O governo da irresponsabilidade política


A pandemia já não é só uma grave crise sanitária. Atingiu a política, onde o uso de máscaras faz parte, há muito, da atividade, assim como a lavagem de mãos.


Afinal, o que é um ministro? Para que serve?

Em primeiro lugar, um ministro é o responsável por transpor para a sua pasta as grandes diretivas políticas do Governo. Em muitos casos, é um político e não necessariamente um especialista na área que tutela. Noutros casos é um profundo conhecedor da sua pasta. Mas, um ministro é sempre e acima de tudo um responsável político.

Em março de 2001 aconteceu a tragédia da queda da ponte de Entre-os-Rios, causando 59 mortes. O ministro do Equipamento Social, Jorge Coelho, pediu a demissão, contra a vontade do então primeiro-ministro, António Guterres. E justificou: “A culpa não pode morrer solteira”.

Pois bem. No ano passado, um cidadão ucraniano é morto nas instalações do SEF em circunstâncias verdadeiramente escandalosas. O que acontece? Cai a diretora do serviço. O ministro da Administração Interna continua firme no seu cargo.

A nomeação do representante português na Procuradoria Europeia, envolta desde o início em polémica, revelou-se uma verdadeira trapalhada, com a elaboração de um currículo com mentiras, nitidamente para sobrevalorizar o candidato que o governo escolheu, contra a decisão de um júri europeu independente, que indicou outro candidato.

A ministra da Justiça justificou este caso vergonhoso com “lapsos” e contra-atacou falando de “empolamento profundamente injusto de uma situação que é rigorosamente transparente.”

O Presidente da República considerou ter existido neste caso “”um desleixo lamentável”.

Resultado: cai o director-geral da Política da Justiça, não sem antes ter afirmado que a ministra teve conhecimento do documento enviado para Bruxelas com as informações sobre o procurador escolhido, José Guerra.

O ex-diretor-geral acrescenta que deve “reconhecer-se que houve duas informações erradas prestadas pela DGPJ por lapso de análise”.

Quanto à ministra, continua a merecer a confiança primeiro-ministro.

Estamos perante dois casos gritantes de irresponsabilidade política. Ou numa política de passa-culpas.

Como sugestão, em resultado destas decisões, talvez fosse melhor fazer um governo de directores-gerais. Seria, sem dúvida, mais barato e, pelos vistos, mais eficiente. Pelo menos seria claro quem é responsável pelas decisões tomadas.

Em nome de estranhas solidariedades, de amizades, a política afunda-se num pântano putrefacto.

Antevendo um “pântano”, António Guterres demitiu-se no final do ano de 2001. Não regressou à política em Portugal.

Quanto a António Costa, resistirá a provocar eleições antecipadas, tentando travar o desgaste evidente?

A pandemia já não é só uma grave crise sanitária. Atingiu a política, onde o uso de máscaras já faz parte, há muito, da atividade, assim como a lavagem de mãos, neste caso como Pilatos.

 

Jornalista