Existe sempre alguém para alguém


Por vezes sinto que todas as palavras foram esgotadas por alguém antes de mim e estou só a recompor a forma como tudo foi escrito. Vejam: “Chez moi il n’y a plus que moi/Et pourtant ça ne me fait pas peur…” Era o que diria, ou disse, Bécaud no meu lugar. 


O tempo continua a passar nesse seu rodar universal, e cada vez vejo menos gente de toda a gente que fazia parte do meu quotidiano. Até tu, imagina, foste ficando a pouco e pouco tão longe que me pergunto como serei eu no regresso de ti? Neste momento, depois de uma nuvem passageira daquelas que trazia água suficiente para desfazer castelos de areia enquanto sonhávamos, na adolescência que teima em ter partido para sempre, na hora de analisar a namorada sobre o divã, não há nada se não eu em minha casa e isso não me assusta…

Por vezes sinto que todas as palavras foram esgotadas por alguém antes de mim e estou só a recompor a forma como tudo foi escrito. Vejam: “Chez moi il n’y a plus que moi/Et pourtant ça ne me fait pas peur…” Era o que diria, ou disse, Bécaud no meu lugar. Viver com os pássaros, cá no alto, onde o Sado fica exatamente 46 degraus abaixo e a lua 384.400 degraus acima, havendo que descontar esses tais 46 anteriores e já galgados, pode ser uma forma de solidão, se a solidão existisse. Felizmente, os meus mortos fazem-me companhia.

Entrego um pássaro a cada um e vejo-os voar em redor e há pouco, na fímbria da luz da tarde poente, eram os pilritos que tomavam conta do lodo que a maré baixa deixou à vista. “Peut-être encore pour quelques loups/Quelques malheureux sangliers,/Quelques baladins, quelques fous/Quelques poètes démodés/Y a toujours quelqu’un pour quelqu’un”. Pois, o Le Club Méditerranée não foi feito para os cães rafeiros que ladram à noite quebrando o silêncio dos pátios. Ladram talvez para não se sentirem sós, porque nem eu nem Gilbert podemos saber o que quer que seja sobre a solidão dos cães. Ou ladram porque têm alguma coisa para dizer. “La solitude ça n’existe pas”. Mas o vazio existe e eu tenho horror ao vazio. Por isso é bom que ladrem os cães, por medo da solidão ou apenas para trocar latidos. Sem saberem, enchem-me as noites. E eu sei que há sempre alguém para alguém…

Existe sempre alguém para alguém


Por vezes sinto que todas as palavras foram esgotadas por alguém antes de mim e estou só a recompor a forma como tudo foi escrito. Vejam: “Chez moi il n’y a plus que moi/Et pourtant ça ne me fait pas peur...” Era o que diria, ou disse, Bécaud no meu lugar. 


O tempo continua a passar nesse seu rodar universal, e cada vez vejo menos gente de toda a gente que fazia parte do meu quotidiano. Até tu, imagina, foste ficando a pouco e pouco tão longe que me pergunto como serei eu no regresso de ti? Neste momento, depois de uma nuvem passageira daquelas que trazia água suficiente para desfazer castelos de areia enquanto sonhávamos, na adolescência que teima em ter partido para sempre, na hora de analisar a namorada sobre o divã, não há nada se não eu em minha casa e isso não me assusta…

Por vezes sinto que todas as palavras foram esgotadas por alguém antes de mim e estou só a recompor a forma como tudo foi escrito. Vejam: “Chez moi il n’y a plus que moi/Et pourtant ça ne me fait pas peur…” Era o que diria, ou disse, Bécaud no meu lugar. Viver com os pássaros, cá no alto, onde o Sado fica exatamente 46 degraus abaixo e a lua 384.400 degraus acima, havendo que descontar esses tais 46 anteriores e já galgados, pode ser uma forma de solidão, se a solidão existisse. Felizmente, os meus mortos fazem-me companhia.

Entrego um pássaro a cada um e vejo-os voar em redor e há pouco, na fímbria da luz da tarde poente, eram os pilritos que tomavam conta do lodo que a maré baixa deixou à vista. “Peut-être encore pour quelques loups/Quelques malheureux sangliers,/Quelques baladins, quelques fous/Quelques poètes démodés/Y a toujours quelqu’un pour quelqu’un”. Pois, o Le Club Méditerranée não foi feito para os cães rafeiros que ladram à noite quebrando o silêncio dos pátios. Ladram talvez para não se sentirem sós, porque nem eu nem Gilbert podemos saber o que quer que seja sobre a solidão dos cães. Ou ladram porque têm alguma coisa para dizer. “La solitude ça n’existe pas”. Mas o vazio existe e eu tenho horror ao vazio. Por isso é bom que ladrem os cães, por medo da solidão ou apenas para trocar latidos. Sem saberem, enchem-me as noites. E eu sei que há sempre alguém para alguém…