dia de quem sofre com este distúrbio, bem como prejudicam as suas interações sociais, pela vergonha que provocam e quando as pessoas que têm este distúrbio tentam reprimir/ adiar os impulsos, o stress aumenta, piorando o quadro.

Indivíduos que não sofram de TOC também podem ter pensamentos perturbadores ou alguns comportamentos repetitivos, mas regra geral, o seu comportamento não tem um impacto significativo no quotidiano. Para as pessoas que têm este distúrbio, os pensamentos indesejáveis são persistentes e os comportamentos, rígidos, não havendo grande margem para lhes fugir, pelo já mencionado aumento de stress que não executar estes “rituais” acarreta.

Dentro do grupo de indivíduos que têm TOC, existem os que sabem que estes pensamentos não são realistas e os que julgam que os seus pensamentos são reais, mas mesmo quem sabe que não são, tem dificuldade em quebrar o ciclo de pensamentos obsessivos ou travar os actos impulsivos.

Para que alguém seja diagnosticado com TOC, é necessária a manifestação de obsessões/ compulsões que consomem tempo (cerca de 1h por dia), provocam stress e interferem no trabalho e vida social.

Normalmente, o TOC desenvolve-se na infância, adolescência ou nos primeiros anos da vida adulta, sendo que a média da idade com a qual os sintomas começam a surgir é aos 19 anos.

Estes sintomas classificam-se em obsessões e compulsões.

As obsessões abarcam pensamentos persistentes e recorrentes, impulsos ou imagens mentais que desencadeiam emoções causadoras de stress, como ansiedade e/ ou angústia. Apesar de muitas pessoas reconhecerem que estes pensamentos não correspondem à realidade, libertarem-se deles não é apenas uma questão de raciocínio lógico nem de força de vontade.

Algumas das obsessões comuns passam pelo medo de ser contaminado por pessoas ou pelo ambiente; pensamentos de teor sexual perturbadores; preocupação extrema com a ordem, a simetria ou a precisão das coisas; medo de ter comportamentos agressivos e/ ou violentos; pensamentos intrusivos e recorrentes acerca de sons, imagens, palavras ou números; medo de perder algo ou alguém que considerem importante.

Algumas das pessoas que têm TOC tentam distrair-se com actividades como a prática de exercício físico, que ajuda a desviar o foco de atenção e outras procuram aliviar o stress causado pelas obsessões através de compulsões.

Compulsões são comportamentos ou actos mentais repetitivos a que uma pessoa se sente obrigada por forma a responder a uma obsessão, uma vez que evitam ou reduzem o stress a ela associado.

Nos casos mais agudos, a repetição de alguns rituais pode mesmo ocupar o dia inteiro, tornando impossível uma rotina dita normal.

Compulsões mais vulgares passam por fazer a higienização, lavar os dentes, as mãos, tomar banho repetidas vezes; excessiva limpeza de objectos de casa; colocar as coisas numa determinada forma ou ordená-las; verificar repetidamente fechaduras, interruptores ou eletrodomésticos; procurar constantemente a aprovação do outro; contar várias vezes até um certo número.

Indivíduos que tenham TOC tendem a sentir-se culpados pelos seus comportamentos “estranhos” e habitualmente, têm dificuldade em concentrar-se nas aulas, por causa da recorrência dos pensamentos perturbadores. Curiosamente, por norma, têm excelentes resultados em contexto escolar.

Existem ainda manifestações físicas desta patologia, como suores frios, tremores, aumento da frequência cardíaca viver num estado de alerta constante.

A associação Domus Mater – Associação de Apoio ao Familiar e Doente com Perturbação Obsessivo-Compulsiva – existe em Portugal desde 2003, com a sua sede em Lisboa desde 2013 e uma Delegação no Porto também. O objectivo é avançar para delegações regionais e locais para poder ajudar um pouco todo o território nacional.

Foi fundada por pais e amigos de pessoas com TOC, por sentirem uma lacuna na resposta do Estado, bem como de equipamentos aos quais fosse possível recorrer.

