2021, o ano da alternativa


O ano de 2020 trouxe uma governação condicionada a um fator chamado covid-19, fator esse que exigia sentido de responsabilidade dos que governavam e dos que devem fazer oposição.


Costumo recorrer a uma citação irónica do Dicionário do Diabo, do autor norte-americano, Ambrose Bierce que diz o seguinte: “o futuro é o único reduto do tempo em que tudo corre bem”.

Esta ironia que tem de ser desmistificada passando nós a ter no presente o reduto do tempo em que tudo muda para melhor. 2021 deve representar o início de um presente onde consigamos ultrapassar de vez esta pandemia que assombrou as nossas vidas.

O ano de 2020 trouxe uma governação condicionada a um fator chamado covid-19, fator esse que exigia sentido de responsabilidade dos que governavam e dos que devem fazer oposição.

No entanto o que vimos foi um executivo preocupado com a sobrevivência em vez de se preocupar com a construção de uma estratégia de recuperação eficaz da economia no curto prazo e com a preparação para os desafios e problemas estruturais do médio e longo prazo.

Quanto á oposição, elemento fundamental numa democracia saudável, teve a vida difícil uma vez que os tempos exigiam sentido de responsabilidade e isso dificulta as estratégias (responsáveis) de qualquer oposição séria.

O ano de 2020 não contou com muita eficácia neste campo, por constrangimentos aceitáveis causados pela pandemia, deixando o conflito que advém da defesa de posições e projetos diferentes em “stand-by”, favorecendo, de alguma forma, a maior credibilização do líder da oposição em Portugal e dando uns quantos balões de oxigénio ao líder do governo.

Mas em tempos difíceis são exigidos novos caminhos e novas alternativas e em 2021 tem de haver mais eficácia, tanto na governação como na oposição, que não deve adiar por mais tempo o confronto dos projetos para melhorar os caminhos futuros. Afinal, quem lidera a oposição já demonstrou ser responsável – no tempo certo – e agora o tempo é outro…é o tempo da alternativa presente.

Negar a natureza conflitual da política é negar a sua essência, portanto, 2021 tem de ser o ano em que romper consensos e apresentar projetos alternativos, se torne uma obrigação e um objetivo nacional. Defendi em vários textos e artigos que quem lidera deve assumir, de uma vez por todas, a diferença entre a maneira como se faz política e aquela como se deveria fazer.

É importante que os protagonistas abandonem de vez os costumes de atuação e prática política para, em contrapartida, fazerem o que tem e deve ser feito, derrubando as barreiras do imobilismo e da estagnação que uma (des)governação tacticista e de sobrevivência nos trouxeram.

Mas para mudar o paradigma é sempre exigido a coragem associada ao desprendimento do poder e estas duas qualidades, em simultâneo, estão ao alcance de muito poucos. As ruturas e os conflitos corajosos têm sempre riscos associados, e este novo tempo que 2021 trará é precisamente o tempo de assumir os riscos para mudar de rumo e levar Portugal a outro caminho sem esta incerteza e com esta crise crescente em que estamos e continuaremos mergulhados.

Em ano de Presidenciais e de Autárquicas temos de ter esperança que 2021 valorizará o pragmatismo estratégico dos líderes políticos que vejam para além da miopia imposta pelos seus mandatos partidários e pela sobrevivência, não deles, mas sim de alguns que gravitam à sua volta e se alimentam, quer hajam vitórias ou derrotas.

2021 tem de ser o ano em que quem pode representar uma verdadeira alternativa esteja mais preocupado com a eficácia da sua ação do que com o cumprimento de directrizes ideológicas ou de objetivos de sobrevivência política de médio prazo.

Este novo ano deve servir para motivar vontades, mobilizar energias, fazer ruturas nuns momentos e ser conciliador noutros. Só dois homens têm espaço para representar esta esperança no curto prazo…António Costa e Rui Rio. No entanto, só um deles será eficaz.

Para António Costa os indicadores positivos parecem estar a acabar e o reconhecimento do novo amor com o PCP e o divórcio com o BE revelam a possibilidade do início de uma instabilidade estruturalmente fragilizante para este governo que levará ao seu desgaste e, eventualmente, à sua queda.

Já para o líder da oposição, Rui Rio, este pode ser o ano de início das conquistas (que são urgentes), tendo nas presidenciais e nas autárquicas dois objetivos muito importantes para o reforço da alternativa credível, que só o PSD pode apresentar aos portugueses.

É urgente que o PSD volte a ter condições para regressar à esfera do poder, para bem da governação e do país por um lado, e por outro lado, para bem do reforço do próprio partido que é estrutural na democracia portuguesa.

Como concluiu o ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, quando se referia á sobrevivência das oposições, “o poder desgasta, sobretudo quando não se tem”. Se alguém precisa de uma oposição e alternativa cada vez mais forte, saudável e sem desgaste é Portugal…Disto nenhum líder se pode esquecer.

