Vacinação a conta-gotas


A crise vai ser mais mais profunda e vai custar mais vidas e sofrimento do que se esperava.


Órgãos de comunicação nacional e internacional deram conta que “Em meados de janeiro de 2020, um responsável pela comunicação de crise da Comissão Europeia em Bruxelas, perguntou ao seu chefe se deviam preparar informação e umas “lines to take” sobre o assunto.

O chefe mostrou-se surpreendido: “Porquê? As questões da saúde são competência dos estados-membros”.

Este diálogo terá tido lugar quando o mundo era invadido de notícias sobre um misterioso vírus na China.

E quando os 27 chefes de Estado e de Governo da UE se reuniram para uma cimeira na capital europeia, ressaltou a identificação entre países ‘frugais’ e estados ‘amigos da coesão’, um espetáculo de discórdia em que o vírus mereceu apenas umas palavras de circunstância.

Poucas semanas depois, a Europa tornava-se o epicentro da pandemia e da mortandade.

Os países fecharam fronteiras, os pedidos de ajuda de Itália foram ignorados e alguns estados proibiram mesmo a exportação de material médico.

Hoje com o relativo insucesso da vacinação, percebem-se melhor as fragilidades da Europa, não sendo exercício fácil antecipar o lastro de consequências na vida dos europeus.

Custa assim a crer que uma Europa de ambição monetária e economicamente integradora, comece por não ter ainda um programa de infraestruturas e ações para casos extraordinários como situações de emergência pandémica ,  demorando a perceber a sua natureza global.

Mudou de agulha por via dos factos em presença e da sua amplitude, ao assumir a aquisição global de vacinas para debelar a pandemia.

Simplesmente hoje se constata que o voluntarismo não chega para vacinar milhões em pouco tempo, multiplicando-se os lamentos por todo o lado e as promessas de exigência para com o setor da química medicamentosa, produtor da vacinas nas suas diversas formulações compósitas.

Mas a questão é outra.

A Europa não é a mesma do ponto de vista industrial e auto-suficiência em produtos industriais.

A parte da indústria no valor acrescentado bruto produzido na UE diminuiu para cerca de 16 % do PIB, na década passada, havendo agora como bandeira da Comissão Europeia “reindustrializar a Europa” aumentando a participação da indústria na produção do continente, dos 15,6% de hoje para 20% até 2030.

O verdadeiro desafio é evitar que a desindustrialização se intensifique, mas o problema é que muitas empresas estão sob fogo cruzado da concorrência.

A indústria europeia é desafiada pelo setor manufatureiro dos Estados Unidos, revitalizado pela queda dos custos de energia, graças em grande parte à exploração bem-sucedida de gás de xisto.

Por outro, os exportadores chineses, são sustentados por crédito abundante e barato do governo e de baixo custo.

E em Portugal?

 Como nota a SMEunited, a organização europeia que reúne os empresários, “as PME portuguesas sofrem dez vezes mais os constrangimentos da burocracia” que as grandes empresas.

Política industrial não há, já para não falar da burocracia que não sensibiliza nenhuma governamental estrutura para o tema.

 Segundo a mesma fonte, especialmente revelador é o facto de, p.e. “as PME portuguesas precisarem de 243 horas por ano para tratar dos impostos, contra 171 das congéneres europeias”.

 Aqui chegados, como não estar a Europa a vacinar-se a conta-gotas, comparativamente com outras realidades de blocos económicos no mundo onde a indústria não foi abandonada?

 

 Jurista


Vacinação a conta-gotas


A crise vai ser mais mais profunda e vai custar mais vidas e sofrimento do que se esperava.


Órgãos de comunicação nacional e internacional deram conta que “Em meados de janeiro de 2020, um responsável pela comunicação de crise da Comissão Europeia em Bruxelas, perguntou ao seu chefe se deviam preparar informação e umas “lines to take” sobre o assunto.

O chefe mostrou-se surpreendido: “Porquê? As questões da saúde são competência dos estados-membros”.

Este diálogo terá tido lugar quando o mundo era invadido de notícias sobre um misterioso vírus na China.

E quando os 27 chefes de Estado e de Governo da UE se reuniram para uma cimeira na capital europeia, ressaltou a identificação entre países ‘frugais’ e estados ‘amigos da coesão’, um espetáculo de discórdia em que o vírus mereceu apenas umas palavras de circunstância.

Poucas semanas depois, a Europa tornava-se o epicentro da pandemia e da mortandade.

Os países fecharam fronteiras, os pedidos de ajuda de Itália foram ignorados e alguns estados proibiram mesmo a exportação de material médico.

Hoje com o relativo insucesso da vacinação, percebem-se melhor as fragilidades da Europa, não sendo exercício fácil antecipar o lastro de consequências na vida dos europeus.

Custa assim a crer que uma Europa de ambição monetária e economicamente integradora, comece por não ter ainda um programa de infraestruturas e ações para casos extraordinários como situações de emergência pandémica ,  demorando a perceber a sua natureza global.

Mudou de agulha por via dos factos em presença e da sua amplitude, ao assumir a aquisição global de vacinas para debelar a pandemia.

Simplesmente hoje se constata que o voluntarismo não chega para vacinar milhões em pouco tempo, multiplicando-se os lamentos por todo o lado e as promessas de exigência para com o setor da química medicamentosa, produtor da vacinas nas suas diversas formulações compósitas.

Mas a questão é outra.

A Europa não é a mesma do ponto de vista industrial e auto-suficiência em produtos industriais.

A parte da indústria no valor acrescentado bruto produzido na UE diminuiu para cerca de 16 % do PIB, na década passada, havendo agora como bandeira da Comissão Europeia “reindustrializar a Europa” aumentando a participação da indústria na produção do continente, dos 15,6% de hoje para 20% até 2030.

O verdadeiro desafio é evitar que a desindustrialização se intensifique, mas o problema é que muitas empresas estão sob fogo cruzado da concorrência.

A indústria europeia é desafiada pelo setor manufatureiro dos Estados Unidos, revitalizado pela queda dos custos de energia, graças em grande parte à exploração bem-sucedida de gás de xisto.

Por outro, os exportadores chineses, são sustentados por crédito abundante e barato do governo e de baixo custo.

E em Portugal?

 Como nota a SMEunited, a organização europeia que reúne os empresários, “as PME portuguesas sofrem dez vezes mais os constrangimentos da burocracia” que as grandes empresas.

Política industrial não há, já para não falar da burocracia que não sensibiliza nenhuma governamental estrutura para o tema.

 Segundo a mesma fonte, especialmente revelador é o facto de, p.e. “as PME portuguesas precisarem de 243 horas por ano para tratar dos impostos, contra 171 das congéneres europeias”.

 Aqui chegados, como não estar a Europa a vacinar-se a conta-gotas, comparativamente com outras realidades de blocos económicos no mundo onde a indústria não foi abandonada?

 

 Jurista