A Domus Mater conta com uma equipa técnica credenciada com muitos anos de experiência na área e aborda várias terapias possíveis, adequadas ao historial clínico e ao contexto de vida de cada indivíduo. São elas a Terapia Cognitivo-Comportamental, focada nas obsessões e compulsões de cada um para melhor poder contorná-las; Terapia Gestalt (do alemão, que significa “forma”) que enfatiza o momento actual e não apenas o contexto de vida do paciente de forma a promover a consciencialização, o contacto consigo mesmo e com o mundo e a auto-realização; Terapia Individual que ajuda o paciente a saber reconhecer que os pensamentos perturbadores são irracionais, trabalhando na sua substituição; Terapia de Grupo que visa desenvolver competências sociais, controlar a ansiedade e outros aspectos como a confiança ou o medo do confronto, promovendo a valorização e a interação sociais e a auto-estima;

Terapia Familiar que se propõe a dotar os familiares de ferramentas para lidar com a doença por forma a melhorar a qualidade de vida de ambas as partes; Semanas e Fins-de-semana Terapêuticos, processos intensos em que se juntam as terapia cognitivo-comportamental e a terapia Gestalt; Acompanhamento Domiciliário para pacientes que não possam sair de casa ou que a equipa técnica julgue mais benéfico deslocar-se a casa e outras actividades como jantares e eventos temáticos que promovem a interação social.

No rescaldo da Pandemia que se instalou há já mais de 1 ano, o CHTS – Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa – preparou um folheto informativo com algumas noções, ainda que sucintas, do que é a Perturbação Obsessivo-Compulsiva, de algumas estratégias para controlar alguns dos sintomas e ainda os contactos das linhas que podem ser contactadas pelo próprio doente, um familiar ou amigo, como é o caso da Saúde 24, a SOS Voz Amiga, a Sociedade Portuguesa de Psicanálise, a Linha Conversa Amiga e a Fundação Nossa Senhora do Bom Sucesso.

Por entre as estratégias, digamos, mais imediatas que um doente com esta patologia pode adoptar para tentar fintar um momento de ansiedade, aconselham observar ao pormenor o ambiente que o rodeia, as pessoas, os carros, o céu, as flores, animais, casas, bem como fechar os olhos e sentir o vento, o sol no rosto, os cheiros e os pés assentes no chão. Isto ajudá-lo-á a desviar o foco de atenção dos cenários irreais que ocorrem na sua mente, transportando-o para a realidade, trazendo-lhe de volta uma sensação de normalidade, segurança, conforto.

Outras estratégias, a desenvolver numa base que se deseja regular abrangem a prática de exercício físico, manter o contacto com familiares e/ ou amigos – no contexto pandémico que atravessamos, através do mundo digital – e praticar meditação.

Claro está que nada disto dispensa a consulta de um especialista uma vez que haja, pelo próprio ou terceiros, a suspeita de uma ou mais características de Perturbação Obsessivo-Compulsiva.

A saúde mental é, felizmente, um tema cada vez mais trazido para cima de uma mesa à qual todos comemos. Quero com isto dizer que esta ou outra doença do foro mental pode acontecer a qualquer um de nós, porque absolutamente nada toca só aos outros.

Para os outros, os outros somos nós.

 


TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo): Quando os Outros somos Nós


Sentia-se cansado, pensava, enquanto olhava para a torneira do gás e decidia se verificava se estava fechada, pela última vez. Só mais uma vez. Ainda bem que ninguém estava ali para ver, ou iam pensar que era doido. Caramba, ele próprio pensava às vezes, se não teria enlouquecido. TOC. Não, não estou a falar dum…


O Transtorno Obsessivo-Compulsivo ou POC (Perturbação Obsessivo-Compulsiva) é um distúrbio mental inserido na categoria das Perturbações de Ansiedade que afecta cerca de 4% da população portuguesa e de 2 a 3% no mundo inteiro. Claro está que estes números encontram fundamento em indivíduos diagnosticados, pelo que não representarão, certamente, uma percentagem real.

