PSD. Anúncio precipitado de recandidaturas gera indignação entre autarcas

PSD. Anúncio precipitado de recandidaturas gera indignação entre autarcas


Mal estar entre recandidatos. Anúncio condiciona a estratégia de alguns e há quem fale em inabilidade e problemas de comunicação.


O anúncio tinha tudo para ser apenas mais uma etapa do calendário interno do PSD para as autárquicas: 77 recandidaturas e 23 nomes de candidatos para concelhos onde os sociais-democratas não lideram as câmaras. Até aqui tudo bem. Problema? O vice-presidente do PSD e membro da comissão de coordenação das autárquicas no partido Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar, pouco depois da conferência de imprensa de José Silvano escreveu na rede social Facebook que ainda não tinha decidido ser recandidato autárquico. Um ‘post’ que complicou o dia à direção de Rui Rio, com Silvano e a diretora de comunicação, Florbela Guedes, no centro de todas as críticas, e que deu lastro para outros autarcas recandidatos demonstrarem o seu descontentamento em público ou em privado.

“Agradeço muito a confiança e a deferência do meu partido, contudo quero esclarecer que continuo Presidente da Câmara Municipal de Ovar e no seu devido tempo decidirei se sou ou não recandidato para mais um mandato”, escreveu Salvador Malheiro, a propósito da conferência de imprensa do secretário-geral dos sociais-democratas, José Silvano. A frase soou a correção à equipa de que o próprio Malheiro faz parte, tanto da direção, como da coordenação autárquica. O autarca de Ovar tentou emendar a mão.“Perante as dúvidas que estão a surgir, sobre as minhas palavras, quero dizer o seguinte:Não desminto a direção nacional, bem pelo contrário! Estou de alma e coração com a mesma! Tal como muito bem foi explicado pelo coordenador autárquico José Silvano, em breve anunciarei a minha decisão! Força PSD!”. Para já, Salvador Malheiro quis dizer que o timing do anúncio de recandidatura cabe-lhe a ele.

O problema é que as primeiras palavras de Salvador Malheiro a lembrar que quem decide o seu futuro em Ovar é o próprio também foi extensível a outros autarcas do PSD. O autarca da Feira, Emídio Sousa, ficou muito honrado, mas ainda não decidiu a recandidatura, e por isso, a estratégia de comunicação do PSD foi “errada”, prejudicando o planeamento de quem está no terreno. Dito de outra forma: quem quer recandidatar-se, escolhe o tempo para o fazer e prepara o terreno para evitar que lhe digam, por exemplo, que já está em campanha a cada ato de gestão autárquica. Ricardo Rio, autarca de Braga, que está a preparar uma grande coligação que inclua o Aliança e a Iniciativa Liberal, também ficou surpreendido com o anúncio, ainda que já soubesse da aprovação do seu nome pela direção nacional.

Já Ribau Esteves, autarca de Aveiro, recebeu “com muito gosto” o anúncio do PSD de apoio à sua recandidatura, um sinal importante para sua reflexão, sendo que a sua decisão pessoal “será anunciada publicamente e em tempo devido e oportuno, ‘na hora e no momento que desejar’, como referiu o secretário-geral do PSD” – frisou ao i. Ora, para quem está no terreno há uma frase de José Silvano que abriu a polémica: “São presidentes de câmara que se podem recandidatar na hora e momento que desejarem, porque têm homologação garantida da direção nacional”. Um dos autarcas ouvidos pelo i sob anonimato considerou que bastava que o secretário-geral do PSD tivesse dito, por exemplo: “ O PSD apoiará a recandidatura de todos os presidentes de câmara porque o partido faz do trabalho deles um balanço positivo. Obviamente que caberá a cada um, ao seu critério, a decisão de serem, ou não, recandidatos”, afirmou a mesma fonte ao i.

Assim “evitavam-se alguns dissabores locais”, sobretudo de quem está a gerir expectativas dos eleitores e disse estar em reflexão, acrescentou outra fonte insistendo na inabilidade política e comunicacional da sede do partido.

Silvano defendeu que cada um anunciará a decisão de recandidatura “no tempo, modo e forma que entenderem”. Ainda assim, foi o suficiente para gerar mais polémica, não só com o vice do partido, mas também noutros pontos de país.

Por exemplo, em Oleiros, o autarca Fernando Marques Jorge (PSD) ficou indignado por ver o seu nome anunciado sem ninguém falar com ele. “É no mínimo um abuso de confiança, que lamento, pois antes de se anunciar o nome de alguém deve ser dado conhecimento ao próprio, mas demonstra a forma de ‘dialogar’ de determinados políticos”, declarou o autarca em nota citada pela Lusa.

Por sua vez, Carlos Carreiras, autarca de Cascais e crítico de Rui Rio, respondeu na rede social Facebook: “Agradeço a confiança mas será o povo de Cascais a reeleger-me ou não, porque acima de tudo o meu partido é Cascais”.

Na longa lista de nomes aprovados para uma recandidatura (há treze autarcas dos 98 no poder que já não o podem fazer) estão ainda nomes como o de Almeida Henriques, de Viseu.

Seja como for, há 23 novos nomes já apresentados, a saber: Pedro Louro (Alcochete), Nuno Matias (Almada), Bruno Vitorino (Barreiro), Luís Nascimento (Moita), João Afonso (Montijo), Paulo Ribeiro (Palmela), Luís Santos (Santiago do Cacém), Bruno Vasconcelos (Seixal), Francisco Luís (Sesimbra), Hélder Carvalho (Arruda dos Vinhos ), Rui Corça (Azambuja), Nuno Soares (Manteigas), Rui Anastácio (Alcanena), Manuel Teixeira (Cabeceiras de Basto), Bruno Fernandes (Guimarães), José Duarte de Sousa Rocha (Castelo de Paiva), Rui Sampaio (Góis), Álvaro Coimbra (Penacova), Nélson Batista (Loures), Jorge Costa (Moimento da Beira)João Valério (Oliveira de Frades), Cristina Ferreira (Penedono) e Tiago Ferreira (Torres Novas).

Entretanto, Carlos Moedas fará hoje a sua primeira declaração como candidato à Câmara de Lisboa no Instituto Superior Técnico, enquanto negoceia acordos com o Aliança, PPM, MPT, e a integração de nomes da sociedade civil. A IL decidirá no sábado se integra esta coligação, sendo que o CDS já disse que sim.