O presidente do PSD completa amanhã, quinta-feira, três anos à frente do partido, estando a meio do seu segundo mandato como líder social-democrata. A pandemia de covid-19 e a crise sanitária, social e económica obrigaram o partido a adaptar-se e a fazer afinações ao discurso, sobretudo para viabilizar os sucessivos estados de emergência no Parlamento. O próximo teste, que pode ser decisivo para o líder do PSD, é o das autárquicas, que se realizam dentro de sete meses.
Quando assumiu a liderança do PSD, Rui Rio enfrentou críticas internas, sobretudo no verão de 2018 (e também no verão de 2019). As críticas foram subindo de tom, ao ponto de o líder do partido ter disputado com mais dois adversários as eleições diretas de janeiro de 2020. Ganhou e, a partir daí, quem o criticava remeteu-se praticamente ao silêncio. Enquanto o vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, que ficou em terceiro lugar na contenda interna de janeiro de 2020, comenta amiúde as posições do partido nas redes sociais, Luís Montenegro, antigo líder parlamentar do partido, saiu de cena. E dificilmente voltará.
Rui Rio garantiu uma bancada parlamentar quase pacífica, ao contrário da anterior, que fora escolhida pelo seu antecessor, Pedro Passos Coelho. Mais, a não ser figuras como Miguel Poiares Maduro ou Jorge Moreira da Silva, poucos se têm pronunciado publicamente sobre a estratégia de Rio com reparos. Paulo Rangel, eurodeputado do partido (o rosto mais proeminente do PSD em Bruxelas), deixou, contudo, alertas para a estratégia no futuro, no rescaldo das presidenciais – isto enquanto figuras do partido que saíram do Parlamento, como Carlos Abreu Amorim, têm também deixado farpas a Rio. O deputado Pedro Rodrigues é dos poucos que assumem as divergências com Rio em público. Mas nada que demova o líder da estratégia que delineou.
Hoje, por exemplo, arrancam as formações nacionais autárquicas do partido, em versão online, uma por distrito, vocacionadas para a mobilização interna e para o debate sobre as prioridades nas próximas eleições.
Internamente, há quem aponte a Rio que não conseguiu assumir a oposição destacada ao Governo, mesmo em tempos de pandemia de covid-19. Contudo, não se espera qualquer tensão interna no partido até às eleições autárquicas. Neste momento, as estruturas distritais estão focadas em testar nomes, afinar perfis de candidatos e perceber disponibilidades para um combate que se fará, concelho a concelho, nos 308 municípios. E a meta não será fácil porque é preciso aumentar a implantação do partido no terreno, depois de sucessivas perdas em 2013 e 2017.
Lisboa, Porto e capitais de distrito como Leiria, Castelo Branco, Viana do Castelo ou até Portalegre são objetivos eleitorais, mas o processo será difícil.
Porto e Rui Moreira
No Porto, por exemplo, Rio tentou envolver Paulo Rangel no processo. Chegou a conversar com o eurodeputado para a luta autárquica na Invicta. Um mês depois, Rangel disse-lhe que não. Sendo certo que o PSD terá candidato próprio, houve um jantar na passada quinta-feira entre Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD, e Rui Moreira, autarca do Porto, conforme avançou o Expresso. O encontro foi interpretado como uma tentativa de aproximação do PSD a Rui Moreira. Mas o PSD nega-o a pé juntos. “É falso que o PSD tenha feito um convite formal a Rui Moreira para liderar a lista do PSD à Câmara do Porto”, assegurou ao i Salvador Malheiro, sustentando que não há “nenhuma fonte do PSD que lhe possa ter confirmado esta especulação”. Mais, Salvador Malheiro faz uma revelação: “É verdade que Rui Moreira tentou que o PSD não apresentasse lista à Câmara Municipal do Porto, deixando a possibilidade de o PSD indicar alguns elementos para integrar a lista de Rui Moreira. Essa possibilidade foi liminarmente rejeitada”, concluiu o dirigente. Do outro lado, a versão do movimento de apoio a Moreira é que o autarca só iria a votos pelo seu movimento, e não com partidos ou por forças partidárias, negando a versão do PSD, avançou o Expresso.
No PSD acredita-se que o autarca será recandidato, o que condiciona a estratégia e acentua a dificuldade de escolher um nome que aceite um combate eleitoral mais duro.
Já em Lisboa, no limite há quem admita ao i que a solução poderá passar pelo deputado do PSD Ricardo Baptista Leite, que se tem destacado (e irritado o PS) no debate sobre a pandemia de covid-19.
Entretanto, até ao final da próxima semana, os líderes do PSD e do CDS devem fechar o acordo-quadro autárquico de coligações. De acordo com informações recolhidas pelo i, o documento não deverá apontar um número fechado de coligações (em 2017 foram mais de 100), mas definir que onde houver vontade dos dois partidos e a coligação for mais vantajosa para se alcançarem resultados, as duas direções deverão dar o seu aval. Na prática será um acordo de princípios e com regras, sem espaço para o Chega na lista de coligações.
Em 2017, o PSD garantiu a liderança de 98 autarquias, bem longe das 158 do PS. Por isso, a meta será, no mínimo, encurtar ao máximo a distância. Em dezembro, Rui Rio dizia em entrevista à Antena 1 que, em Lisboa, Fernando Medina, do PS, não era imbatível, e que, no Porto, os sociais-democratas iam para o terreno para ganhar. Estavam colocadas duas fasquias importantes.
Em janeiro de 2020, quando Rui Rio renovou o mandato, levou a votos uma moção em que defendia que o PSD deveria estar pronto para governar. E no fecho de 2020 antecipava que seria “muito difícil a legislatura chegar até ao fim”, apontando o desgaste do Governo após o debate sobre o Orçamento para 2022. Contudo, Rio já prometeu que não será ele a “colocar cascas de banana” ao Executivo, afastando para já um cenário de crise política. Porém, dentro de um ano, Rio termina o seu mandato. E as autárquicas podem ditar-lhe o fim do caminho, com o surgimento de pressões para que Passos Coelho regresse ou Rangel saia da reserva onde sempre se colocou. Os resultados eleitorais autárquicos ditarão se o PSD muda ou não de líder.