Ministra da Saúde defende que não se pode desvalorizar impacto das temperaturas no aumento da mortalidade

Ministra da Saúde defende que não se pode desvalorizar impacto das temperaturas no aumento da mortalidade


Marta Temido garante que mortalidade está a ser investigada mas considera que são precisas intervenções noutras áreas para minimizar impacto das temperaturas. “Da pandemia esperamos recuperar, dos fenómenos extremos certamente não nos vamos libertar”. 


A ministra da Saúde disse esta quarta-feira no Parlamento que o excesso de mortalidade está a ser investigado e considerou que não devem ser desvalorizados os efeitos das temperaturas.

Questionada pelos deputados na comissão parlamentar da Saúde, Marta Temido apresentou as conclusões de uma análise do INSA até 3 de janeiro, considerando que houve quatro momentos de excesso de mortalidade, na primeira vaga, dois no verão e um terceiro período que começou no final de novembro e no ínício de janeiro se mantinha.

Na altura tinham morrido já nas últimas semanas do ano mais 4 mil pessoas do que seria expectável face ao histórico dos últimos cinco anos. "Naturalmente que precisamos de continuar a estudar estes fenómenos mas não podemos ignorar, nem me parece que a comissão de saúde possa tecnicamente fazê-lo, que há uma associação entre impactos na mortalidade e fenómenos extremos na temperatura, seja frio ou calor. Não há nenhum motivo para que esses fenómenos sejam desvalorizados, o que acontece por vezes quando se abordam estas questões", disse Marta Temido. "Da pandemia esperamos recuperar, dos fenómenos extremos certamente não nos vamos libertar. As alterações climáticas são algo que veio para ficar. São fenómenos conhecidos e temos de minimizar os seus impactos, o que invoca áreas tão importantes como as condições de habitabilidade", acrescentou. A ministra da saúde reconheceu no entanto que além dos períodos com mortalidade acima do que seria expectável, "mesmo nos períodos sem excesso de mortalidade há um acréscimo em relação à média de anos anteriores", dando nota de que o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge está a analisar com mais detalhes esta tendência.

Segundo a plataforma de vigilância de mortalidade do Ministério da Saúde (EVM), o número de óbitos no país, que atingiu níveis sem precedentes em janeiro, continua "muito acima do esperado". Nos últimos sete dias houve mais de 1400 mortes acima do expectável. Apesar de os dados estarem disponíveis diariamente na plataforma online, o balanço de janeiro não foi apresentado pela ministra da Saúde no Parlamento. Foi o janeiro com mais mortes no país desde que já registos em mais de 100 anos, perto de 20 mil mortes por todas as causas e na semana passada já tinham morrido mais pessoas no país desde o início do ano do que em janeiro e fevereiro do ano passado. Historicamente, só no pico da pneumónica em 1918 foram registadas mais mortes, com os meses de outubro e novembro de 1918 a registarem mais de 120 mil óbitos. 

Em janeiro, segundo a vigilância de mortalidade no site EVM, houve um excesso de mais de 7 mil mortes face ao que seria expectável em janeiro, que superou o excesso de mortalidade registado em todo o ano passado.