Aos Sérgios e Franciscos Conceições desta vida.


Nem tudo gira em torno de questões económicas e políticas. Há questões, ou perceções, sociais que são intemporais e acredito que queiramos que resistam, sempre, por mais crise que a nossa sociedade atravesse.


Isto a propósito de um conjunto de imagens que, este fim-de-semana que passou, mais precisamente no sábado, marcou os interessados em sentimento no Estádio do Dragão.

Imagens que não têm esquerda nem direita. Que não são de moderados ou de extremistas. Que não residem assentes em mais ou menos Estado e, jamais, serão fraturantes, mas sim estimulantes.

Sou insuspeito, não torço pelo clube em questão, o FC Porto. Torço, desde que nasci e para sempre, pelo Portimonense SC e, por outras simpatias desportivas que haja, a minha não recai pelo clube de futebol que é orientado pelo ex-internacional português, Sérgio Conceição, de quem todos recordamos os três golos à Alemanha no último jogo da fase de grupos do Euro-2000. Mas, mesmo que o fosse um fervoroso adepto, esqueçamos agora, por momentos, a nossa opinião – seja ela positiva ou negativa – sobre o treinador português e a sua equipa desportiva.

Há coisas bonitas de partilhar e há reflexões emotivas que podemos ter em qualquer campo. Todos sentimos. Podemos esquecer por algum tempo ou guardar, mas mais cedo ou mais tarde todos nos lembramos do que sentimos. E deve ser sempre essa paixão que nos guia, seja num campo de futebol ou num grande palco a meio de qualquer discurso em que se pretenda disferir certeiramente a justificação da proposta em que se acredita como a melhor possível.

Qualquer projeto ou desafio deve ser vivido intensamente, com sentimento, com entrega e com paixão. Sem qualquer tacticismo artificial que reprima o carisma, a verdade, o abraço e a personalidade própria.

Porém, nem tudo é tão fácil. O mundo aceita muito mal gostos semelhantes quando em família. Aceita mal quando os apelidos são iguais e, infelizmente, vivemos numa sociedade onde os “usurpadores da paixão comum” replicam-se facilmente e, usurpando essa parte teórica bonita dos mesmos gostos, aplicam injustamente a teoria em práticas de nepotismo inaceitável de nomeações a condecorações. Sim, há. Sabemos que há. Sem ideologia ou razão, há em todo o lado quem retire expressão ao mérito para colocar o primo, o filho, o amigo. Há. E esses maus exemplos matam os bons.

No entanto, continuo a acreditar que é bonito e é genuíno na maioria das vezes que acontece sobreposição de apelidos. Que existem casos como o da filha médica que pode seguir a mesma carreira de medicina que o pai também partilha, que simplesmente calhou a ambos terem a mesma paixão. Que o filho do fisioterapeuta do clube da terra pode gostar dessa vida, onde o pai trabalhou uma vida inteira, sem segundas intenções e chegando ao topo por mérito. Que a mãe pode ser política e o filho gostar de fazer política partidária também. Sobretudo: O mérito. Seja essa o sobrenome do apelido comum que todos esses exemplos partilhem.

A que propósito vem, mais um bonito caso, na perspetiva romântica da história, os apelidos iguais?

Por estes dias, o treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, lançou em campo um dos seus filhos, Francisco. A equipa de ambos perdia por 2-0 frente ao rival da cidade e, dirão alguns, a atuação do caçula Conceição ajudou a empatar o jogo a 2 golos e, inclusive, perto dos 90 minutos de jogo, ficou mesmo a ver a bola entrar e virar o jogo a seu favor para 3-2…

O extremo deixou de ser jogador e correu para o treinador que deixou de o ser por uns segundos. Foi o filho a caminho do Pai. Para comemorarem juntos a paixão de ambos, o seu clube e a possível vitória que ali aparecia.

O vídeo-árbitro anulou o lance do 3-2 (bem, analisando a lei do jogo), porém, o que ninguém de bom coração, clube seja qual for, queria ver anulado para cortar o abraço entre o Pai Sérgio e o Filho Francisco.

Aquela imagem, com ligeiro choro do filho Francisco agarrado ao pai Sérgio, visível nas imagens de vídeo, foi bonito. Genuíno. Foi uma imagem que, pela paixão de ambos ao jogo e ao desporto, faz falta num campo de futebol, num palco político ou num negócio de família.

A vida deve ser encarada sem tacticismo. Porventura, aos olhos táticos de uma sociedade demagoga, o jogador Francisco não deveria abraçar o Treinador Sérgio porque, para alguns “cegos”, só ali joga o filho porque o pai treina essa equipa. A verdade é indiscutível: O jogador Francisco Conceição tem um talento incrível naquele desporto e, sem dúvidas, tem muito mérito em ter jogado pela equipa do treinador Sérgio Conceição contra o Boavista e, ainda ontem, ter-se estreado na Liga dos Campeões Europeus contra a Juventus do melhor atleta de todos os tempos, Cristiano Ronaldo.

O mérito deve vir sempre ao de cima, sem qualquer medo do apelido que fique por baixo de cada momento.

Esses, com mérito, sim, merecem ser valorizados. A todos esses Sérgios e Franciscos desta vida, tenham muita sorte e força para aguentar uma sociedade que não aguenta paixões de apelidos iguais.


