A humanidade tem de interiorizar que vai ter que conviver com a covid-19 ainda num futuro próximo, tal como tem feito com a sida, uma doença também originada num vírus provindo de um animal, disse, esta sexta-feira, o enviado especial para a pandemia na Organização Mundial de Saúde, David Nabarro.
"Eu evito falar da vida depois da covid. Penso que este vírus vai provavelmente viver com a raça humana no futuro próximo. (…) Penso que a humanidade deve aprender a viver com a covid como uma presença constante", afirmou, durante uma conferência online, organizada pela consultora Global Counsel.
David Nabarro, formado em medicina e com uma grande experiência em missões internacionais de combate à malária, ébola ou gripe das aves, evidenciou o vírus da VIH que também provem de origem animal e que afeta os humanos, com a qual os seres humanos têm de conviver.
"Mas encontrámos formas de adaptar as nossas vidas pessoais e cuidados de saúde, para se seja possível, graças aos cientistas, viver com os riscos colocados pelo VIH. A humanidade foi capaz de empurrar o VIH para uma situação em que é uma ameaça com a qual podemos viver", sublinhou o médico britânico.
Apesar de ambas serem de origem animal, não há nenhuma vacina ou cura definitiva para a sida, apenas foram desenvolvidas terapêuticas que podem alongar a vida do infetado. Já para a covid-19, foram desenvolvidas e administradas vacinas, porém não é garantido uma imunidade duradoura e completa.
No evento online intitulado "Saúde pública global em tempos de crise", Nabarro diz que há um grande risco de novas pademias e que 75% dos novos vírus nascem no mundo animal, ainda que muitos surtos locais acabam por ser disseminados antes de se conseguirem espalhar mundialmente.
Estes vírus estão a aparecer com maior frequência "porque estamos tão determinados em expandir para áreas que usamos para produzir comida ou mineração ou atividades de lazer", explicou David Nabarro.
Os "humanos querem entrar nos habitats onde existem animais que podem transportar este tipo de vírus. Temos de reduzir a nossa pressão sobre habitats onde pode existir patógenos que podem contagiar humanos", mencionou.