CDS. ‘Chicão’’ tem um ano de liderança e já se fazem contas à sucessão

CDS. ‘Chicão’’ tem um ano de liderança e já se fazem contas à sucessão


Adolfo Mesquita Nunes desafiou líder para conselho nacional e marcação de congresso eletivo extraordinário. João Almeida fora da corrida.


Francisco Rodrigues dos Santos chegou a líder do CDS há um ano, no rescaldo de um dos piores resultados de sempre do partido em eleições legislativas. Foi encarado como a solução para levar o partido a um novo patamar eleitoral. Mas a dimensão dos votos de André Ventura, líder do Chega, nas eleições presidenciais, obrigou a um abanão interno. Houve conversas em vários setores dos centristas e eis que há um nome a deixar o derradeiro desafio ao presidente centrista. Será altura de convocar um conselho nacional, órgão máximo entre congressos, e apontar caminho a um congresso eletivo extraordinário . Foi Adolfo Mesquita Nunes que lançou o desafio num artigo de opinião no Observador no mesmo dia em que ‘Chicão’, como é conhecido internamento no partido, dava uma entrevista ao mesmo órgão de comunicação social. O líder começou por garantir na mesma entrevista que não tem medo de ir a votos, mas que quem o desafia tem de recolher assinaturas para cumprir o desafio lançado. À tarde, acrescentou: “Não fui eleito por ter padrinhos no CDS, nem com apoio de barões, fui eleito com o apoio das bases do CDS que sabem que estarei neste lugar até entenderem que eu sou útil ao serviço do meu país”, disse em declarações aos jornalistas, horas antes de se reunir com o líder do PSD, Rui Rio, para falar de autárquicas. À noite, Rodrigues dos Santos tinha agendada também uma reunião da comissão executiva e amanhã, sexta-feira, é a vez da comissão política nacional. Para já, não está marcado novo conselho nacional.

E o que escreveu Adolfo Mesquita Nunes para gerar esta reação? “ A crise de sobrevivência que o CDS hoje atravessa não conseguirá ser resolvida com esta direção. Daqui a um ano, será tarde demais. Se for já, ainda vamos a tempo de autárquicas”.

Na resposta, Francisco Rodrigues dos Santos contra-atacou: “Não se convocam eleições no CDS por dá cá aquela palha”. Mas, de facto, o líder do CDS está longe de ter o seu lugar seguro. Com este artigo de opinião abriu-se caminho a conversas, reflexões e alinhamentos. Assim, os próximos dias serão decisivos para se perceber se a atual direção de Chicão está, ou não, comprometida.

Quem foi a congresso como candidato há um ano e perdeu foi João Almeida, deputado centrista. O parlamentar conversou com várias pessoas sobre o futuro do CDS e fez saber que não faz parte dos seus objetivos voltar a concorrer num congresso extraordinário. Está fora desta contenda. Em declarações ao i, deixou escapar, no entanto, uma frase que ilustra bem o momento do CDS: “É muito importante que haja esperança para o futuro do partido”. Por sua vez, questionado pelo i se considera importante um congresso eletivo extraordinário, o antigo dirigente do CDS (e um dos senadores do partido), António Lobo Xavier defendeu que pode ser útil um congresso, mas para afinar a estratégia: “A ideia de um congresso parece-me sempre ser uma boa ideia, claro que há discussões a fazer e estratégias a afinar. O líder do CDS tem razão quando diz que não se pode fazer um congresso sempre que vem um pedido da rua… Mas há certamente muita gente de boa fé que gostaria de refletir e discutir”, defendeu o também conselheiro de Estado.

Por seu turno, Abel Matos Santos, que integrou a direção de Rodrigues dos Santos, e saiu após uma polémica sobre o seu pensamento sobre Salazar e a PIDE, vai direto ao assunto. Quer a saída de Francisco Rodrigues dos Santos e uma direção de salvação nacional para o CDS. “Francisco Rodrigues dos Santos não tem condições para ser líder do CDS. A solução, que não está ao alcance de todos, só de grandes homens, passaria por Francisco Rodrigues dos Santos reconhecer a sua incapacidade, assumir isso e criar condições para a criação de uma direção de salvação do CDS com figuras relevantes e capazes da direita conservadora”, afirmou ao i.

Entretanto, ontem Rio e o líder do CDS definiram que vai haver um acordo -quadro para as autárquicas com uma certeza: o Chega não fará parte de qualquer coligação. Estará excluído. O mesmo se aplica a eleições legislativas.

*com Luís Claro