Parlamento. “Seria um golpe de Estado se João Caupers lá fosse”

Parlamento. “Seria um golpe de Estado se João Caupers lá fosse”


Parlamento discute, amanhã, requerimento para audição urgente do presidente do Constitucional.


O ex-presidente do CDS Ribeiro e Castro considera que seria “um golpe de Estado” se o Presidente do Tribunal Constitucional (TC), João Caupers, fosse chamado à Assembleia da República. A proposta foi apresentada pelo PAN e vai ser discutida na quarta-feira na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

O PAN solicitou uma audição urgente com o Presidente do Tribunal Constitucional na sequência do que classifica como “declarações homofóbicas”.

A polémica surgiu depois de o Diário de Notícias ter revelado afirmações feitas por João Caupers, em 2010, sobre o “lobby gay”. No dia em que foi promulgada a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o agora presidente do Constitucional escreveu que “a verdade, que o chamado lobby gay gosta de ignorar, é que os homossexuais não passam de uma inexpressiva minoria, cuja voz é enorme e despropositadamente ampliada pelos media”.

Foram estas declarações que levaram o PAN a considerar que o novo presidente do Tribunal Constitucional deve “prestar esclarecimentos perante a Assembleia da República sobre estes textos e demonstrar o seu atual posicionamento face à garantia dos direitos das pessoas LGBTI”.

A posição do PAN merece críticas do antigo presidente do CDS Ribeiro e Castro. O ex-deputado centrista lembra que todos os juízes são independentes e não podem ser sujeitos a pretenso controlo parlamentar. “Era o que mais faltava. No caso do TC, ainda mais: é a Assembleia da República que está sujeita à fiscalização pelo Tribunal Constitucional, quanto à constitucionalidade das leis; o TC e os seus membros não podem ser sujeitos a qualquer tipo de fiscalização pela Assembleia da República”, escreve, na sua página de Facebook. Ribeiro e Castro considera que “seria um golpe de Estado se João Caupers, presidente do Tribunal Constitucional, lá fosse ou a Assembleia o exigisse”.

O constitucionalista Vital Moreira já tinha afirmado que “era suposto os deputados saberem que uma das regras essenciais do Estado constitucional é a independência dos juízes e dos tribunais”. No blogue Causa Nosssa, Vital Moreira escreve que “é um disparate propor a comparência de juízes no Parlamento. Impõe-se um curso breve de Estado de direito constitucional em São Bento”.

No mesmo sentido, Marques Mendes, conselheiro de Estado, afirmou, no seu comentário na SIC, no domingo à noite, que os tribunais são independentes. “Um tribunal não é uma Direção-Geral ou uma empresa pública. Acho lamentável este tipo de comportamento”, disse o comentador.

O PAN argumenta que “este não é um caso em que se ponha em causa a autonomia e independência do TC”, porque “as declarações que sustentam este requerimento de audição não foram proferidas no âmbito de uma decisão ou de qualquer atividade no quadro do funcionamento do TC”.