Em declarações ao Nascer do SOL, o ex-primeiro-ministro e antigo líder do PSD Pedro Passos Coelho elogia a ‘coragem’ de Carlos Moedas em concorrer à Câmara de Lisboa contra o socialista e atual presidente da edilidade Fernando Medina. «O engenheiro Carlos Moedas é um excelente candidato e só posso desejar-lhe os maiores sucessos nesta disputa eleitoral que ele assume corajosamente, mas que não é fácil», disse Passos Coelho ao Nascer do SOL.
A declaração de Passos Coelho é de elogio, mas também realista sobre o combate eleitoral que se avizinha em outubro. Mas também é reveladora de que esta é a hora de coesão no PSD. Isto depois de ter sido alimentada a ideia, no partido, de que Passos e Moedas estariam de costas voltadas – e, de facto, não houve concertação entre os dois para a candidatura autárquica do ex-comissário europeu.
De realçar que Carlos Moedas, antes de ser comissário europeu, foi secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, o homem-forte nas negociações com a troika. Aliás, esta passagem pelo Governo de Passos será seguramente tema de combate político na campanha do lado do PS, mas também de toda a esquerda que se prepara para ir a votos com candidaturas próprias e sem coligações pré-eleitorais.
Moedas ‘esconde’ PSD
Na primeira aparição para falar aos militantes e potenciais eleitores, Carlos Moedas surgiu sozinho no Instituto Superior Técnico, onde estudou, num palco com a Bandeira Nacional, a da União Europeia e da Câmara de Lisboa, sem símbolos do PSD.
Aliás, todo o material de campanha de Carlos Moedas omite a sigla e o símbolo do PSD. Só tem o nome do candidato e as suas palavras de ordem, como se se tratasse de uma candidatura supra-partidária.
«Eu estou aqui para ser presidente da Câmara de Lisboa. Deixei a minha vida toda para me concentrar neste projeto, neste objetivo (…)Esse é o meu sonho, não tenho outros», avisou o candidato perante as perguntas sobre a ambição de um dia vir a ser líder do PSD. Moedas lembrou ainda «o apoio incondicional» de Rui Rio e do seu partido, o PSD, e falou para «as forças não socialistas moderadas e progressistas da nossa cidade de Lisboa», com as quais espera contar. Certo é que tem para já o CDS (com críticas internas à gestão do líder Francisco Rodrigues dos Santos por ceder, sem mais, ao PSD o protagonismo da equipa), o PPM, o MPT, a Aliança e hoje saberá se conta com o Iniciativa Liberal, peça-chave numa megacoligação.
No partido liderado por João Cotrim de Figueiredo há resistências à ideia de uma coligação, mas só hoje ficará definido qual das sensibilidades vencerá: a que defende um candidato próprio em Lisboa ou a que defende que pode haver um acordo desde que se respeite o caderno de encargos dos liberais. Entre os sociais-democratas há a ideia de que os liberais poderão integrar a coligação.
Já Carlos Moedas avisou que esta «não será uma coleção de partidos, será muito mais do que isso (…) será uma coligação alargada» e acrescentou que espera contar com independentes «vindos da sociedade civil, desencantados ou desinteressados da política ou simplesmente cansados desta governação socialista».
Sobre a cidade em concreto, Moedas sinalizou que é preciso colocar um ponto final em catorze anos de governação socialista e contrariar a ideia de que Lisboa é «uma cidade que não cuida das pequenas coisas, daquelas pequenas coisas que fazem a grande diferença no nosso dia-a-dia», ou que «ter um simples médico de família é uma luta para muitas famílias». Mais, é preciso combater a pobreza numa cidade em que «os sem-abrigo são cada vez mais uma realidade».
Na primeira apresentação pública do candidato, os símbolos do PSD não apareceram em palco, mas a decisão foi interpretada, entre sociais-democratas, pela necessidade de se promover a grande coligação de centro-direita na capital. Que coloca de parte o Chega na equação.
Para memória futura ficam as semanas em que Moedas avaliou a sua mudança de vida radical e até avisou Marcelo Rebelo Rebelo de Sousa, o Presidente, de que iria ser o candidato autárquico do PSD em Lisboa.
Os avisos de Rui Rio
A semana acabou por ficar marcada pelo anúncio de cem candidatos do PSD, sem contar com Moedas ou Fernando Negrão, em Setúbal, revelados há uma semana. O momento, que pretendia ser galvanizador e cumpridor de um calendário interno imposto por Rui Rio, acabou por ser um ponto de crispação e até de indignação entre autarcas com a comunicação e a estratégia da sede do partido. Tudo porque a direção decidiu apresentar os nomes dos recandidatos autárquicos, num anúncio que apanhou muitos desprevenidos. Ao ponto de até haver um autarca, o de Sátão, que não quer ser recandidato.
O próprio vice-presidente do partido e autarca de Ovar, Salvador Malheiro, avisou que a seu tempo dirá qual a sua decisão. Um desabafo que não passou despercebido a ninguém.
O próprio acabou por esclarecer que o seu comentário não era um desmentido ou uma correção à estratégia da direção, leia-se de José Silvano, o secretário-geral. E o esclarecimento impunha-se porque há muito que se comenta no PSD que ambos estarão de costas voltadas. Pelo menos em público faz-se um esforço para demonstrar que não há qualquer problema.
Pelo caminho, o líder do PSD, Rui Rio, entrou em cena ontem para aumentar um pouco mais a tensão. Depois da polémica, e com múltiplas chamadas de autarcas, Rio Rio lembrou aos descontentes que «até podem, alguns, estarem à beira de ser homologados e, de repente, começam a portar-se menos bem e podem ser rapidamente postos para o lado e abrimos o processo do princípio». O recado foi dado em público, após um encontro com o movimento a pão e água para que não restassem dúvidas. O ralhete está dado.
Para Rio, o que se passou esta semana não era motivo de polémica: «Eu já aqui ando há muitos anos, isto que aconteceu esta semana é rigorosamente igual àquilo que eu vi anos atrás», disse aos jornalistas a partir do Porto. Na próxima semana deve ser assinado o acordo-quadro de coligações com o CDS, com custos repartidos de campanha, em que quem lidera a coligação paga 80% das contas.