TOC, muitas vezes encontrado também enquanto OCD, sigla inglesa para Obsessive-Compulsive Disorder, é uma perturbação que leva as pessoas a terem pensamentos indesejáveis de forma recorrente, ideias ou sensações que as obrigam a fazer coisas de forma repetida (compulsões).

Aqui, cabem ações como lavar as mãos vezes sem conta, tomar banhos de horas, verificar ou limpar várias vezes a mesma coisa ou lugar.

São tudo gestos, que pelo cansaço gerado, podem e afectam significativamente o dia-a-dia de quem sofre com este distúrbio, bem como prejudicam as suas interações sociais, pela vergonha que provocam e quando as pessoas que têm este distúrbio tentam reprimir/ adiar os impulsos, o stress aumenta, piorando o quadro.

Indivíduos que não sofram de TOC também podem ter pensamentos perturbadores ou alguns comportamentos repetitivos, mas regra geral, o seu comportamento não tem um impacto significativo no quotidiano. Para as pessoas que têm este distúrbio, os pensamentos indesejáveis são persistentes e os comportamentos, rígidos, não havendo grande margem para lhes fugir, pelo já mencionado aumento de stress que não executar estes “rituais” acarreta.

Dentro do grupo de indivíduos que têm TOC, existem os que sabem que estes pensamentos não são realistas e os que julgam que os seus pensamentos são reais, mas mesmo quem sabe que não são, tem dificuldade em quebrar o ciclo de pensamentos obsessivos ou travar os actos impulsivos.

Para que alguém seja diagnosticado com TOC, é necessária a manifestação de obsessões/ compulsões que consomem tempo (cerca de 1h por dia), provocam stress e interferem no trabalho e vida social.

Normalmente, o TOC desenvolve-se na infância, adolescência ou nos primeiros anos da vida adulta, sendo que a média da idade com a qual os sintomas começam a surgir é aos 19 anos.

Estes sintomas classificam-se em obsessões e compulsões.

As obsessões abarcam pensamentos persistentes e recorrentes, impulsos ou imagens mentais que desencadeiam emoções causadoras de stress, como ansiedade e/ ou angústia. Apesar de muitas pessoas reconhecerem que estes pensamentos não correspondem à realidade, libertarem-se deles não é apenas uma questão de raciocínio lógico nem de força de vontade.

Algumas das obsessões comuns passam pelo medo de ser contaminado por pessoas ou pelo ambiente; pensamentos de teor sexual perturbadores; preocupação extrema com a ordem, a simetria ou a precisão das coisas; medo de ter comportamentos agressivos e/ ou violentos; pensamentos intrusivos e recorrentes acerca de sons, imagens, palavras ou números; medo de perder algo ou alguém que considerem importante.

Algumas das pessoas que têm TOC tentam distrair-se com actividades como a prática de exercício físico, que ajuda a desviar o foco de atenção e outras procuram aliviar o stress causado pelas obsessões através de compulsões.

Compulsões são comportamentos ou actos mentais repetitivos a que uma pessoa se sente obrigada por forma a responder a uma obsessão, uma vez que evitam ou reduzem o stress a ela associado.

Nos casos mais agudos, a repetição de alguns rituais pode mesmo ocupar o dia inteiro, tornando impossível uma rotina dita normal.

Compulsões mais vulgares passam por fazer a higienização, lavar os dentes, as mãos, tomar banho repetidas vezes; excessiva limpeza de objectos de casa; colocar as coisas numa determinada forma ou ordená-las; verificar repetidamente fechaduras, interruptores ou eletrodomésticos; procurar constantemente a aprovação do outro; contar várias vezes até um certo número.

Indivíduos que tenham TOC tendem a sentir-se culpados pelos seus comportamentos “estranhos” e habitualmente, têm dificuldade em concentrar-se nas aulas, por causa da recorrência dos pensamentos perturbadores. Curiosamente, por norma, têm excelentes resultados em contexto escolar.

