A espera do nada


Quando a necessidade de escrever me pega nas mãos e as coloca sobre o tabuleiro do qwert, tudo volta a fazer sentido. A solidão desaparece, a liberdade regressa, a maldição fatal desta estúpida maleita deixa de ser feita para pensarmos nela e passa a ser feita para olharmos para ela e não estarmos de acordo.


As nuvens deram a alcácer todos os tons possíveis de cinzento. Teimosas, mantêm-se dependuradas num céu sem abertas, imóveis, tirando o brilho às coisas deste mundo outra vez cinzento, outra vez escuro, outra vez sem futuro. Talvez, como escreveu Pessoa pela mão de Caeiro, tudo esteja certo e no seu lugar: “O mundo não foi feito para pensarmos nele/ Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo”.

Como não estar de acordo com as gaivotas que vogam no Sado como barquinhos de papel? Como não estar de acordo com o nuvem negra do bando de mergulhões que procura a água num campo de milho? Como não estar de acordo com este momento que, pelo meio do silêncio, escuto dentro de mim mesmo? A engrenagem da Terra rodando teimosamente em seu redor, rodando teimosamente em redor do Sol, maquinaria pesada de rodas dentadas a precisarem de ser oleadas.

Quando a necessidade de escrever me pega nas mãos e as coloca sobre o tabuleiro do qwert, tudo volta a fazer sentido. A solidão desaparece, a liberdade regressa, a maldição fatal desta estúpida maleita deixa de ser feita para pensarmos nela e passa a ser feita para olharmos para ela e não estarmos de acordo. O que vai dar ao mesmo. Ninguém nos pediu opinião.

Um ruído de vento pelo meio do silêncio dá para perceber que a Terra leva as janelas abertas quando acelera pela estrada da translação. É a única certeza que tenho de que o tempo continua a passar neste planeta geralmente inquieto, e agora transido de medo. Entre um dia e o outro, o tempo é meu. Ou, pelo menos, gostava de o sentir assim. Agora resta-nos a espera. E a espera de quê? Repito para mim próprio o mantra do Buda: “Há uma espera que não é ar nem água; nem terra nem fogo. É a espera do nada. E, aí sim, acaba o sofrimento”. E eu com a sensação de que o nada já chegou e veio para ficar à mistura com o sofrimento…


A espera do nada


Quando a necessidade de escrever me pega nas mãos e as coloca sobre o tabuleiro do qwert, tudo volta a fazer sentido. A solidão desaparece, a liberdade regressa, a maldição fatal desta estúpida maleita deixa de ser feita para pensarmos nela e passa a ser feita para olharmos para ela e não estarmos de acordo.


As nuvens deram a alcácer todos os tons possíveis de cinzento. Teimosas, mantêm-se dependuradas num céu sem abertas, imóveis, tirando o brilho às coisas deste mundo outra vez cinzento, outra vez escuro, outra vez sem futuro. Talvez, como escreveu Pessoa pela mão de Caeiro, tudo esteja certo e no seu lugar: “O mundo não foi feito para pensarmos nele/ Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo”.

Como não estar de acordo com as gaivotas que vogam no Sado como barquinhos de papel? Como não estar de acordo com o nuvem negra do bando de mergulhões que procura a água num campo de milho? Como não estar de acordo com este momento que, pelo meio do silêncio, escuto dentro de mim mesmo? A engrenagem da Terra rodando teimosamente em seu redor, rodando teimosamente em redor do Sol, maquinaria pesada de rodas dentadas a precisarem de ser oleadas.

Quando a necessidade de escrever me pega nas mãos e as coloca sobre o tabuleiro do qwert, tudo volta a fazer sentido. A solidão desaparece, a liberdade regressa, a maldição fatal desta estúpida maleita deixa de ser feita para pensarmos nela e passa a ser feita para olharmos para ela e não estarmos de acordo. O que vai dar ao mesmo. Ninguém nos pediu opinião.

Um ruído de vento pelo meio do silêncio dá para perceber que a Terra leva as janelas abertas quando acelera pela estrada da translação. É a única certeza que tenho de que o tempo continua a passar neste planeta geralmente inquieto, e agora transido de medo. Entre um dia e o outro, o tempo é meu. Ou, pelo menos, gostava de o sentir assim. Agora resta-nos a espera. E a espera de quê? Repito para mim próprio o mantra do Buda: “Há uma espera que não é ar nem água; nem terra nem fogo. É a espera do nada. E, aí sim, acaba o sofrimento”. E eu com a sensação de que o nada já chegou e veio para ficar à mistura com o sofrimento…