Eduardo Oliveira e Silva, excelente jornalista e companheiro de longa data, na sua última crónica aqui no i desenvolveu a ideia que expus no meu último artigo também neste jornal, introduzindo, no entanto, um ponto fundamental, “a estratégia de sobrevivência de António Costa”.
Não excluiu, no entanto, a hipótese de Passos Coelho estar a preparar-se para avançar para a liderança do PSD, recordando, e bem, que este cenário “teria de contar com uma amnésia coletiva de milhões de reformados, desempregados e trabalhadores aos quais a dupla Passos/Portas cortou tudo o que podia, indo para além da troika”.
Gostaria, em primeiro lugar, de esclarecer que não nutro por Passos Coelho qualquer simpatia pessoal e que subscrevo totalmente a afirmação que acima reproduzi.
No entanto, como sabemos, em política pode-se morrer várias vezes. E é importante não esquecer que o PSD, liderado por Passos Coelho, ganhou as eleições de 2015, depois de um período de grave crise económica e de medidas draconianas que motivaram as maiores manifestações de protesto da nossa democracia.
Apesar dos muitos erros que cometeu, assim como alguns dos seus ministros, Passos Coelho revelou qualidades de liderança, uma linha política coerente e, concordando-se ou discordando-se, um fim que justificou os meios.
Seja como for, a direita democrática, ou parte dela, tocou a rebate. No CDS, partido moribundo e em grave risco de ser reduzido à irrelevância política, assumiram-se já candidatos à liderança, comprovada que está a total impreparação do atual presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos. No entanto, a teimosia deste em não aceitar a convocação de um congresso extraordinário pode afastar de vez o candidato que pode trazer um novo alento ao partido, Adolfo Mesquita Nunes. O aggiornamento da direita democrática parece-me inevitável, se quiser constituir-se como alternativa credível ao atual Governo e à sua base de apoio político.
A questão central levantada inteligentemente por Eduardo Oliveira e Silva, os próximos passos de António Costa, vai constituir a próxima tarefa do Presidente da República, atento que vai estar a todas as movimentações. Como é óbvio, são cenários que se colocam numa fase pós-pandemia ou, pelo menos, com a situação mais controlada.
O desgaste do Governo é óbvio. O afastamento dos seus parceiros também não oferece dúvidas. O nervosismo do primeiro-ministro traz à flor da pele alguns tiques autoritários, como revelou o recente episódio da condenação de deputados europeus portugueses que criticaram o processo de escolha do procurador europeu, apelidando essas críticas de “campanha contra Portugal”, fazendo mesmo lembrar outros tempos em que o Governo se confundia com a nação.
Confrontado com uma perspetiva de um novo élan à sua direita e com a sua base de apoio a diluir-se, Costa terá, de facto, a tentação de partir para eleições antecipadas. Resta saber se Marcelo vai na conversa.
Portugal precisa de alternativas políticas claras, ao contrário do apelo de alguns notáveis para um “Governo de salvação nacional”, seja lá isso o que for.
Jornalista