É corrente por estes dias, quem sabe num exercício de má consciência, muitos de nós dizermos que a culpa do agravamento da pandemia é nossa – da comunidade –, não do Governo. Dizer que a culpa é de quem não cumpre é uma verdade de La Palice. A questão é: como se resolve? Como se mobiliza quem viola as regras?
Desde logo com boas regras, compreensíveis e inteligentes, bem fundamentadas e que não aparentem ser cruéis para uns e tolerantes com outros. Regras que não sejam a exceção e, por isso, criem no espírito de cada um que há interesses corporativos que se agigantam e escapam incólumes às mesmas. Regras que venham amparadas por compensações. A título de exemplo, é muito mais fácil pregar o dever de solidariedade de uns para com os outros quando a solidariedade consiste em abdicar daquilo que se construiu uma vida inteira – o percurso, o negócio, a subsistência. Outros, por seu lado, basta-lhes cumprir o indesejável confinamento que a sua vida, melhor ou pior, vencida esta etapa, não se apresenta como um nevoeiro cerrado, sem caminho, sem futuro. É isto que os empresários e trabalhadores do turismo, restauração e muitos outros sentem quando não podem trabalhar mas, sobretudo, quando não os ajudam a sobreviver. A estes pede-se-lhes tudo, mas dá-se-lhes quase nada. Mais difícil é lidar com esta situação quando a outros se lhes pede quase nada e se lhes dá tudo. Não é justo, não é solidário. O fardo não pode ser carregado só por alguns.
Regras boas ajudam, mas não bastam. Ao Estado cabe fazer cumprir. Quantos conhecem casos de incumpridores que tenham sido castigados? De quem não cumpriu horários ou não usa máscara? Poucos ou nenhuns. Não se pune, logo não se corrige nem se obriga. O confinamento e as suas regras não são voluntárias, independentemente de cada um concordar ou não com as mesmas. Não sancionar equivale a dissolver a autoridade do Estado e abdicar da coerção que é indissociável da organização do poder político e da sociedade.
Ainda há muito a fazer para que a culpa deixe de ser de todos.
Deputado do PSD