Luxo. “Foi e será sempre o menos impactado pelas crises”

Luxo. “Foi e será sempre o menos impactado pelas crises”


Responsáveis do setor garantem que o mercado de luxo do imobiliário pouco sentiu o peso da pandemia. APEMIP defende que a crise sanitária veio afetar. Estrangeiros ainda mostram interesse em Portugal.


O mercado de luxo não está ao alcance de todos mas, mesmo assim, com a crise gerada pela pandemia, seria de esperar que este mercado contasse com algumas quebras. Na verdade, não foi isso que aconteceu. Até porque “o verdadeiro mercado de luxo é bastante resiliente e apresenta preços pouco elásticos”, diz ao i Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal. “Neste segmento é expetável um aumento do tempo médio de venda dos imóveis, mas mantendo a estabilidade nos preços”, acrescenta.

Este é, aliás, um mercado que consegue resistir bem às crises. “O mercado de luxo foi e será sempre o menos impactado pelas crises pandémicas”, diz Patrícia Barão, head of residential da JLL, acrescentando que foi ainda registado “um aumento da dinâmica nas transações de imóveis com os valores mais altos”. Assim sendo, não há dúvidas: “Os preços deste segmento irão manter-se estáveis”.

Já Vasco Fernandes, managing partner da Engel & Völkers Quinta do Lago, explica que este mercado “tem-se revelado estável no que respeita a transações, principalmente na nossa área, Quinta do Lago e Vale do Lobo”.

A situação pandémica deixou os responsáveis do setor “um pouco apreensivos”, uma vez que “o mercado congelou tanto na oferta como na procura nos primeiros meses”. No entanto, os meses de verão trouxeram uma lufada de ar fresco e foi sentido, a partir dessa altura, “um grande aumento na procura e no que respeita a transações”, tendo a Quinta do Lago conseguido crescer face ao ano homólogo.

No que diz respeito a preços, o ano transato contou com uma estabilização neste segmento. Ainda assim, “a procura a aumentar e a escassez na oferta levaram a alguma tendência da subida de preços nos últimos meses”, avança Vasco Fernandes. No entanto, a incerteza da pandemia e as decisões políticas mundiais “podem trazer novidades ao mercado de luxo, mas são meras especulações”.

No entanto, a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) tem outra visão. Questionado sobre se o mercado de luxo terá sido afetado pela pandemia, Luís Lima, presidente da associação, responde afirmativamente. E justifica: “Este segmento depende muito da procura e do investimento estrangeiro, que a pandemia veio limitar. No ano passado, o número de negócios feitos neste âmbito terá sido muito residual”, diz ao i.

O responsável defende que é neste mercado que os preços poderão sofrer mais oscilações, o que não o surpreende, “uma vez que já se começavam a sentir correções aos preços praticados, nomeadamente aqueles que estavam mais aquecidos, ainda antes da pandemia”.

Atração para os estrangeiros É sabido que este mercado é uma grande atração para o público estrangeiro e o facto de Portugal apresentar números pouco positivos face à pandemia poderá afastar a ideia de país seguro que durante muitos anos teve. “Portugal tem hoje uma forte notoriedade internacional e continua a registar bons níveis de procura neste segmento”, garante Ricardo Sousa. Mas admite que a situação pandémica pode trazer problemas, uma vez que “limita as conclusões das operações internacionais, tendo em conta os constrangimentos inerentes à mobilidade entre países”.

A ERA considera que o mercado poderá tornar-se mais atrativo para investidores estrangeiros, até porque não há dúvidas: “Os clientes e investidores estrangeiros foram e continuam a ser um dos pilares do setor imobiliário”. E mesmo com a pandemia, este mercado continua a ser “atrativo aos olhos dos países estrangeiros e isso tem sido comprovado pela contínua aposta de investidores estrangeiros no que o nosso país tem para oferecer, mesmo em contexto de pandemia”, diz Rui Torgal, diretor-geral da ERA Portugal. O responsável diz ainda que os estrangeiros continuam a olhar com interesse para Portugal e “muitas das excelentes oportunidades que têm surgido no mercado imobiliário português têm sido aproveitadas pelos nossos clientes estrangeiros”.

Também Vasco Fernandes está convicto de que os estrangeiros não vão abandonar o país no que diz respeito a este setor. “Temos verificado um aumento da procura do mercado internacional para habitação permanente, assim como aumento da procura para férias e investimento”, garante.

A mesma linha de pensamento é seguida por Patrícia Barão ao garantir que o país “continua no radar do mercado internacional”. E mesmo com a pandemia, a situação não mudou. “As condições de atratividade para investidores estrangeiros mantêm-se. Somos um país seguro, com uma qualidade de vida única, um povo hospitaleiro, com uma qualidade superior nas infraestruturas de saúde e ensino, e o nosso imobiliário tem qualidade, com um preço inferior às restantes cidades europeias. Portanto, vamos continuar a ser altamente atrativos para o mercado internacional”, defende a responsável da JLL.

Por seu turno, a APEMIP afirma que primeiro é preciso que a pandemia passe. Depois disso, “o imobiliário nacional tem todas as condições para tornar a estar no centro da procura de potenciais investidores estrangeiros”, diz Luís Lima, que não tem dúvidas de que existem grandes oportunidades, “sobretudo se pensarmos numa perspetiva de descentralização do investimento para fora das grandes cidades, onde ainda há grande potencial de valorização”. Só que, para que isso aconteça, “é necessária uma segurança e estabilidade que a atual situação sanitária não permite ter”.

Nacionalidades com mais peso Os responsáveis pelo setor garantem que quem tem mais peso na procura por este mercado é o Reino Unido. No entanto, destacam também França, Brasil e ainda a China.

“O nosso mercado é maioritariamente britânico. Em 2020 sentimos uma diversificação de nacionalidades. Por exemplo, os alemães aumentaram a sua procura, suecos, franceses, alguns norte-americanos também sentem que o nosso mercado é atrativo e seguro para investir”, detalha Vasco Fernandes.

Tal como este responsável, também os restantes notam uma procura maior por parte de países não tão comuns.