Do bar que comemorou este ano o seu centenário não faltam histórias, das que se contam e das outras que ficam por contar. Das que ficaram escritas são bem conhecidas as de José Cardoso Pires, jornalista e escritor que numa das suas crónicas “De bar em bar”, no extinto O Jornal, o descrevia como o bar onde se reuniam “os patrões”. Acrescentava: “No English [reuniam-se] os patrões e chefes e no British o convívio era entre todos”. Mas era no Americano que tinha mesa cativa, segundo os relatos que chegam do seu tempo aos dias de hoje. Dias em que o Bar Americano, o histórico bar da Rua Bernardino da Costa, no Cais do Sodré, em Lisboa, comemorou o seu centenário, celebrado este ano, e em que encerrou.
A notícia foi ontem avançada pelo Público, mas foi já a 5 de outubro que pela última vez abriu portas, confirmou ao i o responsável pela exploração do espaço, José Carlos Barbosa, coproprietário do British Bar, localizado no outro lado da rua. O encerramento do espaço, como de todos os outros estabelecimentos que funcionavam no mesmo edifício, que ocupa todo o quarteirão (entre a Rua Bernardino da Costa, a Praça Duque da Terceira, a Travessa do Corpo Santo e a Ribeira das Naus), incluindo uma agência da Caixa Geral de Depósitos, deveu-se à compra do imóvel pela Patrizia, uma empresa de gestão de investimentos imobiliários que ao Público confirmou a sua intenção de o “transformar num hotel consonante com o passado glamoroso e a ambiência histórica do bairro, criando uma nova fonte de emprego para a economia local”. Quanto ao Americano:_“Vai ser ocupado novamente no futuro por um pequeno negócio local, plenamente alinhado com a história deste edifício emblemático”.
Inaugurado quase em simultâneo com o British Bar, do outro lado da rua, o Bar Americano, que na sua história contou com frequentadores assíduos como ainda Alexandre O’Neill ou Fernando Pessoa, era um dos mais icónicos e antigos bares do Cais do Sodré – foi a partir da sua designação, juntamente com a do British Bar, que outros espaços na zona então frequentada por marinheiros começaram a adotar nomes de cidades ou países distantes, como Copenhaga, Liverpool, Oslo, Tokyo, Texas, Roterdão ou Jamaica.
Desolado com o encerramento do Bar Americano, que explorou ao longo dos últimos 20 anos por via de um contrato de arrendamento, José Carlos Barbosa responsabiliza pelo encerramento do estabelecimento classificado como Loja com História pela Câmara de Lisboa o verdadeiro proprietário, Paulo Pereira, que o herdou do seu bisavô e com o qual o i não conseguiu chegar à fala. “O problema não foi o prédio ter sido vendido, foi a empresa ter sido vendida pelo proprietário. O Bar Americano era uma Loja com História. Se o proprietário quisesse, o Bar Americano não tinha fechado”.