Aos Sérgios e Franciscos Conceições desta vida.


Nem tudo gira em torno de questões económicas e políticas. Há questões, ou perceções, sociais que são intemporais e acredito que queiramos que resistam, sempre, por mais crise que a nossa sociedade atravesse.


Isto a propósito de um conjunto de imagens que, este fim-de-semana que passou, mais precisamente no sábado, marcou os interessados em sentimento no Estádio do Dragão.

Imagens que não têm esquerda nem direita. Que não são de moderados ou de extremistas. Que não residem assentes em mais ou menos Estado e, jamais, serão fraturantes, mas sim estimulantes.

Sou insuspeito, não torço pelo clube em questão, o FC Porto. Torço, desde que nasci e para sempre, pelo Portimonense SC e, por outras simpatias desportivas que haja, a minha não recai pelo clube de futebol que é orientado pelo ex-internacional português, Sérgio Conceição, de quem todos recordamos os três golos à Alemanha no último jogo da fase de grupos do Euro-2000. Mas, mesmo que o fosse um fervoroso adepto, esqueçamos agora, por momentos, a nossa opinião – seja ela positiva ou negativa – sobre o treinador português e a sua equipa desportiva.

Há coisas bonitas de partilhar e há reflexões emotivas que podemos ter em qualquer campo. Todos sentimos. Podemos esquecer por algum tempo ou guardar, mas mais cedo ou mais tarde todos nos lembramos do que sentimos. E deve ser sempre essa paixão que nos guia, seja num campo de futebol ou num grande palco a meio de qualquer discurso em que se pretenda disferir certeiramente a justificação da proposta em que se acredita como a melhor possível.

Qualquer projeto ou desafio deve ser vivido intensamente, com sentimento, com entrega e com paixão. Sem qualquer tacticismo artificial que reprima o carisma, a verdade, o abraço e a personalidade própria.

Porém, nem tudo é tão fácil. O mundo aceita muito mal gostos semelhantes quando em família. Aceita mal quando os apelidos são iguais e, infelizmente, vivemos numa sociedade onde os “usurpadores da paixão comum” replicam-se facilmente e, usurpando essa parte teórica bonita dos mesmos gostos, aplicam injustamente a teoria em práticas de nepotismo inaceitável de nomeações a condecorações. Sim, há. Sabemos que há. Sem ideologia ou razão, há em todo o lado quem retire expressão ao mérito para colocar o primo, o filho, o amigo. Há. E esses maus exemplos matam os bons.

No entanto, continuo a acreditar que é bonito e é genuíno na maioria das vezes que acontece sobreposição de apelidos. Que existem casos como o da filha médica que pode seguir a mesma carreira de medicina que o pai também partilha, que simplesmente calhou a ambos terem a mesma paixão. Que o filho do fisioterapeuta do clube da terra pode gostar dessa vida, onde o pai trabalhou uma vida inteira, sem segundas intenções e chegando ao topo por mérito. Que a mãe pode ser política e o filho gostar de fazer política partidária também. Sobretudo: O mérito. Seja essa o sobrenome do apelido comum que todos esses exemplos partilhem.

A que propósito vem, mais um bonito caso, na perspetiva romântica da história, os apelidos iguais?

Por estes dias, o treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, lançou em campo um dos seus filhos, Francisco. A equipa de ambos perdia por 2-0 frente ao rival da cidade e, dirão alguns, a atuação do caçula Conceição ajudou a empatar o jogo a 2 golos e, inclusive, perto dos 90 minutos de jogo, ficou mesmo a ver a bola entrar e virar o jogo a seu favor para 3-2…

O extremo deixou de ser jogador e correu para o treinador que deixou de o ser por uns segundos. Foi o filho a caminho do Pai. Para comemorarem juntos a paixão de ambos, o seu clube e a possível vitória que ali aparecia.

O vídeo-árbitro anulou o lance do 3-2 (bem, analisando a lei do jogo), porém, o que ninguém de bom coração, clube seja qual for, queria ver anulado para cortar o abraço entre o Pai Sérgio e o Filho Francisco.

Aquela imagem, com ligeiro choro do filho Francisco agarrado ao pai Sérgio, visível nas imagens de vídeo, foi bonito. Genuíno. Foi uma imagem que, pela paixão de ambos ao jogo e ao desporto, faz falta num campo de futebol, num palco político ou num negócio de família.

A vida deve ser encarada sem tacticismo. Porventura, aos olhos táticos de uma sociedade demagoga, o jogador Francisco não deveria abraçar o Treinador Sérgio porque, para alguns “cegos”, só ali joga o filho porque o pai treina essa equipa. A verdade é indiscutível: O jogador Francisco Conceição tem um talento incrível naquele desporto e, sem dúvidas, tem muito mérito em ter jogado pela equipa do treinador Sérgio Conceição contra o Boavista e, ainda ontem, ter-se estreado na Liga dos Campeões Europeus contra a Juventus do melhor atleta de todos os tempos, Cristiano Ronaldo.

O mérito deve vir sempre ao de cima, sem qualquer medo do apelido que fique por baixo de cada momento.

Esses, com mérito, sim, merecem ser valorizados. A todos esses Sérgios e Franciscos desta vida, tenham muita sorte e força para aguentar uma sociedade que não aguenta paixões de apelidos iguais.