 

Rodrigo Gonçalves

Gestor e Mestre em Ciência Política

2021, o ano da alternativa


O ano de 2020 trouxe uma governação condicionada a um fator chamado covid-19, fator esse que exigia sentido de responsabilidade dos que governavam e dos que devem fazer oposição.


Costumo recorrer a uma citação irónica do Dicionário do Diabo, do autor norte-americano, Ambrose Bierce que diz o seguinte: “o futuro é o único reduto do tempo em que tudo corre bem”.

Esta ironia que tem de ser desmistificada passando nós a ter no presente o reduto do tempo em que tudo muda para melhor. 2021 deve representar o início de um presente onde consigamos ultrapassar de vez esta pandemia que assombrou as nossas vidas.

O ano de 2020 trouxe uma governação condicionada a um fator chamado covid-19, fator esse que exigia sentido de responsabilidade dos que governavam e dos que devem fazer oposição.

No entanto o que vimos foi um executivo preocupado com a sobrevivência em vez de se preocupar com a construção de uma estratégia de recuperação eficaz da economia no curto prazo e com a preparação para os desafios e problemas estruturais do médio e longo prazo.

Quanto á oposição, elemento fundamental numa democracia saudável, teve a vida difícil uma vez que os tempos exigiam sentido de responsabilidade e isso dificulta as estratégias (responsáveis) de qualquer oposição séria.

O ano de 2020 não contou com muita eficácia neste campo, por constrangimentos aceitáveis causados pela pandemia, deixando o conflito que advém da defesa de posições e projetos diferentes em “stand-by”, favorecendo, de alguma forma, a maior credibilização do líder da oposição em Portugal e dando uns quantos balões de oxigénio ao líder do governo.

Mas em tempos difíceis são exigidos novos caminhos e novas alternativas e em 2021 tem de haver mais eficácia, tanto na governação como na oposição, que não deve adiar por mais tempo o confronto dos projetos para melhorar os caminhos futuros. Afinal, quem lidera a oposição já demonstrou ser responsável – no tempo certo – e agora o tempo é outro…é o tempo da alternativa presente.

Negar a natureza conflitual da política é negar a sua essência, portanto, 2021 tem de ser o ano em que romper consensos e apresentar projetos alternativos, se torne uma obrigação e um objetivo nacional. Defendi em vários textos e artigos que quem lidera deve assumir, de uma vez por todas, a diferença entre a maneira como se faz política e aquela como se deveria fazer.

É importante que os protagonistas abandonem de vez os costumes de atuação e prática política para, em contrapartida, fazerem o que tem e deve ser feito, derrubando as barreiras do imobilismo e da estagnação que uma (des)governação tacticista e de sobrevivência nos trouxeram.

Mas para mudar o paradigma é sempre exigido a coragem associada ao desprendimento do poder e estas duas qualidades, em simultâneo, estão ao alcance de muito poucos. As ruturas e os conflitos corajosos têm sempre riscos associados, e este novo tempo que 2021 trará é precisamente o tempo de assumir os riscos para mudar de rumo e levar Portugal a outro caminho sem esta incerteza e com esta crise crescente em que estamos e continuaremos mergulhados.

Em ano de Presidenciais e de Autárquicas temos de ter esperança que 2021 valorizará o pragmatismo estratégico dos líderes políticos que vejam para além da miopia imposta pelos seus mandatos partidários e pela sobrevivência, não deles, mas sim de alguns que gravitam à sua volta e se alimentam, quer hajam vitórias ou derrotas.

2021 tem de ser o ano em que quem pode representar uma verdadeira alternativa esteja mais preocupado com a eficácia da sua ação do que com o cumprimento de directrizes ideológicas ou de objetivos de sobrevivência política de médio prazo.

Este novo ano deve servir para motivar vontades, mobilizar energias, fazer ruturas nuns momentos e ser conciliador noutros. Só dois homens têm espaço para representar esta esperança no curto prazo…António Costa e Rui Rio. No entanto, só um deles será eficaz.

Para António Costa os indicadores positivos parecem estar a acabar e o reconhecimento do novo amor com o PCP e o divórcio com o BE revelam a possibilidade do início de uma instabilidade estruturalmente fragilizante para este governo que levará ao seu desgaste e, eventualmente, à sua queda.

Já para o líder da oposição, Rui Rio, este pode ser o ano de início das conquistas (que são urgentes), tendo nas presidenciais e nas autárquicas dois objetivos muito importantes para o reforço da alternativa credível, que só o PSD pode apresentar aos portugueses.

É urgente que o PSD volte a ter condições para regressar à esfera do poder, para bem da governação e do país por um lado, e por outro lado, para bem do reforço do próprio partido que é estrutural na democracia portuguesa.

Como concluiu o ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, quando se referia á sobrevivência das oposições, “o poder desgasta, sobretudo quando não se tem”. Se alguém precisa de uma oposição e alternativa cada vez mais forte, saudável e sem desgaste é Portugal…Disto nenhum líder se pode esquecer.

 

Rodrigo Gonçalves

Gestor e Mestre em Ciência Política