26 de janeiro de 1956.  200 anos de Wolfgang Amadeus – decompondo o compositor

26 de janeiro de 1956. 200 anos de Wolfgang Amadeus – decompondo o compositor


O Conservatório Nacional preparou um programa para comemorar o duplo centenário do nascimento de Amadeus Mozart. Palestras, aulas, concertos, momentos em que professores e alunos puderam misturar-se para entenderem ao pormenor a obra do divino mestre.


Na véspera da comemoração dos 200 anos do nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart, o Conservatório Nacional organizava um programa de estadão. E sobretudo uma série de palestras a cargo das maiores sumidades do país sobre o compositor precoce que, aos seis anos, já fizera a sua primeira digressão exibindo a forma extraordinária como dominava as teclas do cravo.

Maria Helena Teixeira Mendes, Maria Augusta Alves Barbosa, Maria Gabriela Dias Gomes, Maria Amélia Mota Capitão, Ana de Brito Aranha, Armando Santiago, Flaviano Rodrigues: os nomes nunca mais acabavam, tal como as composições de Mozart, que viveu apenas 35 anos e, ainda assim, deixou uma obra vasta e incontornável.

Inconformado, visionário, revolucionário, Wolfgang atirou pedras contra o estado pantanoso em que a música se encontrava ao tempo em que nasceu. Do artista livre, cabia aos lentes do Conservatório traçarem aos seus alunos ávidos não apenas a história de vida mas, igualmente, a história de uma música singular e diferenciada, perseguida pelos espíritos mesquinhos da corte de Viena. O duplo centenário de Mozart servia não só para recordá-lo mas, sobretudo, para impedir que alguma vez caísse no esquecimento. Ele, que morreu pobre e cujo cadáver foi atirado para uma vala comum como o mais banal dos mendigos.

Depois passou-se das palavras aos atos. Os professores do Conservatório, acompanhados pelos alunos mais evoluídos, fizeram soar os acordes de Wolfgang, interrompendo-os de quando em vez para explicar, aqui e ali, pormenores desta ou daquela passagem. Era, como diriam os Monty Python, uma forma de decompor o compositor. E de chamar a atenção para os pormenores magníficos que fugiam, por vezes, aos ouvidos mais atentos.

Mozart morreu há 230 anos. Ou melhor, não morreu porque continua a acompanhar-nos por toda a parte com os sons encantatórios que foi capaz de produzir. Nesse janeiro de 1956, Lisboa reviveu a sua obra até ao mais pequeno dos pormenores. A professora de canto Ana de Brito Aranha fez-se acompanhar por Manuela Rego, ao piano, e Felipe Pereira Oliva, um dos mais dotados alunos de violino, para interpretar várias árias do jovem imortal que tinha um nome que não deixava ninguém indiferente: Amadeus. Talvez por isso tenha morrido cedo. Afinal, todos sabemos que morrem cedo aqueles que os deuses amam. Mozart não foi exceção.