A dúvida ficou desfeita pela manhã, ainda o avião da Força Aérea alemã estava a caminho de Portugal. Os militares alemães que esta quarta-feira chegaram a Portugal vão ficar a trabalhar todos juntos e assegurar uma nova ala de cuidados intensivos no Hospital da Luz, que já estava a receber doentes do Serviço Nacional de Saúde e onde na semana passada já tinha sido aberta uma enfermaria para doentes transferidos do Hospital Amadora-Sintra, assegurada por uma equipa de médicos e enfermeiros enviados do hospital na Amadora. Segundo o i apurou, a integração dos militares alemães ficou fechada só na terça-feira e a preocupação foi que ficassem a trabalhar no mesmo sítio, dada também a contingência linguística.
Nos hospitais públicos de Lisboa, com a capacidade de UCI já no limite, a solução seria abrir mais algumas camas mas não havia uma zona apta a abrir uma nova ala na capital. No Hospital da Luz, a ampliação dos cuidados intensivos para o novo espaço no edifício inaugurado no ano passado estaria já a ser planeada. E auscultados os hospitais, acabou por ser a opção do Governo, que nos últimos dias não adiantou quaisquer detalhes sobre os planos para integrar a equipa alemã.
O grupo Luz Saúde referiu ontem que os preparativos aconteceram em tempo recorde. “Para corresponder ao apelo do Ministério da Saúde, foi possível realocar doentes, recursos e adaptar espaços, em tempo recorde, por forma a disponibilizar um núcleo de mais 8 camas de cuidados intensivos que permitisse à equipa alemã trabalhar num espaço único, proporcionando-lhes condições de maior eficiência no tratamento de doentes graves provenientes de hospitais públicos da Região de Lisboa”.
O grupo José de Mello Saúde indicou no entanto que também foi auscultado pelo Ministério da Saúde tendo mostrado disponibilidade para integrar a equipa, tendo a opção do Governo sido outra, indicou fonte da empresa. O Bloco de Esquerda questionou ontem o Governo sobre esta opção e exige esclarecimentos urgentes: “Os hospitais do SNS são o que estão mais sobrecarregados, os seus profissionais são os que estão mais assoberbados de trabalho; a Ministra da Saúde tem dito que o problema é a falta de profissionais e que se eles existissem seria possível expandir as repostas de internamento e de UCI”, lê-se na pergunta dirigida ao Ministério da Saúde pelo BE, que quer passar a pente fino a decisão e questiona que hospitais públicos foram auscultados, de que profissionais precisam e se foi estabelecido “algum protocolo ou acordo com o hospital da Luz ou proceder-se-á à requisição dos recursos necessários, sob gestão do SNS, neste e noutros hospitais do setor privado e social, de forma a aumentar a capacidade de internamento no país”.
Para já, sabe-se que a ajuda alemã permitirá esta semana reforçar em oito camas para doentes críticos a resposta na região de Lisboa. Segundo o i apurou, os oito médicos e 18 enfermeiros são os profissionais suficientes para assegurar o núcleo 24 horas por dia. No início desta semana os hospitais públicos da região de Lisboa tinham já 339 doentes internados em UCI, mas já tinham enviado doentes para outras regiões e três doentes críticos para a Madeira. Esta terça-feira, pelo segundo dia consecutivo, houve uma diminuição dos casos diagnosticados face à semana anterior na região de Lisboa, o que sugere agora uma diminuição dos contágios também a Sul, mas a transmissão mantém-se num patamar mais elevado do que no resto do país e com os hospitais no limite.
Também os internamentos em UCI voltaram a subir esta terça-feira e ontem foram transferidos para o Norte mais doentes de Lisboa. O dia da chegada de ajuda internacional ficou marcado por um novo máximo de doentes com covid-19 internados em cuidados intensivos, 877 (no início do ano eram 483). Segundo dados disponibilizados pela DGS, no final de janeiro, dos 865 doentes internados em UCI, 111 tinham menos de 50 anos. Mais de metade, 494, estão na faixa etária entre os 50 e os 60 anos. São menos os doentes mais velhos internados em UCI: na faixa etária dos 70 anos contabilizavam-se 239 doentes em UCI e apenas 20 têm mais de 80 anos, sendo este o grupo etário em que há mais doentes hospitalizados em enfermaria.