O CDS e os piratas


O CDS de hoje já não vai à luta. Como os piratas das aventuras de Astérix, afunda-se a si próprio com medo do confronto.


1. O CDS de hoje, tal como o de Assunção Cristas, faz lembrar os livros de aventuras de Astérix e Obélix. Isto porque, exatamente como os piratas criados por Goscinny e Uderzo, o CDS deixou, a partir de certa altura, de avançar para a batalha. Em vez disso, os centristas afundam o seu próprio barco, para evitar tabefes e humilhações. O CDS, como os piratas, trata de se autodestruir. Os militantes ativos do CDS, estejam ao leme ou na oposição interna, vivem no pavor do Chega de Ventura, no receio do Iniciativa Liberal e na esperança do regaço e do colinho que o PSD possa dar-lhes amanhã, a fim de apanharem umas migalhas de poder, a partir do qual renasceriam.

Mete dó olhar para o CDS e recordarmos que, logo a seguir ao 25 de Abril, foi um partido que valeu 14%. Mete dó verificar que um partido personalista, democrata cristão e com uma corrente interna liberal não extremista não consegue minimamente impor-se, apresentar um plano, um projeto, uma estratégia para o progresso de Portugal que mobilize parte da sociedade. Dir-se-á que já lhe aconteceu várias vezes, mas a diferença está em que, na altura, os votos do CDS transferiam-se para o PSD, enquanto agora vão para o Chega e a Iniciativa Liberal, o que faz toda a diferença. O CDS dos últimos tempos é uma inexistência, um saco de gatos e uma porta escancarada para a direita mais radical entrar e se instalar confortavelmente no Parlamento, em 2023.

Rodrigues dos Santos, a sua equipa, o grupo parlamentar do CDS, as suas figuras mais conhecidas, estejam ou não com a liderança, o eurodeputado Nuno Melo e por aí fora não são capazes de se unir e mobilizar quem quer que seja, num país relativamente conservador, cristão e moderado. O CDS anda à babugem dos sociais-democratas, que agradecem porque, tal como nos Açores, podem amanhã vir a precisar de uma pequena percentagem que os centristas obtenham para formar governo. Quando muito, o CDS é hoje um símbolo para pôr num cartaz ou num boletim de voto de uma coligação.

A maneira mais fácil de fingir que se quer fazer alguma coisa do CDS é atacar o seu líder e a sua equipa. De facto, Francisco Rodrigues dos Santos desenvolve uma liderança fraca, errática e até anedótica. Mas os seus opositores atuais, os seus predecessores e, possivelmente, os seus sucessores dificilmente terão a qualidade para fazer renascer um CDS pujante. Há, no entanto, figuras que passaram pelo partido que têm grande qualidade e seriam capazes de ajudar a uma refundação, dando-lhe conteúdo que deixou de ter, beneficiando assim a oferta populista à direita. No passado fim de semana, Bagão Félix, um companheiro de estrada não militante do CDS, deu pistas claras sobre o caminho possível para a regeneração. Numa entrevista à RTP, mostrou que o Chega é um fenómeno que não já não pode ser ignorado e descartado totalmente pela direita, optando pela tática de o ‘domesticar’, impondo-lhe limites no que definiu como linha alaranjada. Foram palavras sábias que, eventualmente, não teriam de ser ditas se o CDS não tivesse entrado num caminho suicidário e possivelmente irreversível.

2. Os nossos CTT, versão privatizada, são uma lástima para os utentes. Na Rua Filipe Folque, em Lisboa, havia uma estação magnífica, com espaço, arejada e recentemente remodelada. A clientela sentia-se lá bem, apesar do ar rebarbativo do responsável da parte bancária. De um dia para o outro, literalmente, a estação fechou e mudou-se para instalações a cerca de 50 metros. O espaço tem para aí um terço do anterior, os clientes ficam à porta (embora debaixo de umas arcadas), lá dentro é difícil guardarem a distância de segurança. Perderam espaço e o vírus, certamente, não se queixa. A política dos atuais gestores dos correios, o fecho sucessivo de estações e postos deixa inacreditavelmente saudades dos velhos CTT, para não falar dos CTT/TLP, antes e depois dos tempos do liberalismo. É obra, porque eles funcionavam mesmo muito mal!

3. As autoestradas portuguesas vão de mal a pior. O recente acidente que custou a vida a uma jovem de 21 anos e chocou muitos portugueses deveria servir para promover uma investigação ao muito que se passa nessas vias, às circunstâncias de alguns acidentes e a encontros imprevistos. A Brisa, por exemplo, é exímia em casos. Só numa família foi possível, no verão passado, um dos membros colidir com uma raposa, outro evitar à justa o choque com uma vitela (ou vitelo) e ainda um terceiro atropelar dois gatos. Todos os animais estavam na via. O mais lamentável é que, a certas reclamações, a empresa responde que não detetou nada, mesmo perante a demonstração de provas evidentes. Realmente, não há mais cego do que aquele que não quer ver. Outra situação diz respeito a troços de largos quilómetros inoperacionais na sua plenitude, como ainda há dias acontecia na autoestrada que liga à Ericeira. Todavia, chega-se à portagem e, com tanta informática, paga-se o percurso sem qualquer dedução. Agora que António Pires de Lima (uma referência do CDS e supostamente um gestor competente) é um dos homens fortes das autoestradas em Portugal, está para se ver se é capaz de moralizar um bocado as coisas ou se é mais tipo “Olívia patroa e Olívia empregada”, lá colocado para sacar dinheiro em vez de zelar prioritariamente pela qualidade do serviço. Um caso a acompanhar. Não basta proclamar que as autoestradas são as vias mais seguras (o que é óbvio). Há muitos outros parâmetros a analisar, como bem sabem, mas não dizem, alguns peritos em segurança rodoviária.

 

Escreve à quarta-feira