O ano de 2021 é, pelas terras de além Reno, uma longa odisseia eleitoral, já este domingo no Baden-Württemberg e na Renânia-Palatinado, culminando a 26 de Setembro com as eleições para o Bundestag e para mais quatro Länder, todos a Leste. Não obstante a teutónica relutância no assumir da liderança europeia (mas não no exercício da hegemonia contabilística…), a propósito das eleições alemãs poderemos repetir o desejo há muito feito para a escolha do Presidente dos EUA: são tão importantes que todos deveríamos poder votar.
2021 assinala igualmente a retirada de Merkel, depois de quatro governos, três em Große Koalition. O bloco central deu ao SPD o pior resultado eleitoral pós-1945 e menos de 15% nas actuais sondagens, abaixo dos 20% dos Verdes (que já tiveram 25% há menos de um ano). Na CDU a sucessão de Merkel tem sido atribulada, com a morte política da eleita Kramp-Karrenbauer, a fuga de von der Leyen para Bruxelas, detestada pela militância, e a eleição de Armin Laschet em Janeiro, por 52,8% contra os 47,2% de Friedrich Merz, o mais activo crítico interno de Merkel. O fim de uma liderança longa é sempre traumático. No caso de Merkel a agonia remonta a Outubro de 2018, quando anunciou que não se re-candidataria. A pandemia não ajudou a CDU que, por mor da menos boa gestão covídica, surge com 32% nas intenções de voto.
Uma coligação da CDU com os liberais do FDP (9% nas sondagens) não garante uma maioria absoluta. A Alternativ für Deutschland (AfD) mantém os 10% de intenções de voto mas nem na CDU nem no FDP há qualquer vontade de quebrar o cordão sanitário em torno da AfD.
Em 2017 foi negociada uma coligação entre CDU, FDP e Verdes que acabou rejeitada pelos dois últimos. A CDU de 2021 está feita à imagem de Merkel, campeã do furto das bandeiras políticas dos adversários (casamento entre pessoas do mesmo sexo, fim do nuclear, abertura de fronteiras aos refugiados,…) pelo que a coligação jamaica que falhou em 2017 poderá agora ser bem sucedida. Tal implicaria o deslocar do centro político para a esquerda, minando o poder da ala direitista e da CSU. Procurando assustar os eleitores e simpatizantes da AfD, os serviços de informação do Ministério Federal da Administração Interna, carinhosamente denominados como Serviço Federal de Protecção da Constituição (BfV) e tutelados pelo ex-líder da CSU, anunciaram urbi et orbi uma investigação à AfD qualificada como suspeita de práticas anti-democráticas. Tal permitiria a vigilância da actividade partidária, com a gravação de comunicações e a colocação de agentes infiltrados. A AfD conseguiu obter na passada sexta-feira junto do Tribunal Administrativo de Colónia uma sentença interlocutória suspendendo as actividades de investigação por parte do BfV. O Tribunal considerou que a 6 meses da eleição tais actividades se traduziriam numa objectiva perda de oportunidade política por parte da AfD na competição com os restantes partidos.
À esquerda a possibilidade de coligação juntaria dois antigos companheiros de Governo (SPD e Verdes) com o Die Linke (as sobras do SED da RDA geminadas com os críticos do SPD que em 2005 fundaram o Arbeit und soziale Gerechtigkeit – Die Wahlalternative, WASG). Se os Verdes subirem nas sondagens e o Die Linke mantiver os 7% de intenções de voto, talvez o trio consiga uma maioria no Bundestag. Se tal não acontecer seria preciso à coligação cativar o FDP cujo apetite por partilhar o Governo com o Die Linke é (reciprocamente) inexistente.
Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990