Existem ainda manifestações físicas desta patologia, como suores frios, tremores, aumento da frequência cardíaca viver num estado de alerta constante.

A associação Domus Mater – Associação de Apoio ao Familiar e Doente com Perturbação Obsessivo-Compulsiva – existe em Portugal desde 2003, com a sua sede em Lisboa desde 2013 e uma Delegação no Porto também. O objectivo é avançar para delegações regionais e locais para poder ajudar um pouco todo o território nacional.

Foi fundada por pais e amigos de pessoas com TOC, por sentirem uma lacuna na resposta do Estado, bem como de equipamentos aos quais fosse possível recorrer.

A Domus Mater conta com uma equipa técnica credenciada com muitos anos de experiência na área e aborda várias terapias possíveis, adequadas ao historial clínico e ao contexto de vida de cada indivíduo. São elas a Terapia Cognitivo-Comportamental, focada nas obsessões e compulsões de cada um para melhor poder contorná-las; Terapia Gestalt (do alemão, que significa “forma”) que enfatiza o momento actual e não apenas o contexto de vida do paciente de forma a promover a consciencialização, o contacto consigo mesmo e com o mundo e a auto-realização; Terapia Individual que ajuda o paciente a saber reconhecer que os pensamentos perturbadores são irracionais, trabalhando na sua substituição; Terapia de Grupo que visa desenvolver competências sociais, controlar a ansiedade e outros aspectos como a confiança ou o medo do confronto, promovendo a valorização e a interação sociais e a auto-estima;

Terapia Familiar que se propõe a dotar os familiares de ferramentas para lidar com a doença por forma a melhorar a qualidade de vida de ambas as partes; Semanas e Fins-de-semana Terapêuticos, processos intensos em que se juntam as terapia cognitivo-comportamental e a terapia Gestalt; Acompanhamento Domiciliário para pacientes que não possam sair de casa ou que a equipa técnica julgue mais benéfico deslocar-se a casa e outras actividades como jantares e eventos temáticos que promovem a interação social.

No rescaldo da Pandemia que se instalou há já mais de 1 ano, o CHTS – Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa – preparou um folheto informativo com algumas noções, ainda que sucintas, do que é a Perturbação Obsessivo-Compulsiva, de algumas estratégias para controlar alguns dos sintomas e ainda os contactos das linhas que podem ser contactadas pelo próprio doente, um familiar ou amigo, como é o caso da Saúde 24, a SOS Voz Amiga, a Sociedade Portuguesa de Psicanálise, a Linha Conversa Amiga e a Fundação Nossa Senhora do Bom Sucesso.

Por entre as estratégias, digamos, mais imediatas que um doente com esta patologia pode adoptar para tentar fintar um momento de ansiedade, aconselham observar ao pormenor o ambiente que o rodeia, as pessoas, os carros, o céu, as flores, animais, casas, bem como fechar os olhos e sentir o vento, o sol no rosto, os cheiros e os pés assentes no chão. Isto ajudá-lo-á a desviar o foco de atenção dos cenários irreais que ocorrem na sua mente, transportando-o para a realidade, trazendo-lhe de volta uma sensação de normalidade, segurança, conforto.

Outras estratégias, a desenvolver numa base que se deseja regular abrangem a prática de exercício físico, manter o contacto com familiares e/ ou amigos – no contexto pandémico que atravessamos, através do mundo digital – e praticar meditação.

Claro está que nada disto dispensa a consulta de um especialista uma vez que haja, pelo próprio ou terceiros, a suspeita de uma ou mais características de Perturbação Obsessivo-Compulsiva.

A saúde mental é, felizmente, um tema cada vez mais trazido para cima de uma mesa à qual todos comemos. Quero com isto dizer que esta ou outra doença do foro mental pode acontecer a qualquer um de nós, porque absolutamente nada toca só aos outros.

Para os outros, os outros somos nós.