Passei, à semelhança de outros pais, por um daqueles dias em que nos lembramos de renovar o quarto das crianças.
Porque lhes desejamos o melhor, decoramos e organizamos o seu pequeno reino segundo os nossos próprios critérios de utilidade, conforto e diversão até ao dia em que hão de rejeitar as nossas vontades para assumirem o pleno controlo do seu espaço.
A certa altura da arrumação encontrei dentro de uma arca, entre outros jogos, o Monopoly. Este é, desde há perto de cem anos, um jogo de tabuleiro muito popular com o qual muitos de nós jogámos horas sem fim.
Dizem os especialistas que habitualmente não o terminamos porque inventamos, alteramos ou não cumprimos as regras à risca.
Parece-me que a forma como jogamos Monopoly revela muito de nós. Durante o jogo é possível distinguir os poupados dos esbanjadores, os estrategas dos desorganizados, os ingénuos dos vigaristas.
Aparentemente traduz um ponto de vista que não é de todo um espelho do capitalismo. Primeiro porque todos arrancam numa posição de igualdade, segundo porque os nossos passos avançam ao ritmo dos dados e da sorte que, ora nos fazem sorrir ora nos fazem zangar e terceiro porque nos vemos obrigados a negociar com o adversário diante de todos.
O dinheiro faz parte do nosso quotidiano mas, antes da sua existência, a Humanidade sobrevivia à custa de troca direta de produtos e serviços. Porém tudo mudou quando a certa altura o dinheiro passou a ser a principal forma de pagamento. Todos passaram a geri-lo com mais ou menos responsabilidade, dele se tornando reféns.
O dinheiro compra objetos, produtos e serviços mas não compra tudo. Não compra principalmente as coisas mais importantes da vida. Porque não se aprende na escola a geri-lo, aqui ficam quatro dicas fundamentais:
Não gastar mais do que o que se tem; juntar um fundo de poupança; gastar só no que é necessário; gastar apenas o que é nosso.
Os melhores gestores são os que mais poupam e não os que mais ganham. Mas se soubermos amealhar, há três máximas a não esquecer:
O dinheiro está ao meu serviço e não o contrário; ter dinheiro não me transforma numa pessoa melhor; saber partilhar o que tenho, trás-me mais felicidade do que querer o que pertence aos outros.
Por toda esta complexidade acabei por não deixar o jogo no quarto das crianças. O gesto pareceu-me demasiado perigoso, por enquanto. As peças são pequenas, eles não percebem as regras e provavelmente acabariam por rasgar as notas. Mesmo assim não resisti à tentação de os deixar experimentar. Afinal, os dois pequeninos divertiram-se muito a brincar com os peões, com as casas, com os hotéis e com os dados.
Por instantes percebi que o jogo deles era outro, muito mais divertido e do qual nenhum sairia vencedor ou derrotado. Brincar com ao Monopoly sem usar dinheiro é de génio.
Professor e investigador