Em Portugal, ao contrário da maioria dos países, os idosos estão excluídos da 1.ª fase de vacinação ao COVID-19. Salvo os residentes em lares ou os que padeçam de um conjunto de patologias muito restrito – nas quais não se inclui entre muitas outras, por exemplo, o cancro – , todos os demais idosos só poderão tomar a vacina após Abril, já englobados numa fase subsequente. Outros grupos, cujas funções não impõe riscos elevados de contágio na maioria dos casos, como a Polícia Marítima ou o SEF, disporão de 300.000 vacinas nesta fase.
Todos nos recordamos quando, no início de Dezembro, a propósito da exclusão dos idosos da vacinação na 1.ª fase, o primeiro-ministro refutou, com uma frase lapidar : “Há critérios técnicos que nunca poderão ser aceites pelos responsáveis políticos. Não é admissível desistir de proteger a vida em função da idade. As vidas não têm prazo de validade”.
É um erro crasso que vai custar vidas que não têm de ser perdidas.
Esta decisão trai o que consistentemente nos foi dito ao longo de meses e que as estatísticas atestam. Declarava-se ser impreterível proteger os mais idosos, por isso, mais vulneráveis e desprotegidos. Foi essa, e bem, a exigência ética de comportamento que nos foi imposta e os valores de proteção da vida pelo que a generalidade da nossa comunidade se guiou.
Quem morre vítima de COVID-19 são esmagadoramente pessoas de idade superior a 80 anos. A razão pela qual nos sujeitamos a tantos sacrifícios, transfiguramos as nossas vidas, toleramos o custo social e económico dessas medidas, não foi outra que não salvar pais e avós, um irrecusável dever com vista a preservar vidas. A decisão de excluir os idosos da prioridade máxima de vacinação despedaça brutalmente este consenso. Desrespeita o esforço coletivo e torna este pesadelo mais assustador.
Os argumentos utilizados para justificar esta opção são escabrosos, um deles, em particular. Sustentar-se que os idosos acima de 80 anos não devem ter prioridade porque só representam 9 por cento das camas de cuidados intensivos ocupadas é criminosamente próximo de ilustrar que vacinar idosos acima de 80 anos que representam mais 70 % das mortes é inútil porque o SNS não ganha nada com isso!
A nova estirpe da COVID-19 detetada no Reino Unido implicará o aumento exponencial do número de casos nos próximos meses, logo a sobrecarga dos serviços de saúde, para esta e outras patologias, bem como o número de óbitos. Vacinar depressa e em força é indispensável. Vacinar aqueles que podem perder a vida é impreterível.
Ainda vamos a tempo. Saibam reconhecer-se os erros e fazer o que é justo.
Deputado