A bitcoin tem sido notícia: nas últimas semanas, a criptomoeda tem superado recordes e ontem atingiu mais um ao ter disparado 6% para os 35 842 dólares. O último recorde tinha sido atingido a 3 de janeiro, ao atingir os 30 mil dólares. Mas as subidas não têm sido constantes uma vez que, na segunda-feira passada, a moeda virtual afundou-se 17%, uma das maiores quebras registadas em meses. Feitas as contas, esta moeda digital já cresceu 800% desde março. Mas a que se devem estes recordes?
O analista sénior da ActivTrades explica ao i que “os ganhos recentes da bitcoin devem-se a compras de um grande número de moedas por parte de investidores institucionais, que estão a utilizar a criptomoeda como forma de fazer cobertura (hedging) ao risco de pressão inflacionista que eventualmente resulte das políticas monetárias muito acomodativas dos principais bancos centrais”. Por outras palavras, explica Ricardo Evangelista, “a inflação poderá vir a ser um efeito colateral destas políticas monetárias e da recuperação da atividade económica no pós-pandemia, podendo vir a gerar a desvalorização do chamado dinheiro fiat. Por estes motivos, alguns grandes fundos e investidores institucionais têm olhado para a bitcoin como uma das formas de se protegerem face ao risco da inflação”.
Também Henrique Tomé, analista da corretora XTB, relaciona estas subidas com o maior número de investidores. “A bitcoin, desde que conseguiu quebrar a barreira psicológica junto dos 20 mil dólares, tem vindo a prolongar o rally desde março e a intensificar os ganhos. O crescente interesse por parte dos investidores de retalho e a aposta por parte de grandes instituições têm vindo a impulsionar o preço em alta”, justifica o analista.
Questionados sobre se estes recordes serão para manter, os analistas questionados pelo i defendem que esta não é uma questão muito previsível, mas a expetativa é que sim. “Enquanto os níveis de procura por criptoativos continuarem elevados e a crescer, em particular a procura por bitcoin, podemos esperar que a tendência de alta seja para continuar”, diz Henrique Tomé, acrescentando que “o preço acaba por ser influenciado pela relação entre a procura e a oferta. Ora, não sendo a oferta de criptomoedas limitada, esta equação acaba por ter ainda mais peso neste tipo de ativos”.
Já Ricardo Evangelista defende que “é difícil prever o comportamento deste ativo”. Na opinião do analista da ActivTrades, “a lógica apontaria para a continuação dos ganhos. No entanto, a volatilidade da bitcoin, que depois de atingir o seu máximo histórico de 34 mil dólares caiu mais de 10%, para os 30 mil, sem que houvesse qualquer razão óbvia subjacente para tal, não me permite responder de forma clara. Tanto pode continuar a subir como cair de novo para menos de 20 mil dólares”.
Os ganhos dos últimos meses
A verdade é que a bitcoin se tem valorizado desde a sua criação, em 2009, mas nos últimos meses tem conseguido vários recordes. E o que poderá estar por trás dos ganhos dos últimos meses? “As razões continuam a ser o interesse de grandes fundos, que procuram fazer alguma proteção face ao risco inflacionista, mas também uma maior tração na economia real, especialmente depois de, em outubro, a PayPal ter passado a permitir a utilização de bitcoin”, diz Ricardo Evangelista, acrescentando que “esta combinação de fatores renovou o interesse de investidores mais pequenos e deu início a um período de euforia que culminou nos últimos dias com o atingir de vários novos máximos”.
Por outro lado, Henrique Tomé acredita que “existem vários fatores que poderão estar por detrás das recentes movimentações de alta, como o aumento da procura por parte de grandes instituições, que fez com que o mercado das criptomoedas voltasse a ganhar mais credibilidade entre os investidores. O facto de o preço ter conseguido romper a grande barreira junto dos 20 mil dólares também contribui para estes recentes movimentos de alta”, diz ao i.
É um bom investimento? Henrique Tomé não tem dúvidas: “Enquanto investidores, queremos sempre investir num ativo ao melhor preço. No caso da bitcoin, já deu para perceber que o facto de o preço estar caro ou barato é algo relativo pois, quando esta criptomoeda estava junto dos 18 mil/20 mil dólares houve quem achasse que estava caro, mas a verdade é que a cotação desta criptomoeda já valorizou mais de 40% desde então. No entanto, cada investidor deverá ter em conta o seu perfil de risco para tomar as melhores decisões”.
Ricardo Evangelista considera que esta moeda virtual “é um ativo muito volátil, ao ponto de ser difícil considerar um investimento”. Assim, o analista diz que “é ainda apenas um instrumento especulativo, com uma performance em grande parte determinada pela euforia ou pelo pânico. Um negociador que compre ou venda um grande volume de bitcoin pode ter um efeito nas emoções dos mercados e levar a mais subidas ou, então, a fortes quebras”.
Quanto aos cuidados a ter neste investimento, o analista é claro: é preciso “olhar para esta moeda virtual como um instrumento especulativo, e não como um investimento sólido”.
Já Henrique Tomé lembra que o mercado das criptomoedas está a ganhar novamente destaque, depois de muitos as terem considerado pouco credíveis depois das fortes correções no final de 2017, início de 2018. “Atualmente, o mercado é visto com outros olhos, mas aspetos como o facto de não existir um regulador poderão apresentar alguns entraves e colocar a bitcoin e as restantes criptomoedas sob pressão”.
O analista da XTB explica que qualquer investidor comum de retalho tem acesso ao mercado dos criptoativos através de um intermediário (corretora), onde o investidor terá acesso a este tipo de criptoativos que existem, para além da bitcoin.
Questionado sobre se os intermediários financeiros cobram comissão, Henrique Tomé explica que “todos os instrumentos financeiros são alvo de comissões que vão variando consoante o instrumento”. O caso das criptomoedas “é algo particular, pois os custos acabam por representar uma parte muito reduzida face ao potencial de ganho que este tipo de instrumento proporciona e devido à elevada volatilidade no mercado, que não é tão visível nos restantes”.
2021 em grande?
Só em 2020, a bitcoin valorizou 323% em dólares, e mais de 60 milhões por cento desde 2009. Ao brasileiro Seu Dinheiro, o analista de investimentos André Franco, responsável pela carteira Crypto Legacy – que acumula 798,1% de lucro nos últimos três anos com as moedas mais promissoras do mercado –, prevê que esta criptomoeda pode multiplicar-se até cinco vezes durante este ano.