TAP – Alguém acredita nisto?


Os portugueses estão a ser confrontados com o pesadelo TAP.


3,7 mil milhões de euros ao longo dos próximos quatro anos que voam dos seus bolsos, o maior despedimento coletivo público de que há memória, a dúvida sobre se a operação de reestruturação é remédio para pôr cobro a prejuízos crónicos e antídoto que garanta que nunca mais se exija aos contribuintes tamanho esforço.Este é o preço da pandemia, mas não apenas da pandemia. É o preço da paralisação da aviação, mas não só. É o custo de uma gestão política caótica, uma galeria de horrores que retrata o Estado como grosseiramente inepto para gerir a empresa. Mas é também o custo – o custo dos últimos 5 anos – em que o Governo, de todas as formas, transformou a TAP num terreno de batalha campal, com prejuízos para a empresa, os seus trabalhadores e as sua condições de vingar num mercado vorazmente competitivo.

É o custo de um Governo que reverteu a privatização, reduziu as regras de interesse estratégico e fiscalização da ação do privado a pó, trouxe os riscos para o perímetro público, deixou o privado a seu bel prazer incentivando-o a correr riscos desmesurados e , ainda lhe ofereceu, de permeio, cláusulas leoninas, no valor de muitos milhões de euros, que lhe permitiram sair da TAP com um para-quedas dourado, saltando do avião, ao mesmo tempo que os contribuintes, os trabalhadores continuam lá dentro, reféns, enquanto o avião se despenha.

Foi esta encenação aberrante, em que o Governo fingiu que controlava a TAP por exclusiva conveniência partidária, uma mesquinha operação de cosmética que empurrou a TAP para uma situação insustentável e faz subir a conta que nos apresentam agora.

Só isso explica que venham dizer agora que a TAP foi mal gerida ao longo dos últimos 4 anos e, ainda que o Estado detivesse a maioria do capital social, nada tenham feito ao longo desses 4 anos.

Nada fizeram porque, deliberada e conscientemente, se colocaram na posição de nada poder fazer. Nada fizeram porque para o Governo, para o PS, mais vale parecer do que ser, e bastava-lhes parecer que mandavam, um triste exercício que mina a confiança dos portugueses e desprestigia o exercício de cargos públicos.

E ainda se atreveram, após tudo isto, a ostentar a saída do sócio-privado – já agora, o único dos accionistas com os seus defeitos que sabia alguma coisa de aviação – com um estrondoso o povo paga, o povo manda, em mais uma bacoca manifestação populista, acompanhada do competente cheque de 55 milhões de euros, num momento em que ninguém recebe um tostão para sair de uma empresa de aviação. O povo paga, o povo manda.

Pois paga, 3,7 mil milhões sem qualquer garantia de que se altera o paradigma de funcionamento da empresas, a sua cultura, as condições políticas, económicas que a podem libertar de sucessivos desastres. 3,7 mil milhões sem cuidar de avaliar alternativas e limitando-se a assinalar que a empresa é estratégica. 3,7 mil milhões sem que a Assembleia da República, os representantes desse povo que paga e manda, conheçam sequer o plano que vai ser objeto de negociação em Bruxelas. 3,7 mil milhões sem garantia, para aqueles que pagam e mandam, que daqui por quatro anos a empresa não vai à falência porque o Estado já não vai poder colocar mais dinheiro devido às regras europeias e tudo isto foi tudo em vão…

3,7 mil milhões sem que se apresentem medidas que conduzam à eficiência, que acabem com as indemnizações por atrasos, que eliminem custos com fretamento de aviões, resumindo todas e quaisquer responsabilidades nos trabalhadores que demonizam na praça pública, ignoram na solução, e a seguir querem paz social para que seja possível cumprir objetivos.

São estes portugueses que pagam e mandam que viram o Governo abdicar de defender a TAP junto da Comissão Europeia, cedendo, sem resistência, a que empresa ficasse à margem das regras COVID. Os portugueses estão como aqueles passageiros da celebre comédia em que que um piloto com medo de voar e um problema de alcoolismo assume um avião deagovernado… só que neste caso, quando se dirige aos passageiros diz “ daqui fala El Comandante”.

Este é um manual de como não se está à altura de gerir um processo desta natureza. E, com este cadastro, com o historial de erros clamorosos cometidos pelo Governo, é difícil que alguém acredite que o Governo vai conseguir recuperar a empresa.

É imperioso que se assegure que este não vai ser mais um elefante branco. Este é o dinheiro dos portugueses que nenhuma palavra tiveram a dizer sobre o tema, e que pagam quase tanto quase tanto como todas as outras 400000 empresas do país vão receber a fundo perdido em 2020 e 2021.

Deputado