Presente


Um simples presente, aparentemente insignificante, pode-se tornar-se a dádiva mais valiosa.


Pareceu-me oportuno falar acerca da época festiva que se aproxima. Em breve festejaremos o Natal e cada um por certo viverá o momento partindo de diferentes pontos de vista. Seja qual for o sentido que se lhe dê, acabamos por nos rodear de prendas e presentes incapazes de parar para pensar no seu possível significado. Haverá, pois, diferença entre oferecer uma prenda e oferecer um presente? Eis o meu ponto de vista.

Desejamos ser lembrados pelas pessoas que nos são queridas. Mesmo sabendo que estas dificilmente nos esqueceriam, em datas especiais como aniversários e Natal, oferecemos algo que suscite a lembrança. Foi precisamente por essa razão que se “inventaram” os presentes – para que, ao olhá-los ou tocá-los, a magia da lembrança acontecesse.

Referir a palavra “presente” pode significar tempo, presença ou oferta.

A ideia mais profunda, poderá estar enraizada num pedido que fazemos consciente ou inconscientemente dizendo “lembra-te de mim”. Quem sabe se não era exatamente este o sentido que os magos guardavam no seu coração ao oferecer presentes ao menino – ouro, incenso e mirra. Um pedido tão simples e tão profundo – Jesus, lembra-te de mim.

Jesus terá sido recebido no meio dos homens com amor, carinho e presentes. Amor dos pais, presentes dos homens e carinho de todos. A humanidade pediu-lhe – na pessoa dos magos e dos pastores – que a recordasse.

Como se de ironia se tratasse, o último momento da vida deste mesmo menino está descrito na Bíblia com o mesmo sentido quando um dos condenados, crucificado ao seu lado lhe diz “Jesus, no teu reino lembra-te de mim”. Tudo “acabou” como começou: um pedido de lembrança.

Na interpretação cristã, Deus amou-nos de tal modo que nos deu como presente o seu próprio Filho, fazendo-se presente. Terá sido intenção de Deus dizer à humanidade “Homens, lembrem-se de mim!”?

Quero acreditar que é exatamente este o sentido que queremos dar às nossas ofertas.

Que diferença faz o preço, a qualidade ou o material de que é feito, quando é oferecido com amor? Podemos oferecer um objeto nosso. Recebeu o nosso toque e dedicámos-lhe o nosso tempo.

Um simples presente, aparentemente insignificante, pode-se tornar-se a dádiva mais valiosa. Por ter sido nosso é parte da nossa vida e isso confere-lhe valor. Aprendamos a fazermo-nos presentes de forma extraordinária e absolutamente original.

Quanto às prendas, objetos comerciais que valem pelo seu preço, mergulham num vazio que se esgota em si mesmo, parecendo-me que sobre elas poucas considerações haveria a tecer.

Se escrever ao Pai Natal, talvez lhe venha a pedir que não trabalhe este ano; que deixe que cada um de nós faça o seu trabalho com amor. Talvez termine a minha carta escrevendo “Obrigado pela intenção, Pai Natal, mas, este ano não precisamos de ti.

 

Professor e investigador