Presidenciais. Os alvos em pré-campanha  são Marcelo e o Chega

Presidenciais. Os alvos em pré-campanha são Marcelo e o Chega


Ana Gomes e Marisa Matias atiram-se a partido fundado por André Ventura e não poupam atuação do Presidente na solução governativa nos Açores.


A ilegalização do Chega entrou definitivamente na campanha eleitoral das presidenciais com dois focos; um, o do ataque ao partido fundado por André Ventura, outro, o de críticas ao atual Presidente da República por, ao aceitar a solução governativa regional dos Açores, ter dado respaldo àquela força política.

Ana Gomes, candidata presidencial, assegurou, na passada segunda-feira à noite, em entrevista à TVI, que se for eleita Presidente da República, dirigirá uma “ mensagem à Procuradora-Geral da República pedindo uma reapreciação da legalidade do Chega, não apenas pelo programa, mas também pela sua prática reiterada, xenófoba, racista, violenta”. Ora, a PGR tem uma delegação no Tribunal Constitucional para fazer as diligências necessárias a essa reavaliação. Tanto Ana Gomes, como a sua adversária Marisa Matias, candidata presidencial apoiada pelo BE, garantiram que não dariam posse a um executivo com o Chega. Marisa Matias assegurou ontem, em entrevista à Rádio Observador, que tal decisão “seria o Presidente a cumprir a Constituição”. Ambas lembraram nas entrevistas o exemplo da chanceler alemã Angela Merkel, que avançou com um cordão sanitário político em relação a forças de extrema-direita. Ana Gomes, por exemplo, considerou o Chega “claramente, é um partido com um discurso xenófobo e racista e tem sobretudo um propósito de destruir a democracia”. E prometeu fazer juízo político sobre o partido de André Ventura, caso seja eleita. Ora, Ventura também é candidato presidencial. Foi, aliás, o primeiro a assumi-lo, e entrega sexta-feira as assinaturas no Tribunal Constitucional para formalizar a corrida a Belém.

A ex-eurodeputada socialista Ana Gomes também foi confrontada com o seu percurso inicial no MRPP. “Foi um partido que esteve do lado certo do 25 de novembro de 1975 com as forças que evitaram um golpe totalitário. E foi a seguir a isso que eu saí por causa de uma atitude descrente em relação ao 25 de abril. Eu achava que o 25 de abril era a promessa de democracia e que valia a pena apostar nisso e foi por isso que eu me afastei em janeiro de 1976 do MRPP. E não me arrependo de ter sido militante do MRPP. Hoje, haveria muitas coisas que não voltaria a fazer, mas foi uma grande escola de cidadania”, defendeu Ana Gomes.

Por seu turno, Marisa Matias ainda foi questionada sobre a relação entre o PS e o Bloco de Esquerda. Para a também eurodeputada do BE, o “PS não deixou de ser de confiança, nem o Bloco cortou relações de forma definitiva com o PS”. Em resposta às críticas do primeiro-ministro sobre o facto de o BE se ter posto “ao fresco” perante as dificuldades do momento e votar contra o Orçamento de 2021, disse: “Prefiro fazer parte desta decisão do que de um partido que não assume as suas decisões por medo da perda eleitoral que pode vir a ter”.

Por seu vez, João Ferreira voltou ontem a defender uma velha bandeira do PCP, a da regionalização, e apontou baterias a Marcelo Rebelo de Sousa, acusando-o de bloquear o processo “pelo que fez e não fez, mas até atendendo ao seu histórico de intervenção a este respeito ainda antes de ser Presidente da República”. O candidato presidencial dos comunistas falou no final de um encontro com o conselho diretivo da Associação Nacional de Municípios Portugueses. “Esperar-se-ia da parte de quem tem por missão a obrigação de defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição, uma atitude mais interventiva de se concretizar este preceito constitucional”, argumentou João Ferreira sobre o processo da regionalização e o papel do atual Presidente da República.

As eleições presidenciais realizam-se a 24 de janeiro.