Como vê os dados de quarta-feira?
Os números de hoje [quarta-feira] não são surpresa para ninguém. Talvez surjam um bocadinho antes do que esperávamos, mas esta pandemia tem sido várias vezes mais rápida do que esperávamos. Mas não podemos chamar a estes números uma surpresa nem ao trimestre que iniciamos uma surpresa. Sabemos que será talvez o mais complicado, por três razões. Houve um aumento da circulação, ou seja, um desconfinamento significativo, na época pré e durante o Natal, que se reflete nos dados que estamos a ver. A positividade nos testes passou de 8% para 15% e isto não é de hoje, é de há dois, três dias. O RT subiu e está em 1,15, sendo superior a 1,1 em todas as administrações regionais de saúde. Não sabíamos quando ia ser 8 mil ou 10 mil, mas ia subir. Outra determinante para este trimestre ser complicado é o aparecimento de variantes, entre as quais a que tem sido mais falada, que tem uma transmissibilidade maior. E contrariamente ao que às vezes tem sido dito, não é o aumento da agressividade que, do ponto de vista social, é mais perigoso, é o aumento da transmissibilidade. Se o vírus fosse mais perigoso, mais letal, era uma má notícia para cada uma das pessoas que adquire o vírus. A nível individual, era pior, mas do ponto de vista social e coletivo, o que aumenta mais o número de hospitalizações, ocupação de UCI e mortes é a transmissibilidade, porque aumenta o número global de casos e, como a taxa de severidade se mantém, aumenta esses casos. O terceiro aspeto para este trimestre ser mais complicado é que houvera ou não pandemia ou desconfinamento, o inverno é sempre o período de maior fragilidade do SNS. É quando a sobrecarga é maior, há outras infeções respiratórias e o frio afeta outras doenças e os idosos.
Como vão ser estes próximos meses?
Temos uma boa notícia: sabemos que é o trimestre mais complicado mas, agora, temos esperança, porque temos vacinas e temos um plano vacinal. Vamos ter um trimestre de purgatório e, como em qualquer purgatório, usando essa imagem, sabemos que temos de portar-nos bem para no fim ganharmos o reino dos céus.
E digo isto porque para atravessarmos este tempo que leva à imunidade de grupo, muito provavelmente vamos ter outro período de confinamento mais significativo. Salvaguardar o serviço de saúde e os mais frágeis, provavelmente, só é possível se houver outro confinamento.
Já ou esperar?
A minha resposta a isso é a seguinte: em processos que são tendencialmente exponenciais, como as epidemias, a precocidade é, às vezes, mais importante que a perfeição. Atuar tarde é não ter resultados, habitualmente.