Sporting e Casa Pia andavam de candeias às avessas. E já havia tempo. Os motivos era confusos e, à boa moda portuguesa, tinham sido elevados ao quadrado por palavras infelizes proferidas por dirigentes de um e de outro lado. Finalmente, ao fim de três anos de tranquibérnias, as duas presidências decidiram pôr uma pedra sobre o assunto. E nada melhor do que uma jogatana de futebol, na altura chamadas de amigáveis mas que que atraíam tanta gente como se fossem jogos a valer.
Curiosamente, esse Casa Pia-Sporting de 6 de novembro de 1927 ficou para a história de forma indelével e nada teve que ver com o resultado tranquilo da vitória leonina por 5-2. Pela primeira vez, os leões entraram em campo com camisolas às riscas horizontais verdes e brancas, contrariando o equipamento habitual que era ou branco ou cortado a meio, metade branca, metade verde, que ainda hoje é utilizado com frequência e ganhou o nome de equipamento Stromp em homenagem ao antigo jogador leonino que foi peça por demais importante na consolidação do clube.
Claro que, ao ver os jogadores do Sporting com a nova farpela, o público estranhou. O que não quer dizer que não tenha gostado. Tal e qual aconteceu com a imprensa presente em Pina Manique. “O Sporting estreou, ontem, o seu novo fardamento. Camisolas e meias verdes e brancas em listas horizontais e calções pretos. É um equipamento bonito e agradável”. Ah! Imponentes leões que pareciam desfilar em pose na vitrina dos Armazéns Grandella.
O jogo era de homenagem ao casapiense António Pinho que foi obrigado a não comparecer na própria festa por via de uma amigdalite das valentes. Não foi por isso esquecido: Soares Junior, em nome do Sporting, proferiu um discurso sentido. Depois, o dr. Salazar Ferreira congratulou-se com o reatamento das relações dos dois clubes de Lisboa. O futebol ficava mais forte, mais coeso.
Às riscas. No tempo da fundação do Sporting, em 1906, as camisolas eram brancas. Completamente brancas. Exibiam no peito, sobre o lugar onde bate o coração, um leão rampante, em dourado, brasão de D. Fernando de Castelo Branco (Pombeiro), amigo íntimo do Visconde de Alvalade que foi um dos grandes apoiantes da ideia.
Foi a partir de 1908 que a primeira mudança teve lugar. Optou-se por cortar a camisola em duas metades, salvo seja: metade era verde, a outra metade era branca. O emblema passou a ser colocado do lado esquerdo, sobre a metade verde. Geralmente, nos dias de hoje o Sporting usa essa versão -– a tal versão Stromp – nos jogos da Taça de Portugal. Em relação aos calções, que também foram brancos de início, passaram a ser negros a partir de 1915.
As riscas foram, de certa forma, roubadas à equipa de râguebi. Há diversas versões sobre a matéria e quase todas se prendem com a resistência do tecido. Preparado para o jogo mais bruto e agressivo da bola oval, ganharam a simpatia dos atletas. Além disso, a equipa francesa de râguebi do Racing Club fizera uma visita a Lisboa as suas camisolas listadas horizontalmente a branco e azul influenciaram francamente a opção da secção de râguebi do Sporting a apostarem na similaridade. As novas cores agradavam, e muito, à massa adepta. A partir do dia 6 de novembro de 1927, a direção do clube estabeleceu oficialmente a opção pelo uso dessas camisolas pela equipa principal de futebol. No ano seguinte, numa famosa digressão dos leões ao Brasil, as camisolas às riscas brancas e verdes já eram uma distinção. O leão desistira, definitivamente, das suas camisas brancas iniciais, tão pouco agressivas à vista, para envergarem, impantes, as listas que se tornaram uma imagem de marca. Hoje em dia, quando os equipamentos alternativos mudam todos os anos e adotam cores inacreditáveis, cada vez mais as camisolas às riscas verde e brancas são uma marca de autenticidade sportinguista…