Durante meses vangloriou-se a bazuca como o novo ouro do Brasil. Algo caído do céu, uma mercê, um aluvião de moeda que, por si só, sem mais, nos poria de pé, trajados a rigor, mazelas curadas, malformações vencidas. A bazuca limparia o mal de agora e o de antigamente. E fomos, sem pensar muito nisso, embalados por essa ideia doce e cativantes que apenas por uns breves momentos nos mereceu reflexão, porém pouca, aquando do célebre Plano Costa Silva, a antecâmara das grandes decisões.
O Plano cumpria os ditames: não há obra que lá não poisasse; cluster que não vingasse; vantagem comparativa que não nos assentasse; tudo Portugal podia conseguir, tudo Portugal podia ser. Por isso, contentou todos. Não era para ser olhado, era para cumprir calendário. E isso cumpre-se sem escolhas, o que não traz azias, controvérsias, reparos e discussões, isto é, que permite que tudo fique na mesma.
E é na mesma que está a versão final, talvez pior. Mais uma obra aqui, umas cedências acolá, uma redação de conceitos impenetráveis para conferir densidade, e lá vem, altivo e conciliador, o nosso plano de recuperação e resiliência, o antídoto para o novo mundo que dizem termos que enfrentar.
Mas que contém, perguntam os leitores? Que traz, já que carrega tamanha responsabilidade? Que transforma?
Bom, vamos devagarinho. Não é, diz o ministro, para responder ao curto-prazo, portanto, se vós sois daqueles a quem têm sido negados apoios, ou pertencem aos setores mais criticamente afetados, ou às regiões em que se assiste a maior destruição, convém bater noutra porta porque não é na bazuca que encontrarão resposta. Se sois daqueles que esperam uma visão, desafio a leitura, ninguém compreende onde se deseja chegar e como. Não há sequer análise de custo-benefício para que se discirna a razão de ser das opções, não há vestígios de reengenharia de processos e transformações na cultura de funcionamento das instituições e dos agentes económicos. Não há articulação de ações, mas sim um mero inventário, qual operação contabilística. Não traz nada de novo, não se aproveita o dinheiro para transformar. Resume-se a lançar dinheiro para cima, business as usual, desacompanhada da ambição de fazer diferente.
É confrangedor. Ninguém sabe como se ajusta à nova geração de fundos comunitários. Se se sabe, não se diz.
Não serve para construir o país, serve para manter o país. Assim, não adianta, mas atrasa.
Deputado do PSD