Desfibrilhadores. Pedem mais mas só podem ser usados com formação

Desfibrilhadores. Pedem mais mas só podem ser usados com formação


Para uma vítima de paragem cardiorrespiratória, cada minuto que passa equivale a menos 10% de hipóteses de sobreviver.


Foi lançada no fim de semana uma petição que apela à “obrigatoriedade da existência de um desfibrilhador automático externo (DAE) em todos os locais onde se pratique desporto incluindo todas as escolas”. Depois do caso dramático da paragem cardiorrespiratória sofrida pelo jogador de andebol do Futebol Clube do Porto, Alfredo Quintana, o apelo que no passado já tinha motivado outras petições volta a surgir.

A petição começa por lembrar que a morte súbita é maioritariamente causada por fibrilhações ventriculares, cujo único tratamento “é a desfibrilhação elétrica feita com um desfibrilhador”. Na petição é ainda referida a existência de estudos internacionais que mostram que a aplicação do Suporte Básico de Vida (SBV) e do DAE “em ambiente extra-hospitalar, aumenta a probabilidade de sobrevivência das vítimas, com especial relevância quando são imediatamente iniciadas manobras de reanimação e administrado o primeiro choque nos três minutos após o colapso”.

Carlos Silva, membro da direção da Sociedade Portuguesa de Emergência Hospitalar (SPEH) considera que esta medida faz sentido, visto “que quanto mais desfibrilhadores tivermos espalhados por todo país, melhor”.

Ter desfibrilhadores disponíveis, não é, no entanto, suficiente para conseguir salvar uma vida. Para Carlos Silva, o que não faz sentido nenhum é haver uma limitação de acesso ao equipamento, que só pode ser usado por quem tiver formação: “O desfibrilhador faz tudo, dá indicações ao seu utilizador sobre aquilo que deve fazer”.

“Mesmo quem queira fazer o curso, tem de pagar por eles”, alerta ainda Carlos Silva, fator que pode levar à desistência daqueles que desejassem adquirir esse conhecimento.

De acordo com dados da Fundação Portuguesa de Cardiologia, morrem cerca de 10 mil pessoas por ano por morte súbita, sendo que, a cada minuto que passa após a paragem respiratória, a vítima perde 10% de hipóteses de sobrevivência.

Já segundo o INEM, apenas 3% das vítimas de paragem cardiorrespiratória sobrevivem e em quase 60% dos casos, não é realizada qualquer manobra de reabilitação ao utente até à chegada de socorro, o que reflete a inexistência de “uma cultura de socorro enraizada na sociedade portuguesa”.

Em 2012 a legislação tornou obrigatória a instalação de equipamentos Desfibrilhação Automática Externa em alguns locais públicos, incluindo espaços comerciais e recintos desportivos e de lazer com lotação superior a 5 mil pessoas. No final de 2019 já havia mais de 3 mil desfibrilhadores disponíveis em vários pontos do país.

O caso de Fehér Alfredo Quintana, que morreu aos 32 anos na passada semana depois de sofrer uma paragem cardiorrespiratória durante um treino, foi socorrido com desfibrilhação no local pelo INEM antes de ser transportado para o São João, onde veio a falecer quatro dias depois. A morte de Miklós Fehér, jogador do SLBenfica, em campo durante um jogo contra o Vitória de Guimarães é um momento que marca a memória de muitos portugueses e viragem na consciencialização para o risco de morte súbita.

Já este ano morreram os jogadores Alex Apolinário, no dia 7 de janeiro, futebolista no Futebol Clube de Alverca, e Paulo Diamantino, um dia depois, basquetebolista no Mirandela Basket Clubes. O primeiro sofreu uma paragem cardiorrespiratória durante um jogo e o segundo antes de entrar em campo.