Portugal, uma “democracia com falhas”


A justificação para a queda no ranking democrático refere também “a falta de transparência no processo de nomeação do presidente do Tribunal de Contas”. E isto sim, deve preocupar-nos. 


A diferença é subtil (uma descida de 8,03 para 7,90 pontos) e por isso não devemos exagerar a sua importância. Em todo o caso, como dizia alguém, as palavras ainda contam para alguma coisa, e portanto a passagem de Portugal da categoria de “país totalmente democrático” para a de “democracia com falhas”, segundo o Índice de Democracia do The Economist, não pode ser ignorada.

Para esta avaliação contribuíram os sucessivos estados de emergência decretados durante a pandemia. Esses, diria eu, eram inevitáveis – e, no que toca ao que está em vigor, até pecou por tardio.

Mas a justificação para a queda no ranking democrático refere também “a falta de transparência no processo de nomeação do presidente do Tribunal de Contas”. E isto sim, deve preocupar-nos. Vítor Caldeira, o anterior presidente do TdC, era uma figura incómoda e a sua não recondução trouxe à memória um período em que a democracia esteve mais ameaçada do que nunca, em que ocupavam posições-chave, nomeadamente na justiça (mas também na banca ou na comunicação social), figuras cúmplices que se notabilizaram por não colocar obstáculos ao poder político. Outro caso que o Economist poderia ter mencionado e não mencionou foi o da procuradora Joana Marques Vidal, que tanto fez pelo combate à corrupção e também não foi reconduzida. Mas há outros.

É curioso que há dias Paulo Pedroso, o diretor de campanha de Ana Gomes, tenha alertado: “Se o taticismo continuar a imperar, preparem-se para um inverno democrático inesperado e evitável”. Pedroso referia-se, claro está, ao crescimento da direita, em especial ao resultado obtido por André Ventura.

A esquerda tem uma tendência irresistível para se confundir a si e aos seus interesses com a democracia e, quando os resultados não a favorecem, é a própria democracia que está em perigo. Curiosamente, o Economist diz outra coisa: a qualidade da democracia degradou-se (tenuemente, mas degradou-se) sob domínio socialista. O problema são sempre os outros. 

Portugal, uma “democracia com falhas”


A justificação para a queda no ranking democrático refere também “a falta de transparência no processo de nomeação do presidente do Tribunal de Contas”. E isto sim, deve preocupar-nos. 


A diferença é subtil (uma descida de 8,03 para 7,90 pontos) e por isso não devemos exagerar a sua importância. Em todo o caso, como dizia alguém, as palavras ainda contam para alguma coisa, e portanto a passagem de Portugal da categoria de “país totalmente democrático” para a de “democracia com falhas”, segundo o Índice de Democracia do The Economist, não pode ser ignorada.

Para esta avaliação contribuíram os sucessivos estados de emergência decretados durante a pandemia. Esses, diria eu, eram inevitáveis – e, no que toca ao que está em vigor, até pecou por tardio.

Mas a justificação para a queda no ranking democrático refere também “a falta de transparência no processo de nomeação do presidente do Tribunal de Contas”. E isto sim, deve preocupar-nos. Vítor Caldeira, o anterior presidente do TdC, era uma figura incómoda e a sua não recondução trouxe à memória um período em que a democracia esteve mais ameaçada do que nunca, em que ocupavam posições-chave, nomeadamente na justiça (mas também na banca ou na comunicação social), figuras cúmplices que se notabilizaram por não colocar obstáculos ao poder político. Outro caso que o Economist poderia ter mencionado e não mencionou foi o da procuradora Joana Marques Vidal, que tanto fez pelo combate à corrupção e também não foi reconduzida. Mas há outros.

É curioso que há dias Paulo Pedroso, o diretor de campanha de Ana Gomes, tenha alertado: “Se o taticismo continuar a imperar, preparem-se para um inverno democrático inesperado e evitável”. Pedroso referia-se, claro está, ao crescimento da direita, em especial ao resultado obtido por André Ventura.

A esquerda tem uma tendência irresistível para se confundir a si e aos seus interesses com a democracia e, quando os resultados não a favorecem, é a própria democracia que está em perigo. Curiosamente, o Economist diz outra coisa: a qualidade da democracia degradou-se (tenuemente, mas degradou-se) sob domínio socialista. O problema são sempre os outros.