A ideia do PSD em adiar as eleições autárquicas por dois meses, para que possam realizar-se entre os dias 22 de novembro e 14 de dezembro não está a receber apoio dos restantes partidos. A proposta foi apresentada na sexta-feira por Rui Rio e quase imediatamente foi rejeitada pelo PS.
Também os partidos de esquerda não estão a ver com bons olhos essa ideia. O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou “no mínimo prematuro” começar a discutir o adiamento das eleições autárquicas no outono devido à crise pandémica. “É, no mínimo, prematuro estar a suscitar esta questão agora”, afirmou.
O líder comunista considerou que o país deve preocupar-se com o processo de vacinação e lembrou que se “os calendários previstos” forem cumpridos, “mais de 70% da população estará vacinada em setembro”, semanas antes das eleições locais, que poderão realizar-se em outubro. “É isso que verdadeiramente nos preocupa e aquilo em que o país se deve concentrar”, afirmou.
Já o Bloco de Esquerda remeteu a posição sobre eventual adiamento para o final do mês. “Vamos ter uma conferência autárquica dia 27 [deste mês] e decidimos não falar disso até lá”, afirmou Catarina Martins. As eleições autárquicas deste ano são um dos pontos do texto com os tópicos para a moção A e que é subscrito pela coordenadora bloquista, Catarina Martins, pelo líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, e pela eurodeputada e ex-candidata presidencial, Marisa Matias.
A XII Convenção Nacional do BE está agendada para 22 e 23 de maio, no distrito do Porto, depois de um primeiro adiamento devido à pandemia. “O Bloco tem como objetivo o aumento e rejuvenescimento da sua representação nos municípios e freguesias. O Bloco apresenta listas próprias, abertas à participação de candidatos independentes e não realizará coligações com os partidos de direita e com o Partido Socialista”, propõe. E, de acordo com o texto, os bloquistas ponderam a renovação de coligações ou o apoio a movimentos de cidadãos cujo balanço feito seja positivo. “Em cada executivo, o Bloco está disponível para todas as responsabilidades, contribuindo para a formação de maiorias que, excluindo os partidos de direita, assentem em compromissos sobre medidas fundamentais”.
Miguel Albuquerque “indiferente”
Já o líder do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, declarou ser “indiferente” para a estrutura partidária o adiamento das eleições autárquicas, defendendo que é necessário “definir rapidamente” e “com clareza” a questão.
“Para nós [PSD/Madeira] é indiferente outubro ou dezembro, não altera muito, por assim dizer, o panorama pré-eleitoral ou eleitoral”, afirmou o responsável social-democrata madeirense, à margem de uma visita à obra de construção do novo túnel do Pedregal — túnel hidráulico entre a Ameixieira e o Pedregal.
De acordo com a lei eleitoral para os órgãos das autarquias locais, estas eleições são marcadas “por decreto do Governo com, pelo menos, 80 dias de antecedência” e realizam-se “entre os dias 22 de setembro e 14 de outubro do ano correspondente ao termo do mandato”.
Segundo o líder social-democrata, a proposta de adiamento por 60 dias permitiria que a campanha decorresse com mais normalidade, garantindo a igualdade no acesso aos cargos que estão em disputa, partindo do princípio que, em setembro, 70% da população portuguesa já foi vacinada contra a covid-19. Uma proposta que teve reação quase imediata do secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, ao garantir que os socialistas se opõem à intenção do PSD, mas que estão abertos a equacionar melhorias no processo eleitoral, acusando ainda Rui Rio de estar preocupado com “dificuldades internas” do seu partido.